sábado, 22 de dezembro de 2012

Crônica de fim do mundo

        Dia 22 de dezembro de 2012 e todo mundo confiante que não era dessa vez que o mundo iria acabar. Assim é fácil, né? Na primeira manhã do século foi a mesma coisa. Mas a idade me fez dormir diferente. Na primeira vez, a pouca idade me fazia rir da situação, curtir a virada de ano - e mal compreender a do século -, divertindo-me com a possibilidade de acontecer alguma coisa. O que poderia? Dessa vez a adultez - e com ela o ceticismo - me fizeram ignorar durante todo o ano, até que vou dormir às 22h30 da véspera e por mais que meu marido tenha brincado que no Japão já precisaria ter acabado o mundo, a insônia me faz pensar por uns rápidos segundos: E se eu pegar no sono e não mais acordar? Se catástrofes naturais começarem a acontecer simultaneamente? E os filhos que quero ter? E minhas faculdades? A aplicação de tudo que tenho aprendido? Aquela blusa linda que ainda não usei? Pode não estar traçado nenhuma realização dos meus grandes sonhos? Sem gravidez, sem festa de casamento, sem quarto mobiliado, sem banheiro planejado, sem closet ou livro publicado? Antes que eu pudesse parar de imaginar tudo que ainda vou realizar e me conscientizar que definitivamente não seria no dia seguinte... Dormi.

Ana Kita

sábado, 15 de dezembro de 2012

Todo fim é um começo

        Eu sei, é clichê. Mas também os clichês são fases e costumam terminar e recomeçar. Nem por ser clichê deixa de ser verdade. Olhe ao seu redor! A semente deixa de existir pra vir a planta; a primavera termina pra ser verão; deixa-se de estar gestante para apaixonar-se pelo bebê; acaba o relacionamento para ter liberdade de solteiro novamente; morre o corpo e vem... Aí depende do que você acredita, mas mesmo as opiniões se modificam. E o que é se modificar? Senão o término de uma fase para o início de outra? Não é preciso anular tudo que foi construído e conquistado - o que é verdadeiro deixa raízes -, mas o novo surge, o velho é renovado. Até o que é perpetuado precisa de inovação, nem que seja a forma de ver, quem vê, quando.
        O tempo é o maior apostador deste clichê, confia tão cegamente que vai como uma bala perdida: certeiro; embora não saiba pra onde. Vou além, é preciso saber o destino? Gosto do caminho. No percurso estão todos que me acompanham, todas as pedras a superar, os pódios a subir, as armadilhas a desviar, e por fim, mas não menos importante, as fases a serem concluídas. A visão pessimista termina por aqui, não permite vislumbrar os lindos raios do sol das 5h, quando você prometeu chegar antes das 3h da madrugada. Eu procuro o além, digo que 2013 chegará e que guarda realizações maravilhosas se assim desejar, digo que a obra terminará, que crianças, flores e animais nascerão. Não são as finalizações determinantes da vida, mas os começos.

Ana Kita

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Carta ao pai 23: Saudade e realização

Joinville, 07 de dezembro de 2012.

        Pai, esta semana levei meu noivo/marido ao cabeleleiro (pra mim mais barbeiro) em que você ia. Ele me olhou com jeito de quem quer reconhecer, mas acho difícil, faz bastante tempo e longe de você seria complicado fazer essa associação, mas só de estar lá me deu uma saudade apertada. Meus olhos se encheram de lágrimas. Ai, pai, que falta você me faz.
        O penúltimo ano da faculdade acabou, vou para o quarto mês "casada" e pra tudo isso me falta você. Como eu queria comemorar contigo, compartilhar contigo, ver sua alegria e também preocupação. Queria fazer uma grande festa e dançar nossa segunda valsa juntos. Queria lhe dar netos, vê-lo bobo como quando eu era pequena. Queria a certeza de seu sorriso por perto. Não tenho tido mais tempo do que tinha quando você estava aqui, continuo falhando em visitar meus irmãos com frequência e já não ouso prometer nada. Mas, ainda desejo que eles saibam que podem contar comigo, ainda queria poder contar com teu abraço, teu olhar, uma palavra.
        Os domingos passam cada vez mais rápido e mesmo assim por um instante me pego saudosista. Ah, que domingos contigo, pai! Estou cada vez melhor na panqueca, mas não chegam aos pés das suas. Aprendi a fazer o bolo com gelatina de limão, mas sinto falta do seu. Até o gosto por filmes do meu noivo/marido é tão bom quanto o seu, mas só ser bom não substitui, queria contigo também. Por sorte estou numa fase que esses queres difíceis ou impossíveis não mais me magoam, estimulam-me, alegram-me interna e silenciosamente. Obrigada por tudo que você plantou em mim, pai!

