segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Carta ao pai 20: Aniversário e casamento

Joinville, 26 de agosto de 2011.

Pai, estou em falta com você, eu acredito. Talvez você na sua plenitude já considere qualquer exigência desnecessária. Mas, queria ter lhe escrito antes. Fiz 19 anos. E daí, né? Ano que vem faço 20, e anualmente será assim. O fato é que nunca em minha vida me senti tão mulher, tão plena. Quero casar, pai. Bom, isso não é novidade, desde que aprendi a falar digo querer. Agora é diferente. Não só quero, eu planejo, tenho o noivo e o querer dele. Ainda é preciso esperar (sempre é), ele quer (sensatamente) que nos formemos na faculdade antes (ou seja, esperar pouco mais de dois anos). Ainda assim, finalmente é real, já me parece certo. Torça por mim, pai. Estou muito feliz!

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Confissão de medo - Ana Kita

   silêncio, sempre gostei de ti. de verdade mesmo. embora eu goste de música e do som do mar, deliciava-me com o silêncio da noite ou da mata. mas, sempre o temi. fosse pela escuridão, ou principalmente pelo clima de desentendimento. bastava um momento de vulnerabilidade pra me sentir consumida por ti. estava lá eu e alguém de que muito gosto, de repente eis que aparecia e me apavorava. não queria que fosse assim, juro. lembro que uma vez li algo sobre o amor existir na falta de constrangimento de duas pessoas frente a ti. talvez seja verdade, não se trata de constrangimento. se tá tudo bem, nem te sinto, muito menos como incômodo. mas, quando não tá, qualquer instante te torna um monstro gigante. sério, não me julgue louca. dói tanto. às vezes tento conversar, não necessariamente te quebrar, mas entender teu aparecimento. ninguém me fala. fico sem entender e na dúvida: peço tua ajuda, silencio.

Ana Kita

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Falando o que calo - Ana Kita

   Há muito tempo, nem sei quanto tempo faz, eu disse que mudaria. Não disse com confiança, na verdade não acreditei que eu poderia mudar. E hoje, de repente me dei conta que eu mudei. Exatamente como eu disse, embora sem uma real intenção. Dou razão a quem me disse que tal mudança não seria boa, não tenho estado muito feliz. Não que eu ficasse feliz naquele tempo. Mas, quem tem a medida? Entre falar e calar não parece haver muitas opções... Tampouco me parece que minha atitude transforme alguém. Antes me desesperava pelos outros, pela inércia, ficava decepcionada, desiludida. Agora me magoo, guardo toda a raiva e deixo o tempo apagá-la. Geralmente demora, mas é sempre assim. Falando ou não, um belo dia aquilo já não terá tanta importância e terei superado. Questiono-me apenas por amanhã, sem dúvida acontecerá mais uma situação e terei que escolher. Bom, no mínimo espero superar logo.

Ana Kita

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Não nasci com medo - Ana Kita


   Não nasci com medo, ninguém nasce. O medo vai aparecendo aos poucos, sendo convidado pela família, pelas professoras, pelos livros, filmes e a televisão, mais tarde até pelos amigos. Na infância, convivi com os medos “clássicos”: de escuro e de bichos (de cachorro a arranha). O tempo passava e meus medos aumentavam, alguns deixei pelo caminho, outros se tornaram maiores. Passei a ter medos mais psicológicos, como de perder quem amo, ou não realizar meus projetos.
   Ainda estava na adolescência, quando ao perder meu pai entendi que temer algo não interfere no curso natural da vida. Se fosse para usar positivamente meus medos, o máximo que eu podia fazer seria viver intensamente, lidar com meus medos como algo possível de acontecer e, portanto, não dar motivos para me arrepender mais tarde. O aprendizado foi valioso, mas nem por isso deixei de ter medo.
   Acredito que o medo faça parte do nosso “desenvolvimento”, é o medo que nos leva a diante, e também ele que nos protege dos perigos. Desde que não sejamos dominados pelo medo, ele pode ser benéfico. Se eu nunca entrei num carro com um motorista bêbedo foi pelo medo que a mídia me deu, e acho que foi prudente. Se eu nunca aceitei sair com um estranho foi pelo medo que meus pais me passaram, e não me arrependo. Se eu nunca usei drogas, se eu nunca cometi crimes, se eu nunca exagerei na velocidade... Se eu sempre digo que amo minha mãe e meus irmãos, se eu planejo me casar e ter filhos com o homem que amo, se eu faço faculdade, se eu estudo bastante... Enfim, se eu cedi aos medos muitas vezes, foi por considerar certos medos proteção. Diversas vezes os medos – algumas vezes mais dos outros que meus - fizeram-me bem. Estou viva e vivi intensamente, mas não me expus a tantos perigos.

Ana Kita

Obs.: Proposta de crônica com a temática "medo", no terceiro encontro do projeto de pesquisa aqui apresentado.

sábado, 13 de agosto de 2011

Procuram-se amigos - Ana Kita

   Procuram-se amigos para caminhadas, visitas e conversas. Procuram-se amigos de museus e bares, de festas e cinema, de calçada e sofá. Procuram-se amigos que tragam histórias e silêncio,  presentes e abraços. Procuram-se amigos para formaturas, casamentos e batizados. Procuram-se amigos para hospitais e velórios. Procuram-se amigos que topem viagens, delírios e não fazer nada. Procuram-se amigos que vejam o nascer-do-sol, compartilhem o almoço e assistam ao anoitecer. Procuram-se que abram a carteira, a mente e principalmente os braços. Procuram-se amigos que ouçam músicas para chorar ou alegrar e deixem de notar qualquer música por uma conversa honesta. Procuram-e amigos despretensiosos, que sejam amigos pela pura amizade, sem visar a interesses ou provas, apenas amigos. Procuro por novos amigos. E que permaneçam.

Ana Kita
 

sábado, 6 de agosto de 2011

6 de agosto de um ano qualquer...

o dia nascendo
eu (re)amanheço

tudo tão diferente de um ano atrás
mas nada mudou desde ontem
(dizem que sim, penso que sim
vejo que não)

sorrio. Alguém me diz: parabéns!
tenho vontade de retribuir, agradecer é pouco
quero parabenizar por me aturar, por me alegrar
por estar comigo

logo, o dia anoitece
e eu renascendo.

Ana Kita

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

   Parecia uma bailarina, sempre tão linda e leve. No entanto, morava nela muita dor e destruição. Por trás das fantasias havia insatisfação e insultos. Definhava-se em seu próprio espetáculo.

Ana Kita