segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Olhos cansados - II - Ana Kita

   Ela tentou segurar o sorriso, mantê-lo forte e sincero, como sempre foi ao lado dele. Mas, não conseguia tanto esforço. As lágrimas caíram, e o sorriso apareceu, não tão fortes como tinham sido, embora sinceros. Ambos eram bem motivados. Lembranças de um lindo passado, sentimentos, amizade, consideração, e até (por que não?) orgulho. Despediu-se, apagou o sorriso, secou as lágrimas e dormiu mais cedo. No dia seguinte, poderia pensar a respeito ou dormir bastante para esquecer.

Ana Kita

P.S.: Parte I.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Quanto à vida não esperar e às pessoas seguirem

"Seguir viagem, tirar os pés do chão
Outros ares, sete mares, voar, mergulhar
O que nos dá a coragem
Não é o mar nem o abismo
É a margem, o limite, e sua negação"
[Humberto Guessinger]

   Uma ideia fixa matou Brás Cubas, eu, que já li e assisti muito sobre a obra, devo ter me influenciado. Mesmo nos dois meses de maior reflexão não foquei numa só ideia. Pensei em várias, e talvez por isso mesmo, tenha perdido pequenos detalhes. Na complexidade das relações humanas se enganam aqueles que não acreditam na importância dos detalhes. Pequenas atitudes, ideias, até palavras, podem mudar completamente o destino de uma situação.
   Nos primeiros tempos analisei profundamente, tentei me proibir de comparar a antigas relações. Mais recentemente preferi as doces ilusões às profundas análises. Por algum tempo até foi divertido, mais saudável talvez. Mas, pra quem quer futuro, pra quem sonha com uma vida plena e real, ilusão não tem vez. É preciso muita realidade, ser realista mesmo, ainda que possam sair feridos. Não estamos preparados. Nunca. Todavia, as cicatrizações emocionais jamais falham. Podem demorar. Depende das lembranças, depende do quanto já se aprendeu, mas quando menos se espera ou depois de se ter realmente aprendido, as marcas ruins até desaparecem. Enquanto as feridas não curam, colos são precisos, músicas são ímas de lágrimas, e pedidos tolos acabam escapando. 
   Eu ainda tenho um corte. Talvez vários. Eu que os fiz, descobri mais tarde. Contudo, antes mesmo de descobrir a autoria, passei a cuidar dele(s). Todos os dias, nos últimos quarenta, com muito calor e insistentes chuvas ao anoitecer, fui aprendendo sobre um corte em específico, sobre mim, sobre o que ficaria - de bom. Hoje foi meu último dia. Meu último minuto observando o corte, tentando abri-lo ou curá-lo. Sei que não precisa de minha atenção. E todo o resto? Onde haveria espaço para ser quem sou? Quando teria tempo para ouvir minhas canções favoritas, flertar com aquele sorriso simpático da faculdade, ou admirar o nascer do sol? Não há mais tempo a perder. Não há nada a esquecer, é preciso lembrar. Da própria cicatriz vem a maior lembrança de que é preciso buscar a felicidade. 

Ana Kita

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Olhos cansados - Parte I - Ana Kita

   No fim do dia, ela se resumia a uma mulher cansada. O sofá lhe abrigava e sua mente projetava o cheiro daquele de quem sentia falta. A saudade ia lhe dominando, e a cama lhe chamava mais cedo. No dia seguinte, teria mais um dia cansativo.

Ana Kita

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

   Pensei por horas em meus sentimentos. Era noite e lá fora o silêncio reinava. Em intervalos de sonos inconstantes tentei visualizar meu futuro. Tentei encontrá-lo nele. Eu não consegui. Não sei do meu futuro, mas gostaria que viesse. Lembrei nosso passado. E já era manhã quando me dei conta que meus dias ainda pedem por você.

Ana Kita

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poeminha sentimental: Tempo

o tempo tudo muda
ou não

muito se intensifica
a beleza do que não se via
e o esquecimento do que não era bom

ah, quanto tempo ainda para nós? 