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Meu menino...

        "Você é o amor 
que a vida me deu 
de presente, 
sou homem maduro, 
mas na sua frente 
pareço um menino" (Fábio Jr.)

        "Meu menino" é expressão tão sonora quanto a voz dele, aquele que amo, aquele que escolhi como meu companheiro para a vida toda. Meu menino lembra bolinha de gude, pelada em campinho, risada tímida, video-game e TV, lembra literatura infantil, pequenas artes (no sentido safadinho da coisa), até um pouco de timidez com esperteza. Meu menino me faz lembrar suas covinhas, seu sorriso discreto, seus olhos brilhantes, seu jeito tão menino do mundo e tão homem meu.
        Hoje, meu menino faz anos, já deixou de ser um menino há tempos dizem os números, para mim agora é menino, com alegria, com liberdade, com inocência e ousadia. Hoje pode amar e demonstrar, aprender e ensinar, pode usar toda sua energia e fazer tudo ou optar por relaxar. 
        Meu menino há pouco passou a ser meu, e parece que nunca deixará de ser menino. Tomara! 
        Amo esse menino e sinto que em seu enorme coração de menino tem um espaço que é só meu. 

Ana Kita

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Constatação da vida

            A verdade é que formigas e cigarras morrem. De que adianta um inverno a mais? Antes um poético verão.

Ana Kita

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Eu merecia

Ao conterrâneo Cunha.

         Eu merecia não conhecer certas pessoas, coisas. Sim, me desculpe os irmãos perante os deuses e os politicamente corretos, mas eu merecia. Merecia não ter marcas sombrias em meu passado, nem ter que dar de cara com aquele... Ah, melhor nem falar. Eu merecia não ter me dado ao trabalho de conhecer Esaú e Jacó (do Machado), pra não precisar pensar que nem nosso escritor maior acertou sempre. 
        Nem de relance queria ter visto os rostos assassinos de "Linha Direta" ou do "Jornal da Globo", aliás, nem mesmo os de ficção. Merecia ter dormido tranquila todas as noites. Queria nunca ter visto rostos desfigurados; ainda me lembro de um dia - ainda menina - passou por mim e minha mãe um homem que tinha o rosto como que corroído. Aquela imagem não saiu da minha mente por muito tempo. 
        Queria nunca ter conhecido a primeira versão de "Chapeuzinho Amarelo", não existe mais pra comprar e me encantou bem mais que as ilustrações de Ziraldo. Queria não ter visto um filme muito legal que perdi o começo e cujo nome nunca descobri. Penso que eu merecia mesmo não ter conhecido o câncer linfático da maneira que foi, nem dúvidas que nunca me responderão.
        Todos os bilhões de pessoas são muita gente. Deveria haver uma seleção mais apurada, tanta gente passou por mim e deixou simplesmente NADA! Não me entenda mal, longe de genocídio. Só queria conhecer melhor aqueles que me fizeram bem e deixar de me envolver com um ou outro que só passou sendo um rastro fulgás de destruição. Há quem tenha problemas e tudo bem, no entanto há quem seja problema, queira compartilhar problema, só fale em. Não nasci pra tanta benevolência. Não queria nem ter criado Lígias, Felipes e outros que das primeiras páginas não passaram.
       

Ana Kita

Obs.: Texto produzido a partir da proposta (dada numa apresentação de plano de aula de Jordane Graudin, no Curso de Letras) de criar uma crônica a partir de "O merecimento", de Rubens da Cunha.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ser em/pra você



Queria ser pra você como poeira que não abandona os carros parados nesta rua. Gruda, insiste. Tatua. Queria ser tatuagem em seu coração. Permanece, enfeita. Naturaliza. Queria ser parte de sua floresta. Necessária, linda. Sombra. Queria ser peixe do seu mar. Mora, alimenta-se. É parte.
Não parte, não se deixa partir.

