terça-feira, 21 de agosto de 2012

Carta ao pai 22: Felicidade e saudade

Joinville, 21 de agosto de 2012.

        Pai, que saudade de falar contigo, visitá-lo, assistir filmes juntos, acabar dormindo. A saudade bateu tão forte hoje, pai, que eu suportaria nossos passeios de carro sem destino, até uma viagem de bate e volta para a praia (voltando cheios de areia, como sabe que eu detesto). Engraçado como depois que tudo passa, só fica a saudade. Saudade de ter vergonha de dizer que estou com fome, ou de que já quero ir embora. Saudade de ficar imensamente feliz porque fez panquecas ou macarronada pensando em mim. Saudade até de ficar com mais saudade porque o cardápio seria buxada. Saudade de encontrá-lo, de festejar contigo. Saudade de saber que chegará, ainda que atrasado.
        Ah, pai, completei 20 anos, fiquei noiva, estou morando com o futuro pai dos meus filhos. Tenho um carro e estou começando a dirigir. Comprei um coelho, demos o nome de Tuik, e o adoro. Pai, tudo isso é tão bom e me deixa tão feliz, mas mesmo no melhor dos momentos sinto sua falta, talvez especialmente neles. Como queria compartilhar tudo isso com você, ver seu sorriso e sentir seu abraço. Sabe aquele seu jeito de perguntar sobre meu futuro, ah, pai, você parecia o único que acreditava nos meus sonhos mirabolantes. Eu estou mesmo cursando Letras, não em Minas Gerais, nem com habilitação também em espanhol. Não publiquei nenhum livro ainda, mas já fui revisora de dois (um terceiro a ser publicado em breve) e já tenho um artigo publicado em Anais. Não fui morar sozinha, nem já sou mãe. Acontece que sonhar já era muito bom e viver - mesmo que cheio de adaptações - é maravilho, pai. Só falta você. Parece melancólico demais, mas a verdade é que falta mesmo você. Eu faço um projeto de Iniciação Científica sobre a morte na literatura e mesmo tendo tantas fundamentações teóricas, penso simplesmente que você devia estar aqui. Não é que eu mesma não compreenda a finitude da vida, ou não possa entender que há razões ocultas nisso tudo. Não é que eu não saiba que você está bem e que todos nós também ficaremos - inclusive estou muito feliz, pai. Acontece que a saudade é um pisca sempre acesso, especialmente por você. Fica piscando sem parar nos dias de sol e também nos de chuva, parece sirene policial nas datas comemorativas e agora parece até que vibra.
        Eu o amo muito, pai. E só queria dizer que estou muito bem, ainda que com saudade. (Um lágrima escorre pelo meu rosto e lembro que não preciso disfarçar.)

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A noiva

"Vem me fazer feliz, porque eu te amo..."

        Não vem nenhuma noiva toda de branco, mas estou aqui. Ontem mais de preto que de branco, aliás no dia do noivado (11 de agosto) também, e hoje de azul. Ah, tudo azul! Sem céu estrelado, já bastavam as estrelas de nossos olhos apaixonados, mas com aquele brilho, aquele sorriso de família - agora famílias - reunida. Era pra comemorar meus 20 anos, e acabou que só pensei em nosso noivado. Na verdade, é só no que tenho pensando. Que vontade de ganhar muitos parabéns e contar pulando de alegria a todos que comigo se alegrarão. Mas, não precisa, quem puder ver saberá reconhecer meu olhar e minha felicidade... Nossa!
        Ao contrário do namoro, casamento e nascimento dos filhos, não passei infância e adolescência sonhando com esse momento, na verdade em meus planos nunca costumava aparecer, até chegar perto e, aí sim, ansiar. Não precisava de nenhuma pompa ou circunstância, bastava-me aquele primeiro tímido pedido, numa tarde dessas, "noiva comigo?", mas o comunicado, o anúncio... Bom, é rito de passagem! Mesmo a vergonha de falar na frente de todo mundo, ah, precisávamos passar por isso. E conseguimos: com êxito! Mais que isso, com alegria, alegria de todos.
        Olho pra trás e vejo que já estava escrito, mesmo. Nossa história nos trouxe a esse momento de forma brilhante, linda e amorosa. Nossas vidas se programaram e nos empuraram um para o outro, um mais enfeitiçado pelo outro. Defeitos? Quem não os tem? Temos amor, temos compreensão e paciência. Temos uma vida a dois em construção!