Ana Kita

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Produzida - Ana Kita

"Eu treino a tarde inteira o que é que eu vou falar" Leoni

   Arrisca-se com o "t" ligando o ventilador e o secador de cabelo, embora ambos digam em suas respectivas caixas para não serem ligados junto a outros equipamentos eletrônicos. Acredita ser necessário. Ainda que o suor escorra da testa até seu peito descoberto, enquanto faz escova nos longos cabelos. Uma hora depois se senta na frente do armário na difícil missão de encontrar a "roupa certa". A decisão é difícil, mas quem sabe aquela mini saia fique bem com a regata branca justinha, vai realçar o bronzeado. Ela pensa por que ficou dois dias sem caminhar essa semana e sente raiva por ter se entregado àquela fatia de bolo.
   Com muito esforço veste o sutiã que mais aproxima os seios, e veste a tal regata, que fica muito apertada. Num ataque de fúria quer desistir de sair, joga-se na cama e quase chora, pega o celular e consulta o horário. Bendito tempo que não a espera, é na pressão que encontra outra camiseta que lhe cai muito bem. Apesar do calor não ter passado, o ventilador conseguiu secar o suor, volta ao espelho do banheiro para se maquiar. Aquela espinha ainda não saiu e suas olheiras agora parecem gigantes. Escova os dentes tentando não pensar e uma gota cai na camiseta. Xinga! Tudo parece contra ela até que o corretivo esconde as marcas, o blush lhe dá um ar saudável, a técnica de sombra que viu na revista exalta seus olhos e o novo rímel que a amiga indicou é mesmo maravilhoso. Termina a maquiagem com o gloss, pensa que brinco colocar e consegue finalmente sentir um pouco de orgulho da mulher que o espelho reflete.
   Não encontra os brincos na caixinha, nem na mesa, nem no criado-mudo. O despertador toca, fica ainda mais tensa, solta um gritinho com raiva dessa sua mania de colocar despertador meia hora antes do horário que precisa estar pronta. Encontra um par de brinco que há bastante tempo não usa, gosta da combinação. Coloca um anel, tira, escolhe outro, está largo, volta ao primeiro. Escolhe a calcinha, vermelha. Veste a saia, vai até a cozinha beber água. Ao passar pela sala de novo, deita no sofá para conseguir fechar a saia, volta a suar. Fechou! Suspira, levanta e começa a fazer uns agachamentos para o jeans permitir que ela respire. Arruma a bolsa, coloca o gloss, documento, dinheiro, lencinhos, elástico de cabelo, o celular... Tem dúvidas. Acha que a bolsa já está bastante cheia.
   Sobe no salto. Pára em frente ao espelho: é... Não era bem como queria, mas até que não ficou mal. Deseja-se boa sorte. Confere a hora, já passaram dois minutos. Abre a porta e guarda a chave. Ri. Fecha a porta, tranca e lembra o perfume. Reabre, volta correndo, espirra no pescoço, nos pulsos, um pouquinho na coxa. Finalmente vai embora. Ele já está lhe esperando, o mesmo jeito, o mesmo sorriso. Entra no carro, diz "oi", pensa "rosto, boca? rosto-boca? rostoboca!". Ele beija sua bochecha. Põe o cinto, confere o cabelo no retrovisor e tenta parecer calma: "Demorei muito?". Ele diz que não, mente que acabou de estacionar.
   Jantam, conversam, riem, dividem a conta. Entram no carro, param em frente ao apartamento dela, ele não desliga o motor, ela se aproxima dele, olha em seus olhos, mal beija sua bochecha e lhe diz apenas: Tchau. Sai do carro, e ele arranca. Fica parada olhando, mas o carro vira na próxima esquina. Abre a porta de casa, sai do salto e se lamenta: Tinha tanto a dizer, não disse nada, nada do que queria. Tira a roupa, e xinga enquanto limpa a maquiagem - tinha ficado mesmo linda, nem borrou.