Ana Kita

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Clássico sobre união


Resenha da obra clássica brasileira: “Ubirajara”

“Ubirajara” é mais uma lenda alencariana, escrita 9 anos depois daquela que é julgada sua obra prima, “Iracema”. De beleza e temática indianista, trata-se de um adorável exemplar da primeira geração do romantismo brasileiro. Uma narrativa bastante descritiva, mas com uma suavidade que nos prende à leitura, além, é claro, do jeito poético típico do autor, que dispensa comentários. Enquanto Portugal exaltava heróis dos mares e das guerras, o Brasil tinha em José de Alencar, um escritor que não só defendia e admirava, mas também apresentava aos brancos a pura e significativa cultura indígena.
Então, o jovem leitor do século XXI pode se perguntar: “E do que adianta ler sobre o índio do século XIX? Eles já são tão poucos e foram tão transformados, aculturados, urbanizados.” Eu digo que nós, brasileiros (independente da cor, da etnia, da origem dos antepassados), mudamos, mas ainda precisamos aprender o que Alencar tentava ensinar a partir de suas lendas: união, respeito, amor. É através da leitura da guerra com honra, dos generosos chefes, do amor em sua face mais pura, da importância às origens, do respeito e da busca pela harmonia, que os jovens de hoje podem aprender na escola mais que macetes para vestibular. Ao se permitirem aventurar-se com Jaguarê, poderão, como Ubirajara, desenvolver-se, amadurecer e, quem sabe, comungar com mais de uma cultura.

Ana Kita

Título: Ubirajara
Autoria: José de Alencar
Editora: Ática
Ano: 2000

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quanto a ter seu lugar ao sol - Parte 1

        Homens e mulheres desde seus primeiros minutos de vida parecem buscar seu lugar ao sol, aliás, pareciam. Hoje esta busca me parece transformada: estamos na era da competição. Não basta ter seu lugar ao sol, precisa ser o melhor lugar, ser visto e bajulado por isso. As crianças não são educadas para seguirem seus sonhos e conquistarem seus objetivos, mas para serem os melhores naquilo que seus pais julgam ser mais adequado (isto é, de mais valor). Falando nisso, os valores não são respeito, responsabilidade, igualdade, fraternidade, liberdade, ou qualquer dessas coisas que já soam arcaicas. Hoje o valor é monetário. Mesmo ser o melhor, ou ter mais sucesso, também é qualificado pela quantidade financeira. Não se é bom professor se não se ganha muito. Aliás, como "professor ganha uma miséria", ser professor não é bom. As profissões de sucesso são: jogador de futebol, cantor, médico, engenheiro e arquiteto. As primeiras é melhor não tentar, a não ser que cai do céu devido ao seu dom. As três últimas devem ser almejadas, sempre. Senão como escolha na faculdade, como escolha de casamento! Também o casamento já não é fórmula de felicidade, a não ser que seja num castelo europeu com um empresário milionário e não gere mais que um filho. Ah, fique bem claro: filhos são despesas.
        Nessa sociedade tão preocupada com chegar ao topo - se é que ele existe! -, as despesas são um atestado de sucesso ou fracasso. É preciso consumir muito, contratar muitas pessoas - aliás, muito pouco se faz, tudo se compra pronto ou solicita que o outro faça - e obviamente a conta é grande. Quanto maior melhor! Quem não consegue pagar, mas consegue driblar ainda está bem - não é por acaso os altos índices de inadimplência -, agora quem não consome porque não pode pagar, ah, fracassado! Prega-se isso o tempo todo, das igrejas às escolas. Acha que exagero? Pensa bem, quem não paga o dízimo ou não faz "contribuição voluntária" é bem visto? Tem os direitos na comunidade como os demais? E quem não traz o que o professor solicita? Não tem lápis, caneta ou não vem todos os dias uniformizado? Quem estuda na escola pública é o melhor? Ou vir de uma família de sucesso é ter tênis caro, material novo e estudar na escola mais cara da cidade? Chegando é claro, de motorista numa BMW.
        Tudo isso pode ser forte e muitas pessoas ainda não pensam desse jeito, embora "comunguem" sem nem perceber. Mas, há ações simples para estar e inserir outros nesta era competitiva. A madrinha ou a mãe não acha a criança linda ou inteligente, diz: "Você é a coisa mais linda desse mundo!", "Meu filho é o mais esperto da classe.". O professor não elogia ou critica a turma, compara: "Vocês terminaram bem mais rápido que a outra turma, parabéns!", "Na outra sala consegui explicar todos os exercícios, agora com vocês...". Pra quê? Pra que eu me pergunto! Qual a necessidade de tanta competição? Na minha época de escola a preferência na Ed. Física eram os esportes coletivos, como treinos para as "olimpíadas" - semana de competição entre classes -, hoje - ao menos na faculdade - valoriza-se outras abordagens: os jogos cooperativos (aqueles tão cobrados em entrevistas de emprego), as atividades recreativas, a dança, a ginástica, as lutas. Não precisamos incentivar a competividade, que já é natural ao ser humano, é preciso estimular a vencer nossos próprios obstáculos, ter ética, princípios, amigos!

