Convidada a
escrever sobre mim, fecho os olhos e com a mente fervilhante não me surge
palavra alguma. Tão mais fácil olhar para fora e sentir-se com o poder de
analisar tudo, ver as coisas como são e as pessoas com qualidades e defeitos.
Não desisto fácil e um espelho procuro. Ainda não me reconheço com o novo corte
de cabelo, tampouco me vejo uma mulher adulta. As espinhas no meu rosto e a
falta de marcas me soam tão adolescentes, tão cheia de experiências a viver e
universos a descobrir. Convoco a memória e nem meu casamento recente, a
conclusão da faculdade prestes a acontecer e os sonhos a se realizarem me dizem
algo a ser escrito sobre o herói que sou. Finalmente volto aos anos na escola e
vejo um caminho digno de ser lido.
Ainda sou uma
menina que ontem escrevia suas primeiras letras a giz. Ainda prefiro o lápis à
caneta e preciso pensar com cuidado em algumas letras. Desejo ardentemente que me
leiam, quero ensinar o que venho aprendendo e saber que ajudei. Vejo desenhos
nas bordas dos cadernos e o capricho diminuindo com o passar das páginas. Há
folhas em branco de dias que não estive ali, dias em que um garoto me tirou a
atenção, uma gripe mal curada ou o braço enfaixado.
Houve sempre
uma pessoa lá na frente, uma voz doce ou firme, geralmente feminina. Paciente a
voz me ensinou os números e eu com facilidade os abandonei, mostrou-me mapas
que nunca dominei, explicou-me sobre plantas, bichos e gente, mas muito pouco
ficou, contou-me histórias passadas e apenas as mais criativas guardei com
carinho, até movimentos pediu que eu fizesse, mas atrás do caderno me sinto
melhor. Confesso que as vozes me inspiraram, mas enquanto as ouvia os outros
ouvintes eram mais atrativos e divertidos. Ah, como eu falava. (Ops, falo.)
Ainda aprendo sem total atenção, gosto mais da sensação de que estou ensinando.
Sei que é sempre mentira, mais aprendo que ensino, e não sou boba, jamais irei
negar.
Acontece que
todos já sabiam, há um espírito de liderança, uma facilidade em compreender,
uma estrela que iluminava mesmo quando me esforçava para me manter calada.
Algumas vezes achei que se tratava de castigo, não devia ser assim, melhor
passar despercebida a ser vista com maus olhos. Ainda assim não conseguia,
estava em mim, era parte significativa e indestrutível. Trouxe-me até aqui.
Ana Kita
*Texto para a disciplina de Intertextualidade e Estudos Literários do Curso de Letras, com o tema "Que herói sou eu?".
P.S.: Convido a todos para conhecerem meu blog acadêmico: http://aprendizeducadora.blogspot.com.br/ Sejam bem-vindos numa viagem de exploração pelo mundo da Educação!
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