Ana Kita

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quanto a temer e a amar

   Para amar não creio ser possível sentir medo. Eu temia antes de sentir, como todo mundo que tenta se manter são. Mas assim que a primeira chama acendeu eu me rendi. Bendita insanidade existente na plenitude de ser feliz. Passei a viver intensamente, pois eu senti e o que sentia me bastava. Além de roupas, olhos, sorrisos e toques, além das palavras, afinidades, semelhanças... Aquele tipo de coisa que foge à razão humana, diferente do que se vê, os sentimentos que só sentindo para se conhecer, as borboletas no estômago, o arrepio no corpo, o coração palpitante, a boca seca, a mão trêmula... Ah, o pensamento sempre nas nuvens, viajando entre o último e primeiro encontro. Aquela confiança ingênua, e por isso feliz, de um futuro brilhante.
   Sem medo tudo é luz, debaixo de um holofote ou na escuridão do meu quarto (prefiro sob a luz da lua). O vento contra meu andar, não me leva para trás, apenas deixa a vida com aquele ar cinematográfico. Os desafios e rupturas da história fazem ser vida real e produzem o amadurecimento dos envolvidos. Sem medo podemos realmente admirar a poesia da vida. Apenas sem medo posso amar, apenas amando sou amável.

Ana Kita

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sobre saber que fui feliz - Ana Kita

"Quando o dia não passar de um retrato, colorindo de saudade o meu quarto, só aí vou ter certeza de fato que eu fui feliz" Leoni

   Cada vez que alguém me pergunta digo algo diferente, embora com a mesma verdade. Não invento cada vez, volto a me questionar. É como se cada amigo/conhecido/curioso fosse um pouquinho da minha consciência, ou mais uma chance de análise, assim consulto meus antigos sentimentos e tento descobrir o que hoje sinto. Não mudaram muito, mas aprenderam mais um pouco. Especialmente sobre falta. Ah, e quanta falta tenho sentido. Não deixo a falta me dominar, tenho vivido intensamente, é certo. Contudo, ou justamente por isso venho pensando ainda mais. O nome numa camisa, um jogador, uma bebida, uma dança, uma piada, um desejo, uma mania... Tanta coisa me lembra de tudo aquilo que não quero esquecer, mas talvez devesse. Não gosto de dever nada, nem me esforço para esquecer, sei que não conseguiria.
   Tudo ao meu redor, e especialmente dentro, faz com que eu tenha certeza que vivi os mais intensos meses da minha vida, as melhores aventuras, as mais divertidas conversas, as mais prazerosas noites, as manhãs e tardes mais honestas. E meu sorriso fica gigante. Também cresce a vontade lá dentro de retomar, não de onde paramos, mas da última vez que fui tão feliz.

Ana Kita

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O último poema pede silêncio – Ana Kita

teria muitas perguntas a fazer
já tive muitas
e várias não têm respostas

aqui posso mentir
dizer que tudo está bem
ou que creio na manhã seguinte

nada mais faria sentido
que dizer apenas:
fase de sarjeta.

Ana Kita

Obs./ps.: Minha eterna admiração àquele que encontrar/descobrir nesse poema intertexto com a letra de uma música dos Engenheiros.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cassino Água - Ana Kita