Ana Kita

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Carta a ti: que é preciso deixar marcado

Joinville, 03 de setembro de 2012.

        "Tem gente que espera uma vida inteira até ela [uma notícia boa] chegar", mas tem gente, como nós, que esperou uns 20 anos (você um pouco mais, eu um pouco menos) e a felicidade plena, de verdade e palpável chegou.
        Tem dias, como ontem, de que preciso de um abraço forte. Um abraço realmente forte para acreditar. Acreditar que está comigo, que é real, que não vai passar como um sonho bom na manhã seguinte. E não é que a manhã já chegou? Você me deu aquele beijo matutino, as horas voaram e não vejo a hora que o beijo vespertino chegue. E vai chegar! Ah, que deliciosa a certeza de que vai chegar. De que a despedida é temporária e o retorno vem logo. Que pode anoitecer e nada vai nos separar. A mesma cama, o mesmo lar.
        Desde ontem passei a gostar de fazer compras de mercado. Bom, a nota fiscal e minha carteira nitidamente mais magra não me alegram muito. Mas, escolhermos e comprarmos juntos, ponderarmos e cedermos... Ah, não podia ser mais gostoso! Colocar no carro, chegar em casa e guardar. Abusar um pouquinho, fazendo e comendo petit gateau domingo à noite. Que delícia essa vida a dois.
        Hoje só tenho a agradecer por essas três semanas de muita muita alegria e a pedir que a rotina não nos consoma e o amor seja sempre resistente. Sei que podemos. Podemos vencer tudo, desde que juntos, podemos ser pacientes e pedir desculpas quando necessário. Assumir nossos erros e perdoar os do outro. Driblar o mau humor e a preguiça. Persistir e não se deixar abater quando o outro estiver pra baixo. Pedir ajuda para levantar e se oferecer quando o outro estiver de cara fechada. Dar um sorrizinho mesmo quando o outro estiver triste ou brabo. Falar a verdade, pedir e saber ouvir a verdade do outro. Surpreender e deixar-se ser surpreendido. Abraçar, proteger, cuidar e amar. Principalmente amar.

Com todo meu amor,
sua pequena (namorada/noiva/mulher),
Ana.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Carta ao pai 22: Felicidade e saudade

Joinville, 21 de agosto de 2012.

