terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carta a ti: que quero comemorar

Joinville, 13 de setembro de 2011.

   Há alguns dias espero pelo dia de hoje, sei que o tempo é relativo e tudo isso parecerá bobagens daqui uns 15 ou 30 anos, mas por esses dias minha alegria é imensa. Não só por ser o relacionamento mais longo que vivi, não por ser o mais intenso, nem o mais cheio de planos ou o que me faz mais feliz. Bem, talvez por um pouco disso tudo, mas principalmente por cada sorriso, cada beijo, cada abraço, cada risada, cada filme, cada passeio, cada jogo, cada aniversário, cada show, cada presente, cada mensagem, cada carta... Por cada momento nesses adoráveis 6 meses. Instantes mágicos que me fazem acreditar na magnitude da vida, dizer que vale a pena, e sonhar...
   Há exatos 6 meses, eu me arrumava para sair com um "colega de faculdade", bom, com um gatinho, um tímido flertador, não sei se eu acreditava que daria em alguma coisa, mas a essa hora me dava um baita frio na barriga. Hoje entendo porque. Naquela primeira aula, um olhar tímido, mas insistente, já me facinou. Eu não fazia ideia do quanto. Talvez seja ele o motivo que me faz olhá-lo tanto, admirar seus olhos, seus lábios, suas covinhas, suas sardas, seu nariz, seu queixo, e todos os detalhes que o fazem tão lindo e tão especial pra mim. Há quem diga que tal galã de novela parece ser o "seu número", uma viagem. Mas, acho que não estaria exagerando ao confessar que quando estou ao seu lado, quando o admiro e o deixo constrangido, penso que foi feito pra mim. Daqueles sob medida mesmo, com encaixe perfeito, que a gente não quer largar de jeito nenhum e tem vontade de mostrar pra todo mundo.
   Não sei como expressar tudo que sinto, especialmente porque estou ansiosa para poder vê-lo e finalmente lhe entregar minha surpresa. É certo que tenho fé em nós, então sinto e acredito que você entenderá tudo que deixo por dizer, pois também sente e também deixa de falar. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, daqui alguns minutos terá uma. Espero que ela diga tudo que eu gostaria sobre ser feliz, sonhar junto, planejar e realizar, e uma vida a dois.

Com muito amor,
sua pequena, Ana.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Confissão de fala - Ana Kita

   tenho falado muito, e escrito pouco. este é o meu mal. talvez de outrens também. mas, especialmente meu. pois é, saber já devia ajudar, e não ajuda. pelo contrário, faz-me mal. quando falo não sei o que digo, digo qualquer coisa, de qualquer jeito, às vezes até com aquele jeitinho de menina que quer doce. ain, quanto doce. e por isso quero escrever. porque na escrita me corrijo, torno-me melhor, encontro-me. não quero ficar me idealizando ou agradando alguém. só não queria parecer boba. dessas que andam de cabeça baixa e vivem pedindo perdão sem motivo. se posso escrever e acertar, por que não fazer? não sei. e é aí que mora o medo, e falo. falo sem parar. por falta de tempo de escrever, um teclado ou uma caneta. por falta de vontade ou pelos dedos gelados. por simples preguiça.

Ana Kita

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Conto de um sonho - Ana Kita


 Uma vez sonhei que me disseram que esquecer os sonhos era o melhor a se fazer.

   Pulou da Ponte Rio Niterói e passeou no Central Park, queria ter abraçado o artista de rua, mas as moedas que jogou já o parabenizaram. Seus sonhos eram assim, de fatos reais, mas com uma poesia digna da imaginação, ela se realizava ao lembrá-los. Compartilhava com sua melhor amiga, Hannah, que nunca os entendia, tampouco gostava de ouvir. Contudo, naquela manhã sentiu-se mal, acordou e correu ao banheiro, lavou o rosto, olhou-se no espelho, estava pálida. Vestiu-se logo e bateu na vizinha, uma senhora simpática que oferecia bolo semanalmente, ninguém atendeu. Desceu pelas escadas a fim de ligar para Hannah, caiu na caixa postal, na certa tinha se esquecido de carregar a bateria, clássico de domingo. Chamou um táxi e partiu para a casa da mãe, encontrou-a no portão, pediu para conversarem, mas a mãe estava com pressa. Tudo bem, mentiu ela. Decidiu visitar os avós, fazia tempo que lhes devia um almoço, ninguém em casa – tinham ido à praia. Apelou para o celular do irmão, este não atendeu. Ligou para o pai, por telefone não seria tão bom, mas ele desligou dizendo que não podia falar agora. Até para a cunhada ligou, mas a sobrinha chorava ao lado, entendeu que não era um bom momento.
   Dirigiu-se a pé até o apartamento dos pais de Hannah, nos finais de semana ela costumava pousar lá. Ficou com vergonha de bater e sentou-se na pracinha. Repetidamente olhava o relógio, agora já marcava 11h, seu estômago roncava, sobretudo o número 26 a afligia. Uma senhora com sacola de feira passa pela praça, elas se olham, a senhora senta ao seu lado. Eis sua chance. Dona Amélia se apresenta, reclama do aumento do preço do tomate, e lhe sorri confidente, o esposo Alberto merece no dia do seu aniversário uma bela macarronada. Dona Amélia pede desculpas, pergunta seu nome. Em seguida a pergunta fatal: O que a incomoda nessa linda manhã de domingo, Isis? Finalmente a protagonista revela a confusa e preocupante narrativa sonhada à noite. Não que Dona Amélia fosse ligada em ocultismo, mas ouvira dizer certa vez que sonhar com morte era bom presságio. Isis deixa uma lágrima cair. Confessa que a morte nunca a assustara tanto, ver-se morta fizera refletir na falta de um namorado, no distante sonho de construir sua família, na incerteza de seus pais saberem de seu amor. Dona Amélia a abraçou, se não fosse aniversário de Alberto a convidaria a almoçar, mas o esposo não gosta de jovens, nunca tiveram filho pelo temor da juventude rebelde. Dona Amélia se despede com um conselho simples. Isis volta para casa menos agitada, compra um lanche no bar da esquina, mas desiste de comer. Tira um cochilo no sofá e ao acordar se esquecera do sonho da noite, dessa vez um sonho bobo, uma conversa com uma senhora sem filhos.

Ana Kita