“Um corpo em tempestade, agora já é tarde.” Engenheiros do Hawaii

   Já perdi tanta coisa nessa roleta, que é a vida. Ganhei outras tantas. Contudo, o mais importante, o que tempo algum poderá tirar, são as lições aprendidas. E são por elas que não paramos de ver os giros da roleta. Nos últimos anos, e isso inclui pelo menos uns cinco, tenho ficado tonta, acho que é normal, mais eficiente. Vejo ao meu redor muita gente assim também, às vezes sinto como se a tontura deles fosse culpa minha, por me segurar, por pedir ajuda, ou só por estar aqui. Quando a tontura parece passar um pouquinho, ou estar tão forte que me ponho a refletir sobre ela própria, passo a crer que não. Que querendo ou não todos estamos aqui e só cada um responde por si, sem querer somos os responsáveis por nossos ganhos e perdas, por nossa tontura ou êxtase. Quem sabe, até por nossa permanência. Ou não, pode ser que algo acima de nossas vontades ou méritos seja responsável por tudo isso, mas se for o caso é alguém tão sábio (como não ser? Se tiver todo esse poder precisa ter merecimento.) que não faria nada a toa.
   Há bastante tempo muita gente por aqui diz que “daqui nada se leva”, a não ser – provavelmente – as lições aprendidas, embora boa parte não creia que está de volta (crê que nunca saiu daqui). Nem sempre sei no que creio, prefiro crer que um dia saberei. Que um dia entenderei todas as razões, porque sei que elas existem, disso não duvido. Por esse momentâneo giro digo que já não sei quanto tempo suportarei tanta tontura. Confesso que para mim sonhei, e ainda quero continuar sonhando, um jogo brilhante, com ganhos sublimes, com parcerias só benéficas. Na última rodada esqueci umas lições já aprendidas, perdi alguns parceiros, e consequentemente muita esperança se foi, lamento. Ainda insisto na besteira de pensar “ah, como eu queria voltar no tempo” (pelo menos nessas rodadas de um mês pra cá). Mas a ingenuidade de acreditar ser possível reverter jogadas (ou recuperar todas as perdas) a experiência já me tirou.
    Tenho poucas fichas na mesa, é bem verdade. Acontece com freqüência. E o jogo sempre muda. Hoje creio que demore, creio que a tontura vá durar um “frio inverno” (ainda que o verão não tenha chego ao fim), que deixarei de comemorar pequenos ganhos ou aceitar champanhe. Contudo, a roleta vai parando e no seu próximo giro posso já ter esquecido muito e pensar completamente diferente.

Ana Kita

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Silêncio e som - Ana Kita

   Ouvia o sussurro do vento por baixo da porta, mantinha-se em silêncio querendo com sorte não mais ouvir nem o bater de seu próprio (agitado) coração. Depois de horas ou minutos, o vento cessou. Além do coração, o silêncio era cinematográfico. A noite foi chegando, a vontade sumindo. Abriu a porta e saiu. Lá fora havia muito som a ser vivido. 

Ana Kita

sábado, 12 de fevereiro de 2011

   Engraçado como as coisas "sentimentais", por assim dizer, passam. O tempo é mesmo o melhor remédio, pena ter gosto tão ruim quando se experimenta. Não digo que esquecemos os amores jurados para sempre ou das intensas histórias vividas. Digo que aqueles desejos avassaladores vividos numa noite e desejados ainda na semana seguinte passam, passam tanto que dois anos depois não mais existe nem chama. Digo que aquelas paixões arrebatadoras de um mês nem nas fotos ficaram e meses depois somem de vista. Você sempre pode ceder e realizar, como um capricho, como um presente atrasado a quem você era, quem tanto passou vontade. Contudo, a vontade passou e, se me permitir um conselho: melhor se preservar. Deve curtir, tentar realizar os desejos presentes, e crer na realização pontual dos que virão. No entanto, creio ser o melhor ignorar as chances de realizar os desejos que não mais existem, seria se render ao passado, como ignorar o que se aprendeu, perda de tempo e energia. Vivamos hoje, e do passado só tiremos lições.

Ana Kita

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Poeminha sentimental: "Às vezes tudo ou nada, às vezes 50%" *

num minuto 
acho que me ama,
no outro 
corro pra minha cama,

devo fugir de minhas armadilhas
(se ainda der tempo).

Ana Kita

*O título é um trecho da canção "Não é sempre" de Humberto Gessinger. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A palavra escrita - Ana Kita