        Pai, que saudade de falar contigo, visitá-lo, assistir filmes juntos, acabar dormindo. A saudade bateu tão forte hoje, pai, que eu suportaria nossos passeios de carro sem destino, até uma viagem de bate e volta para a praia (voltando cheios de areia, como sabe que eu detesto). Engraçado como depois que tudo passa, só fica a saudade. Saudade de ter vergonha de dizer que estou com fome, ou de que já quero ir embora. Saudade de ficar imensamente feliz porque fez panquecas ou macarronada pensando em mim. Saudade até de ficar com mais saudade porque o cardápio seria buxada. Saudade de encontrá-lo, de festejar contigo. Saudade de saber que chegará, ainda que atrasado.
        Ah, pai, completei 20 anos, fiquei noiva, estou morando com o futuro pai dos meus filhos. Tenho um carro e estou começando a dirigir. Comprei um coelho, demos o nome de Tuik, e o adoro. Pai, tudo isso é tão bom e me deixa tão feliz, mas mesmo no melhor dos momentos sinto sua falta, talvez especialmente neles. Como queria compartilhar tudo isso com você, ver seu sorriso e sentir seu abraço. Sabe aquele seu jeito de perguntar sobre meu futuro, ah, pai, você parecia o único que acreditava nos meus sonhos mirabolantes. Eu estou mesmo cursando Letras, não em Minas Gerais, nem com habilitação também em espanhol. Não publiquei nenhum livro ainda, mas já fui revisora de dois (um terceiro a ser publicado em breve) e já tenho um artigo publicado em Anais. Não fui morar sozinha, nem já sou mãe. Acontece que sonhar já era muito bom e viver - mesmo que cheio de adaptações - é maravilho, pai. Só falta você. Parece melancólico demais, mas a verdade é que falta mesmo você. Eu faço um projeto de Iniciação Científica sobre a morte na literatura e mesmo tendo tantas fundamentações teóricas, penso simplesmente que você devia estar aqui. Não é que eu mesma não compreenda a finitude da vida, ou não possa entender que há razões ocultas nisso tudo. Não é que eu não saiba que você está bem e que todos nós também ficaremos - inclusive estou muito feliz, pai. Acontece que a saudade é um pisca sempre acesso, especialmente por você. Fica piscando sem parar nos dias de sol e também nos de chuva, parece sirene policial nas datas comemorativas e agora parece até que vibra.
        Eu o amo muito, pai. E só queria dizer que estou muito bem, ainda que com saudade. (Um lágrima escorre pelo meu rosto e lembro que não preciso disfarçar.)

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A noiva

"Vem me fazer feliz, porque eu te amo..."

        Não vem nenhuma noiva toda de branco, mas estou aqui. Ontem mais de preto que de branco, aliás no dia do noivado (11 de agosto) também, e hoje de azul. Ah, tudo azul! Sem céu estrelado, já bastavam as estrelas de nossos olhos apaixonados, mas com aquele brilho, aquele sorriso de família - agora famílias - reunida. Era pra comemorar meus 20 anos, e acabou que só pensei em nosso noivado. Na verdade, é só no que tenho pensando. Que vontade de ganhar muitos parabéns e contar pulando de alegria a todos que comigo se alegrarão. Mas, não precisa, quem puder ver saberá reconhecer meu olhar e minha felicidade... Nossa!
        Ao contrário do namoro, casamento e nascimento dos filhos, não passei infância e adolescência sonhando com esse momento, na verdade em meus planos nunca costumava aparecer, até chegar perto e, aí sim, ansiar. Não precisava de nenhuma pompa ou circunstância, bastava-me aquele primeiro tímido pedido, numa tarde dessas, "noiva comigo?", mas o comunicado, o anúncio... Bom, é rito de passagem! Mesmo a vergonha de falar na frente de todo mundo, ah, precisávamos passar por isso. E conseguimos: com êxito! Mais que isso, com alegria, alegria de todos.
        Olho pra trás e vejo que já estava escrito, mesmo. Nossa história nos trouxe a esse momento de forma brilhante, linda e amorosa. Nossas vidas se programaram e nos empuraram um para o outro, um mais enfeitiçado pelo outro. Defeitos? Quem não os tem? Temos amor, temos compreensão e paciência. Temos uma vida a dois em construção!

Ana Kita


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Letrando na vida...

        Já não lembro dos métodos que usaram para me alfabetizar, mas o letramento... Ai, que delícia! Hoje, cursando licenciatura em Letras, vejo que algumas professoras foram um pouco quadradas e exploraram menos do que deviam ou podiam, ainda assim tenho muito orgulho do meu processo de letramento. Desde os livros que minha mãe trazia, me dava e contava. Das placas e outdoors lidos na rua como conquistas gigantes de criança em processo de alfabetização. Dos poemas e contos que eu escrevia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Das competições com meu irmão de "quem lê mais rápido". Das cartinhas, cartões e bilhetes para meus pais, amigos e "paqueras", passando pelo ensino do gênero carta na escola. Dos meus textos poéticos mais românticos e elaborados no Ensino Médio. Até das dissertações e dos textos acadêmicos que me fazem perder tanta literariedade, mas ganhar conhecimento, seriedade e vocabulário. Que delícia é ler!
        Tenho admiração e fé de que estou construindo uma relação (em breve, uma família) também letrada, aliás, fundada na linguagem verbal de maneira companheira e linda. Embora eu possa corigi-lo (e chatea-lo, ou pertuba-lo) na oralidade, encanto-me com as mensagens, cartinhas e até com os objetivos e-mails. Ganhei um caderno, depois mais um, com uma linda caneta (digna de escritora famosa) e o livro "Eu te amo" (de Gabriela Nascimento Spada e Souza, pela Rideel), ainda nos dei o livro "Adivinha quanto eu te amo" (de Sam Mcbratney, pela Ed. Martins Fontes) e ganhei (da sogra) outro lindo caderno. Emprestei livros, sugeri leituras, lemos juntos para trabalhos acadêmicos, enfim, permeamos nosso amor com escritos e leituras. Mais do que sonhei, encontrei alguém para compartilhar, acrescentar, transformar, alguém com quem ensinar e aprender. Alguém a quem eu tenha vontade de - indiferente à gramática - dizer, escrever e repetir: Te amo!

