segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Nostalgia amorosa - Ana Kita

O homem que amava era sozinho. Como explicar? Ele era sombrio. Não havia brilho em seus olhos e seu sorriso não era sincero. Ao me ver não ficou encantado, nem foi gentil. Simplesmente passou ao meu lado na calçada e seguiu.
Era um homem comum. Não era gordo ou magro. Tinha aparência jovem, apesar de mais velho do que eu. Não fazia o tipo atlético, mas fazia notar músculos em seus braços. Andava de maneira simples e decidida. Suas roupas, seus gestos, sua expressão... Não havia nada que chamasse atenção, contudo, conseguiu a minha.
Dias depois de conhecê-lo o reencontrei. Desta vez de forma menos subjetiva. Fomos apresentados por um amigo em comum. Não conversamos muito e comecei a acreditar que ele não passava de um estranho, desses milhares por quem passamos na rua. Não cabe aqui revelar seu nome, apesar de uma das poucas coisas que o diferenciava de um completo desconhecido.
Nada em nossa primeira conversa me fez – penso, que ainda hoje não me faria – supor o que viria a seguir. Começamos a sair, eu não me sentia apaixonada, porém agia como se estivesse. Ligávamo-nos diariamente, trocávamos mensagens e nos víamos com relativa frequência. Ele se mostrou muito diferente do estereotipo que criara. Ríamos juntos, tínhamos química, parecíamos saber o que o outro queria. Apesar disso eu não me sentia realizada. Ele me parecia o estranho que por mim passara, agora mudado. Talvez fosse exatamente o que ele era e o que devesse ser, de qualquer jeito não parecia quem eu desejava.
Tivemos momentos lindos, dizia eu que foram perfeitos. Concordamos que uma música que ouvíamos juntos se tornou nosso tema. Andamos na chuva, pegamos sol. Fomos ao cinema, confessamos aventuras – talvez só eu. Ainda assim um dia nos afastamos. O estranho é que apesar de eu por vezes pensar em fazê-lo, foi ele quem disse adeus. E pela primeira vez fiz algo que realmente sonhei em viver, com alguém que me parecesse e não fosse um grande amor: segurei o choro, pelo menos na sua frente. É engraçado como nos enganamos. Passamos dias juntos a alguém acreditando ter o controle de tudo, até de nossos próprios sentimentos, e quando o inesperado acontece nos deparamos com a realidade. Nunca tive o controle.
Apesar do adeus, não demorou para nos reencontrarmos, e não por acaso. Muitas vezes nos vimos, e chego a pensar que nos demos melhor depois de afastados. Logicamente um dia me cansei, acho que provando a tese de que as mulheres amadurecem mais rápido que os homens. Eu desejava uma relação e não a teria. Por vezes quis dizer “tchau” a algo a que eu não tinha dado “oi”. Nesses momentos me dei conta do quanto o amava e o desejava.
   Ele parecia o príncipe dos sonhos de criança. Não possuía cavalo branco, nem me defenderia de todos possíveis males, não conseguia imagina-lo me resgatando de dragões ou me despertando de um feitiço, não nos casaríamos nem viria a felicidade eterna. No entanto, naqueles momentos tudo que eu queria era estar ao seu lado, sentir-me protegida em seus braços, acreditar que permaneceríamos juntos. Por vezes tentei, confesso. Seria hipocrisia dizer que foi melhor assim, desconheço o que aconteceria. Sei hoje que de um jeito peculiar foi bom, aprendi muito e sou grata ao amor que senti. Jamais esquecerei do homem que amava, e sempre lembrarei do amor que tive.

-> Revisado em 2 de julho de 2010.