   Sempre gostei das palavras escritas, mais que das faladas. No infantil sonho de cursar jornalismo dizia eu que seria profissional de jornal impresso (não sei porque razão o meio virtual não participava de meus sonhos), porque as palavras lidas influenciam e tocam mais profundamente as pessoas que as ouvidas. Ainda acredito que o que é lido é levado mais a sério, além de ficar gravado mais facilmente pela grande maioria. Especialmente para quem, como eu, é extremamente visual. Essa ideia influenciou todos os âmbitos da minha vida, fosse na escola uma chamada de atenção escrita, uma cartinha de amiga, fosse em casa com um bilhete deixado para cobrar alguma atitude minha, ou fosse, mais tarde, um guardanapo enviado num bar. O pior dessa ideia é minha exigência multiplicada, as palavras uma vez escritas deveriam ser mais pensadas, serem planejadas e não conter erros.
   Quando passei a escrever muito, notei que muitas palavras não tinham qualquer efeito. Descobri aquela coceira de que falo repetidamente e que o poder das palavras exige alguns esforços. É preciso adequar, é preciso sentimento e verdade, é preciso ter cuidado, muitas vezes é preciso até ilustrar com imagem. Mais tarde encontrei um poder oculto que não exige nada mais do que escrever honestamente, isto é, a ação "terapêutica" de escrever. O mais interessante é que quanto mais despretensiosa a escrita, com a única pretensão de se externar o que se sente, maior a chance de atingir as pessoas, delas sentirem, refletirem e até admirarem. Gosto disso! É uma ideia que já ouvi Humberto Gessinger falando, não escrever para agradar alguém, mas escrever porque é a sua verdade. Seu "fã" (sem exageros, no meu caso) não quer que você escreva ou cante o que ele gostaria, é preferível que ele goste do que você cantou ou escreveu. Uma simples inversão de ordem e a poesia se faz verdadeira.

Ana Kita

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quanto às proximidades e aos sonhos

"...e o sorriso, assim de perto, parecia não só uma lua crescente, mas a beleza completa da lua cheia."

  As pernas debaixo da mesa estavam tão próximas, no entanto, como os donos, acima da mesa, permaneciam distantes. Ou não. Digo por mim que nunca estive tão perto, quase dentro. Lamento não ter rido das piadas ou curtido mais a música, no meu mundo tudo ao redor desaparecia, só restavam dois pares de olhos e lembranças. Frente a frente, embora separados por um abismo de sentimentos. 
   Nas raras tentativas em que obtive sucesso de me desvincular daquele sorriso imaginei outra situação. Nos meus melhores devaneios não havia qualquer motivo a nos separar, tampouco receios em nos aproximarmos ainda mais. O tempo parava e nossa alegria iluminava tudo. Mais tarde acordei: ele também deveria sonhar, com outra "mocinha". Sei que jamais será vilão dos meus sonhos, por isso continuo a sonhar. Corro o risco de cair de nuvens, contudo me permitindo voar. 

Ana Kita

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tua mulher saudável - Ana Kita

   Eu te amei de um jeito saudável e benéfico, que até eu desconhecia. Chego a pensar que esse é o verdadeiro amor que sempre admirei, e talvez apenas contigo tenha aprendido a senti-lo. Não digo que seja mais intenso ou puro que os demais sentimentos que já vivi. O que me faz acreditar que ele seja diferente de qualquer outro é a guinada que minha vida deu. Pode ser apenas algo que eu sinta, uma vez que ainda esteja procurando um emprego, tenha pouco dinheiro, continue com os mesmos quilinhos a mais, no mesmo apartamento e sem carro. Contudo, sinto que logo depois de te conhecer minha vontade de conquistar tudo isso e muito mais se intensificou. Um trabalho temporário eu consegui, entrei na dieta, coloquei um dinheiro na poupança. Roupas novas eu comprei, passei a me maquiar, a sair mais, a sorrir sempre.
   Tudo de bom que havia em mim ficou tão forte que mesmo sem ti continuei minhas buscas. Entre elas sempre houve o amor, o verdadeiro sentimento recíproco, e confesso, ainda hoje, essa busca específica me traz a ti. Eu não queria. Queria deixar o passado bem guardado nos poemas que escrevi, nas fotos e lembranças de que não quero me desfazer. Queria que o sentimento se não morresse ao menos dormisse, um sono daqueles ininterruptos que nos permite sonhar profundamente. Esse sonho seria minha nova vida, uma bela e realizada vida além de ti e do que ainda sinto. 
   Sempre acreditei na amizade, mais do que nas relações românticas. Por isso não hei de me afastar ou pedir que o faça. Também não quero ser magoada ou ficar me iludindo com um retorno. Confesso querer que seus olhos me mostrem teu sentimento apenas adormecido. Aquele que fostes ainda vivo, embora escondido. No entanto, se não for possível quero sempre encontrar teus braços amigos, teus risos sinceros e seguirmos – não mais juntos – em frente. Julgo sim possível. Difícil, não nego. Mas te amar foi tão verdadeiro que não mais temo.