Ana Kita

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ter 20 anos!

        Ter 20 anos é sentir-se dono do mundo e perceber que ainda não viveu nada. É olhar para o céu e ver os desenhos das nuvens de sua infância, o luar daquela noite de amor e as luminosas estrelas dos que já partiram. É ver a formatura chegando, o casamento batendo à porta e sentir o cheiro de filhos vindo. De repente, olhar pra trás e ver que as coisas demorarão bem mais do que esperava e dizia. Aliás, notar que dizia um monte de bobagens. Assim, como desejava coisas inúteis, fazia de pessoas sem nada a acrescentar seus amigos, deixava de fazer coisas significativas por pura preguiça (e ainda o faz, mas sabe-se lá quando perceberá a importância das de hoje), gastava dinheiro demais com guloseimas. Ah, que vontade de ter guardado mais dinheiro, de ter convidado as amigas pra brincar de Barbie, de ter falado mais com aquele menino. Que vontade de ter tirado mais fotos naquela viagem, de ter dormido mais vezes na casa das amigas, de ter levado notas menos a sério. E as vontades passam. Passam porque (ainda?) não há aquela nostalgia de querer voltar a ser criança de verdade, uma saudade, sim, mas passageira. Daquelas que são rapidamente substituídas pelo imenso desejo de ser adulto, de tomar suas decisões, de planejar e viver um futuro - numa nova família.


Ana Kita

Joinville, 7 de agosto de 2012.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ponto final.

Nasci ponto final. Já pode imaginar como foi: sem graça. Ninguém se empolgou. Olhavam e saiam. Cresci. Sempre acabando em mim. Ignorado quando seguido pelo egocêntrico parágrafo.
Na adolescência fiquei realmente chateado... Entre lágrimas virei reticências. Achei que sendo três seria realmente mais feliz, mas não... Viviam me colocando onde não devia, muitos sujeitos ficavam brabos comigo, fora quando me multiplicavam e......... Eu virava uma zona! Cansei! Decidi ser ponto de exclamação, era tão mais elegante e imponente. Eu queria mesmo chamar a atenção! Mas, ninguém queria ser meu amigo, achavam-me mandão e arrogante, só tinha companhia do tristonho ponto de interrogação... Pena que juntos confundíamos muita gente, ficava sempre aquela discussão: Sou eu antes? Não, sou eu! Será!? Desisti dessa vida, queria uma namorada! Então, eu a achei, numa dessas pausas da vida. Ah, minha querida vírgula. Tão linda, tão delicada. Juntos éramos uma dupla infalível, finalmente eu era visto em minha forma e, mesmo assim, notado. Eu vinha até antes dela, sem confusão. Acontece que era uma vida pacata demais, pausada, sempre à espera. Fui procurar uma namorada de infância, minha prima também ponto. Ser dois pontos sempre foi muito divertido, ora por cima, ora por baixo. Anunciávamos travessões, palavras e os antipáticos parágrafos. Volta e meia eu via minha ex, sempre acompanhada das amigas, me causavam arrepios, até que... Ela começou a namorar outro ponto! E fim: decidi dar um ponto final naquilo.

