quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Aprendiz ensinante*

Convidada a escrever sobre mim, fecho os olhos e com a mente fervilhante não me surge palavra alguma. Tão mais fácil olhar para fora e sentir-se com o poder de analisar tudo, ver as coisas como são e as pessoas com qualidades e defeitos. Não desisto fácil e um espelho procuro. Ainda não me reconheço com o novo corte de cabelo, tampouco me vejo uma mulher adulta. As espinhas no meu rosto e a falta de marcas me soam tão adolescentes, tão cheia de experiências a viver e universos a descobrir. Convoco a memória e nem meu casamento recente, a conclusão da faculdade prestes a acontecer e os sonhos a se realizarem me dizem algo a ser escrito sobre o herói que sou. Finalmente volto aos anos na escola e vejo um caminho digno de ser lido.
Ainda sou uma menina que ontem escrevia suas primeiras letras a giz. Ainda prefiro o lápis à caneta e preciso pensar com cuidado em algumas letras. Desejo ardentemente que me leiam, quero ensinar o que venho aprendendo e saber que ajudei. Vejo desenhos nas bordas dos cadernos e o capricho diminuindo com o passar das páginas. Há folhas em branco de dias que não estive ali, dias em que um garoto me tirou a atenção, uma gripe mal curada ou o braço enfaixado.
Houve sempre uma pessoa lá na frente, uma voz doce ou firme, geralmente feminina. Paciente a voz me ensinou os números e eu com facilidade os abandonei, mostrou-me mapas que nunca dominei, explicou-me sobre plantas, bichos e gente, mas muito pouco ficou, contou-me histórias passadas e apenas as mais criativas guardei com carinho, até movimentos pediu que eu fizesse, mas atrás do caderno me sinto melhor. Confesso que as vozes me inspiraram, mas enquanto as ouvia os outros ouvintes eram mais atrativos e divertidos. Ah, como eu falava. (Ops, falo.) Ainda aprendo sem total atenção, gosto mais da sensação de que estou ensinando. Sei que é sempre mentira, mais aprendo que ensino, e não sou boba, jamais irei negar.


Acontece que todos já sabiam, há um espírito de liderança, uma facilidade em compreender, uma estrela que iluminava mesmo quando me esforçava para me manter calada. Algumas vezes achei que se tratava de castigo, não devia ser assim, melhor passar despercebida a ser vista com maus olhos. Ainda assim não conseguia, estava em mim, era parte significativa e indestrutível. Trouxe-me até aqui.

Ana Kita 

*Texto para a disciplina de Intertextualidade e Estudos Literários do Curso de Letras, com o tema "Que herói sou eu?". 

P.S.: Convido a todos para conhecerem meu blog acadêmico: http://aprendizeducadora.blogspot.com.br/ Sejam bem-vindos numa viagem de exploração pelo mundo da Educação!

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