Ana Kita 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Precisar beber - Ana Kita

   Nunca fui contra beber em festas. Não que eu o faça há muito tempo, mas jamais critiquei quem o fizesse com o mínimo de critério. Agora algo como aquele trecho de Raimundos "eu me afogo em solidão" eu detestava. Não conseguia entender e julgava imaturo, insensato. Chorar tudo bem, é digno, inevitável muitas vezes. Mas, beber? Pra quê? Ah, beber não seria a solução. Ou não.
   Só se entende "beber para esquecer" quando se precisa, e isso é muito diferente de sentir sede. Pode-se até beber água, mas você "enche a cara de água", porque precisa, e muito. Os sentimentos são diversos, a necessidade intensa. Sente raiva, ciúmes, desejo, amor, tristeza... Olha e sofre. Sente mais do que o peito aguenta e não pode externar chorando, então bebe. Vira uma garrafa como um único gole e a tontura nem vem, mesmo que seja álcool. Você se sente menos vulnerável, seus olhos parecem que não precisam chorar imediatamente, a música contagia cada músculo seu e você dança. Dança como se ninguém estivesse olhando, como se fosse a última música, ou sua favorita. Dança como nunca, porque nunca havia precisado. É como correr para pedir ajuda por alguém importante para você que está ferido, você corre como o atleta que nunca foi, como nunca imaginou, porque sabe que é preciso.
   Beber não resolve nada, é bem verdade. Não soluciona seus problemas, mal faz esquecê-los. A saudade sempre continua sóbria e lhe aperta. Ah, como aperta. "Por favor, minha música favorita..." "Por favor, mais uma dose!" "Desculpe, gatinho, eu não tô afim." Burra, você pensa, você estaria afim se não se declarasse na fossa. Burra, você pensa, ele nunca lhe deu valor. "Sai dessa", sua amiga lhe diz. O espelho do banheiro diz que a maquiagem está escorrendo e nem são as lágrimas. Cansa de pensar, cansa de ouvir. E pede: "Só mais uma, a saideira do recomeço."

Ana Kita

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poeminha doce: Quando acaba

amava eu
creia-me amada
confiava cega
via-me sob a luz

chegou a verdade
e a magia se desfez,
todinha.

Ana Kita

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A arte de assistir a futebol - Ana Kita

