terça-feira, 26 de março de 2013

O dia em que não precisei voltar para casa - Parte 1

        O título não é criativo, ao menos acho que não fui eu quem o criou. Mas também a situação já é tão historicamente aceita que tanto faz parecer inusitada ou não. Não? 
        Não! A verdade é que não importa quantas viagens fizeram juntos, quantas vezes dividiram a mesma cama... Um dia simplesmente é diferente. Pra mim foi 17 de agosto. Já faz tempo, estamos em fim de março, mas ainda sinto o gosto daquele beijo de despedida. Ao contrário de todos os outros, era ele quem se levantava e partia. Não pra um lugar distante, não pra dormir ou pra dar satisfações. Simplesmente, ele estava indo trabalhar, para logo à tarde voltar. 
        E voltar significava, pela primeira vez, uma vida à dois. 

Ana Kita         

domingo, 10 de março de 2013

O cheiro ou o perfume

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        Hoje num lapso de memória - pois é, comigo acontece ambos - lembrei que o perfume que estou usando foi ele quem me deu. Mudo tanto de cosméticos que eles nunca acabam, mas por um acaso do destino me peguei fã temporária deste há pouco mais de dois meses. Contando que faz três anos que me deu quase caduca a intenção, não? Ele está pela metade e no ritmo que ando é possível que aconteça um feito inédito: findá-lo. 
        Que diferença faz quem deu? O cheiro já deve ter esquecido. Eu até esqueci a frustração de receber um kit cosmético. Por mais caro e cheiroso que fosse refletia exatamente a impessoalidade de nossa relação a qual eu me negava enxergar. Agora nada disso me toca, há quem sinta meu cheiro e a maciez de minha pele. Ainda que não houvesse ninguém, também ele não sentiria. Quem mantém uma relação e não é capaz de escolher um presente pessoal, não terá sensibilidade de sentir o outro, de receber o amor ou ter saudade.
       Adoro ganhar sabonetes, xampús e cremes, perfumes sempre acho arriscado, mas prefiro amor, cumplicidade, companheirismo e atenção. Preferia uma conversa franca a pagar as contas. Pena que o dinheiro fale mais pra muitas pessoas, ou nem o dinheiro, mas o que ele traz, o que representa, e algo assim que nem consigo imaginar. Eu não sou dos perfumes, sou dos cheiros. Antes um abraço com corpo suado que fragrâncias importadas a quilômetros de distância. E que distância! Agora que estamos mais de dois anos sem nos vermos continuamos tão longes quanto com o contato diário. Pelo menos agora sinto a mesma falta de que ele sentia naquela época: nenhuma. 

Ana Kita