Ana Kita


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Letrando na vida...

        Já não lembro dos métodos que usaram para me alfabetizar, mas o letramento... Ai, que delícia! Hoje, cursando licenciatura em Letras, vejo que algumas professoras foram um pouco quadradas e exploraram menos do que deviam ou podiam, ainda assim tenho muito orgulho do meu processo de letramento. Desde os livros que minha mãe trazia, me dava e contava. Das placas e outdoors lidos na rua como conquistas gigantes de criança em processo de alfabetização. Dos poemas e contos que eu escrevia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Das competições com meu irmão de "quem lê mais rápido". Das cartinhas, cartões e bilhetes para meus pais, amigos e "paqueras", passando pelo ensino do gênero carta na escola. Dos meus textos poéticos mais românticos e elaborados no Ensino Médio. Até das dissertações e dos textos acadêmicos que me fazem perder tanta literariedade, mas ganhar conhecimento, seriedade e vocabulário. Que delícia é ler!
        Tenho admiração e fé de que estou construindo uma relação (em breve, uma família) também letrada, aliás, fundada na linguagem verbal de maneira companheira e linda. Embora eu possa corigi-lo (e chatea-lo, ou pertuba-lo) na oralidade, encanto-me com as mensagens, cartinhas e até com os objetivos e-mails. Ganhei um caderno, depois mais um, com uma linda caneta (digna de escritora famosa) e o livro "Eu te amo" (de Gabriela Nascimento Spada e Souza, pela Rideel), ainda nos dei o livro "Adivinha quanto eu te amo" (de Sam Mcbratney, pela Ed. Martins Fontes) e ganhei (da sogra) outro lindo caderno. Emprestei livros, sugeri leituras, lemos juntos para trabalhos acadêmicos, enfim, permeamos nosso amor com escritos e leituras. Mais do que sonhei, encontrei alguém para compartilhar, acrescentar, transformar, alguém com quem ensinar e aprender. Alguém a quem eu tenha vontade de - indiferente à gramática - dizer, escrever e repetir: Te amo!

Ana Kita

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ter 20 anos!

        Ter 20 anos é sentir-se dono do mundo e perceber que ainda não viveu nada. É olhar para o céu e ver os desenhos das nuvens de sua infância, o luar daquela noite de amor e as luminosas estrelas dos que já partiram. É ver a formatura chegando, o casamento batendo à porta e sentir o cheiro de filhos vindo. De repente, olhar pra trás e ver que as coisas demorarão bem mais do que esperava e dizia. Aliás, notar que dizia um monte de bobagens. Assim, como desejava coisas inúteis, fazia de pessoas sem nada a acrescentar seus amigos, deixava de fazer coisas significativas por pura preguiça (e ainda o faz, mas sabe-se lá quando perceberá a importância das de hoje), gastava dinheiro demais com guloseimas. Ah, que vontade de ter guardado mais dinheiro, de ter convidado as amigas pra brincar de Barbie, de ter falado mais com aquele menino. Que vontade de ter tirado mais fotos naquela viagem, de ter dormido mais vezes na casa das amigas, de ter levado notas menos a sério. E as vontades passam. Passam porque (ainda?) não há aquela nostalgia de querer voltar a ser criança de verdade, uma saudade, sim, mas passageira. Daquelas que são rapidamente substituídas pelo imenso desejo de ser adulto, de tomar suas decisões, de planejar e viver um futuro - numa nova família.


Ana Kita

Joinville, 7 de agosto de 2012.