   Escrevo humildemente, porque sei que muitos que me lerem podem pensar "ah, cala a boca, você é mulher, vascaína e nem se quer assistiu a um jogo profissional num estádio", ou pelo menos pensarão uma dessas coisas. Não nego! Nem por isso deixo de gostar de futebol ou de escrever este texto.
   As memórias mais antigas que tenho com futebol, pelo menos aquelas que lembro fortemente, são simultâneas e por volta de meus 8 anos. Na escola havia os meninos que jogavam diariamente, eu sempre os assistia, torcia pelos que estudavam comigo (especialmente aquele que despertava um aceleramento cardíaco), e analisava o jogo dos mais velhos. Em casa, ou mais precisamente na casa do meu pai, eu via meu irmão sempre a par de tudo quanto era campeonato, influenciado pelo avô, e admirava.
   Quem me via assistindo no colégio podia até imaginar que um dia eu fosse me interessar por trabalhar na área, comentarista ou árbitra quem sabe, pelo menos devia achar que eu tinha uma grande influência em casa para gostar de futebol. Contudo, jamais pensei em seguir alguma carreira esportiva, tampouco tinha em casa grande influência. Minha mãe desde que posso me lembrar se diz flamenguista (nem tudo é perfeito), no entanto nunca a vi assistindo mais que alguns minutos de qualquer jogo, menos ainda acompanhando campeonatos ou sabendo como vai  "seu time". Meu pai não era muito diferente, sempre se disse vascaíno (ah, explicado minha torcida? sem dúvida!) e sempre foi igualmente relapso quanto aos jogos, títulos ou campeonatos. Meu avô materno poderia ser uma influência para criar o hábito de assistir na televisão ou acompanhar pelo rádio. Creio que não, embora ele sempre assistisse (fosse ao time de um lugar super remoto num campeonato nada importante ou à Copa), não o acompanhava, e mais achava graça dele pegando no sono antes do fim de uma partida que admirável.
   Aos 10 anos, eu torcia pelo Vasco e pelo Palmeiras. O Vasco, claramente, para seguir meu pai, já o Palmeiras era influência (não proposital) de uma paixão de escola. Minha memória falha, mas eu os via como concorrentes diretos e me achava na obrigação de optar por apenas um. Essa escolha aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2002, num jogo da primeira fase (02/11/2002), confronto direto dos meus dois times "do coração", e o Vasco ganhou por um único gol do Léo Lima (quem futuramente seria contradado pelo Palmeiras, vida engraçada). Fora suficiente para mim. Nem sabia eu que o Palmeiras ainda seria rebaixado nesse campeonato. De lá até hoje a paixão vascaína sofreu altos e baixos, fases, mas jamais se extinguiu. Ainda que não aconteça muito (por falta de tempo, chance e até de transmissão), quando assisto a um jogo do Vasco o coração salta, as mãos suam, os músculos ficam tensos e esqueço o mundo (independente do resultado).
   A verdadeira paixão por assistir acontece mesmo nas quadras (ou, creio eu, nos estádios). É a proximidade e o som real quem cria a tensão. O tesão vem da agitação na quadra/campo e chega na arquibancada (ou mesmo um banquinho perto, rs). Muita gente vê aquelas pessoas sentadas como meros figurantes da partida, eu vejo além. Quando sento para assistir a um jogo, seja de amigos ou até desconhecidos, passo a torcer, a me emocionar a cada lance. Cada bola defendida é uma comemoração ou aflição, cada falta sofrida é um desespero, cada gol é uma frustração ou vitória... Ah, a torcida verdadeira, aquela que sente plenamente, faz parte do jogo! Dá força, esperança, torna-se um motivo para a dedicação dos jogadores. Além da energia que invade tudo, das linhas do campo/quadra aos últimos lances da arquibancada, aquela energia de competição e amizade, de fé e esforço, a união e democracia do esporte.

(Continua.)

Ana Kita

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O aprendizado do amor - Ana Kita

   Ao seu lado descobri como buscar a felicidade. Em manhãs de Sol, tardes de chuva e noites quentes, vivi o tempo que me fez conhecer a mim mesma e os benefícios dos sorrisos conquistados. Ah, quantos suspiros, risadas e orgasmos. A felicidade não necessariamente barata, contudo, existente nas coisas simples. Ao alcance de todos e que poucos conseguem ver.
   Caiu a venda de meus olhos, o grampo de meu nariz, os tampões de meus ouvidos, as algemas de meus pulsos, o zíper de meus lábios e soltou a bola de ferro da minha perna. Meus braços voltaram a abraçar o mundo. Pude apreciar as crianças brincando e me deliciar com os livros. Tomei as rédeas do cavalinho que comigo traça meus caminhos. Passei a admirar as flores e os canto dos pássaros. Retornei ao papel de protagonista de minha própria vida.
   Podia descrever os lindos dias que passamos juntos, as noites que passei pensando em você ou escrevendo poesia, até cantarolar as canções que me fazem lembrá-lo... No entanto, nada disso me faria colocar em prática o que aprendi. Quero viver! Continuarei saboreando os prazeres da vida, andando pelo caminho que juntos desvendamos e me permitindo além. Confesso, apenas, que ainda lhe sinto em meu caminho, porque não seguimos juntos? Não estou fugindo da felicidade, nunca mais o farei, quero compartilhá-la contigo, pois sinto que ainda é possível.

Ana Kita

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Meu velho brinquedo - Ana Kita

Obs.: Esses dias nas minhas leituras de blog (de) amigos fiquei admirada com um texto (crônica?) que comparava (ou até definia) sentimento com(o) brinquedo. Concordei muito com a ideia e passei alguns dias "digerindo", refletindo. Hoje escrevo aqui meus próprios devaneios sobre o assunto.

