segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Podia ser, mas se fez melhor - Ana Kita

Você podia ser apenas mais um minha vida, desses caras que passam e não voltam. O tipo de amigo de um momento bom e a seguir um ruim, alguém com quem se aprende algo, mas de quem quase não se lembra. O típico caso de balada, uma noite de beijos e canções e nem telefones são trocados. No entanto, o destino quis me testar. Voltamos a nos falar, a nos ver, a nos envolver. E agora já não sei mais o que fazer. Estou me apaixonando e a cada minuto um pouco mais. Temos novos bons momentos, mas você não se mostra apaixonado, o que posso fazer? Tenho medo de mostrar, medo de me perder em seus encantos, tenho medo de lhe perder. Dizer? Omitir? Fugir? Num momento sou toda confiança, no seguinte o pessimismo toma proporções homéricas.
Quero declarações, comprometimento, aceito só mais alguns momentos. Não exijo presentes, testemunhas ou promessas. Quero um pouco do seu tempo, um pouco do seu desejo e com sorte um pouco do seu amor. Desejo muito, mas, como Cervantes, me contento com pouco. Prometo-lhe recompensar, se sentir dor lhe massageio, se tiver sono faço-lhe cafuné, se tiver frio posso tentar aquecê-lo, se sentir calor posso abrir as janelas ou tentar fazer vento, se precisar de espaço prometo me afastar, se quiser se divertir posso lhe acompanhar ou sumir, se quiser conversar posso lhe aconselhar ou apenas ouvir, se quiser futebol posso fazer torcida ou dormir mais cedo, se tiver fome posso preparar o jantar ou não comer, se ficar triste posso lhe alegrar ou chorar junto, se tiver motivo de alegria posso ajudá-lo a comemorar, e se desejar amor dou-me inteiramente.

Ana Kita
Inverno, 2009.

-> Revisado em 28 de julho de 2010.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Depois de um inverno rigoroso...

Há tempos digo "depois de um rigoroso inverno" quando quero na verdade dizer apenas que estive afastada do interlocutor, muitos não entendem. Mas, eu estava conversando com um amigo quando citei minha habitual frase e ele concordou dizendo "ambiguamente", de repente me senti tão satisfeita que deixei a hora de lado e pedi que sentássemos. Finalmente alguém havia compreendido minha intenção com aquela expressão, e nesse caso o inverno também havia sido rigoroso. Percebi que mesmo esses amigos que mais são apenas conhecidos do que realmente confidentes e companheiros também podem nos surpreender positivamente. Acabamos por desenvolver uma conversa impolgante sobre o inverno e o outono, até falamos de planos para o verão.
Realmente fiquei feliz por tê-lo encontrado, mais feliz ainda por ter sido compreendida e ter passado uma hora tão agradável. Ainda assim, antes que nos despedíssemos com aquelas promessas comuns e nunca cumpridas de marcar alguma coisa, fiquei analisando que se não fosse a compreensão da sua parte eu praticamente teria me privado de um bom momento. Pode parecer autocrítica acentuada, mas fiquei imaginando uma nova situação se tivéssemos nos encontrado e não houvesse o episódio expressão habitual e compreensão, provavelmente eu diria que tinha outros afazeres e logo me despediria. Com isso deixaria de ter tido essa hora agradável, lembrado de momentos divertidos, descoberto algumas coisas, e até mesmo melhorado essa amizade.
Finalmente nos despedimos porque em momentos agradáveis a hora voa, e fui pra casa pensando como devo perder bons momentos com essas ideias fixas de coisas mais relevantes a fazer, ou de não perder tempo com alguém que nem tenho tanta amizade, ou mesmo de passar pelo mesmo caminho para não me perder ou perder tempo. Se eu fizesse tudo diferente poderia haver muitas decepções ou tristezas, mas incrivelmente tenho a sensação de que encontraria muito prazer e alegria. Desse casual encontro até a digitação desse texto me tornei outra mulher, não digo que faço tudo diferente ou que nesse tempo só tive bons momentos, mas estou aliviada por ter aprendido a aproveitar mais. A vida é muito rápida, mas comprida o suficiente para tirarmos essas lições.