   Quando nasci ganhei, penso que de meus pais, um brinquedo. Talvez no começo eu nem soubesse como brincar, ou com quem poderia, contudo aprendi rápido, imitando minha família ao brincar comigo e entre eles. Eles também tinham brinquedos como o meu, talvez um pouquinho mais velhos, arrebentados, algumas vezes precisando de reparos, mas ainda assim brinquedos adoráveis. Como com outras coisas eu fui "emburrescendo" com o tempo, quanto mais eu crescia menos sabia brincar, menos compartilhava com quem merecia e mais procurava gente que não daria valor. Demorei a entender que realmente merecia brincar comigo aqueles que compartilhavam seus próprios brinquedos, comecei, então, a chamá-los "meus amigos".
   Meus amigos não eram muitos, mas brincávamos tanto e tão intensamente que aprendi outra lição: quantidade não é tudo. Apanhei muito da vida para aprender (um pouquinho) a distinguir meus amigos daqueles conhecidos interesseiros (que só queriam usar meu brinquedo e jamais me permitir tocar nos deles). Já no comecinho da adolescência descobri brinquedos não tão legais, alguns machucavam quem brincava, outros até quem assistia.
   Nessa altura meu brinquedo já tinha mais remendo do que eu podia contar, mas fui conhecendo amigos diferentes daqueles da infância, garotos bonzinhos que me ajudavam a consertá-lo. Volta e meia eu os ajudava com seus próprios brinquedos. Pena que eu acabava gostando mais dos deles que do meu próprio, assim eu fazia com que eles - talvez por medo - fossem embora e eu não mais pudesse brincar. Meu brinquedo, como um cachorrinho, ficava triste sem os outros brinquedos, e eu também.
   Um dia me disseram que se eu brincasse com menos gente poderia brincar por mais tempo. Achava difícil escolher só alguns brinquedos, quase tão difícil do que permitir que só algumas pessoas pudessem brincar com o meu, especialmente no verão. Mas, minhas experiências, especialmente veraneias, faziam com que eu realmente acreditasse na importância dessa "seleção". Mais tarde descobri que não precisava ser bem assim, há formas e formas de brincar. Algumas, é bem verdade, necessitam de mais cuidado, mais dedicação, mais critério e até mais tempo, assim uma certa "exclusividade" é bem vinda. Outras, no entanto, para serem mesmo saudáveis precisam de espaço, assim quanto mais brinquedos eu puder usar (não todos de uma só vez, nem todos com a mesma intensidade), mais cada brinquedo poderá estar ao meu alcance.
   Quase no fim da escola tive uma revelação avassaladora: Para a brincadeira resistir ao tempo e ao cansaço nada melhor que compartilhar. Quando passei a compartilhar com os donos dos brinquedos o quanto eles me eram importantes, quanto eu ficava grata de com eles brincar, e as coisas que havia aprendido, as brincadeiras não mais se extinguiam. Algumas temporadas precisei viver sem certos brinquedos (ou formas de brincar), mas nem isso era de tudo ruim, pois na volta o brinquedo parecia ainda mais especial e eu aprendia a dar mais valor. Também meu brinquedo pedia tempo (muitas vezes), e quando ele voltava a estar entre meus amigos parecia brinquedo novo, muito quisto e admirado.
   Hoje meu brinquedo parece pedir novos amigos para brincar, creio que essa falta de gente querendo brincar (direitinho!) seja uma fase. Há de passar. Até porque há algum tempo meu brinquedo ficou com rara de novo, graças a um amigo que me ajudou a cuidar. Não foi uma troca ou um pagamento, mas, confesso, que foi uma ajuda recíproca. Prezo por elas, reciprocidade nessas brincadeiras é o melhor que se pode ganhar.

Ana Kita

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poeminha sentimental: Son(h)o

noutra noite não dormida
você apareceu como num sonho
tirou meus medos,
colocou-me um intenso sorriso

descobri que lhe tendo
tudo de que preciso passo a ter
e pego no sono para não lhe olvidar.

Ana Kita