Ana Kita

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O poeta

        Poeta não faz aniversário. Poeta é como uísque, envelhece. É como software, está sempre sendo aprimorado. Como fruta, tem sua fase de amadurecimento, mas não cai do pé. Poeta não morre nunca, deixa de criar. Poeta se perpetua na arte, na publicação, na leitura. Poeta não faz pro outro, floresce, transborda. Poeta não duvida, cria inquietações; poeta não pensa, reflete; poeta não mente, inventa; poeta não erra, tem fases. Poeta não se revela, revela o mundo. 

Ana Kita

sábado, 21 de julho de 2012

Uma crônica de TPM

        Por que junto das orientações de comer verduras, levar casaco, combinar tais cores, como usar absorvente, não nos dizem sobre ser paciente com os homens? Remédio pra cólica, marca de barbeador e de shampoo, cabeleireira confiável, não nos preparam para passar o sábado esperando-o jogar, trabalhar ou dormir. Aviso das lojas com descontos, dicas para fazer unha, receitas de família, nada, nada disso pode nos fazer menos sensível e menos carente naqueles dias. Nem os farão deixar de virar pro outro lado da cama, comer o último pedaço do bolo - depois perguntar: "você queria?" -, passar 90 minutos sem piscar em frente a TV, olhar-nos como se fôssemos fúteis só por termos ficado umas horas comprando roupa, deixar a toalha molhada em cima da cama e a tampa do vaso aberta. Homens são assim, uns mais, outros menos, mas inevitavelmente seu "príncipe" encantado não notará sua produção, não gostará dos sapatos pefeitos que você comprou, a elogiará quando estiver desarrumada, usará meia furada e perguntará se pode ir com aquela blusa velha que você odeia. E, na verdade, a vida vem nos preparando pra isso desde que nascemos, tiram-nos a chupeta, dizem "não" pro nosso pedido daquela linda - e cara - boneca, dão-nos regras e horários, colocam presunto no nosso queijo-quente, nossa amiguinha de infância sai da escola, acabam os chocolates, as balas e o Nescau da dispensa, a professora nos tira de perto daquele gatinho, você pede bem passado e o garçom traz um bife sangrando, sua mãe finalmente permite que você vá
àquela festa com a condição de ir com sua amiga, aquela que o pai não deixou ir, o menino pelo qual você é apaixonada pede ajuda pra conquistar sua melhor amiga, sua melhor amiga fica com ele, seus pais decidem que você deve estudar no outro turno, você quebra o braço na semana daquela festa, vai à padaria toda desarrumada e encontra seu vizinho gato, vai para a praia no fim de semana com o maior índice pluviométrico do ano, chega no aniversário e dá de cara com uma menina com o vestido igual ao seu, seu salto quebra na porta da balada, enfim, há decepções de todos os tipos, grandes e pequenas, coisas que simplesmente precisamos aceitar. Os homens não são decepções, mas é preciso aceitar que volta e meia eles nos magoarão, chatearão, irritarão e até decepcionarão. Eles não mudam, nós não mudamos. Dias após dias, meses, e, mesmo após anos,  volta a acontecer uma coisinha a toa dessas, podemos chorar, eles ficarão surpresos, talvez haja brigas... No fim do dia os sentimentos se assentam e nos achamos bobas, até... que se repitam. Quase ninguém diz, ou não sabemos ouvir, mas o sol nasce de novo. 

Ana Kita

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Simples como a narração, complexo como a poesia

Resenha do livro juvenil: “Branca como o leite, vermelha como o sangue"

        O escritor italiano (doutor e professor em Letras) Alessandro D'Avenia estreia com o livro "Branca como o leite, vermelha como o sangue" no universo editorial. Mais que isso, brinca de perfeição, pois do título - misterioso e pautado em Italo Calvino ("O amor das três romãs", em Fábulas italianas) - e da capa - linda e aveludada -, passando pela genial diagramação, até cada uma das palavras escolhidas (mesmo que a mim chegadas em tradução) encanta e surpreende.
        Tenho dificuldade em encontrar palavras pela tamanha densidade poética e filosófica da obra. Vários outros "resenhistas" possíveis de encontrar na internet, optaram por parafrasear a sinópse encontrada nas orelhas do livro, mas pra mim dizer apenas que Leo (o narrador e protagonista) é um jovem típico de dezesseis anos que durante um ano letivo aprende muito sobre a vida e a morte compartilhando suas experiências neste monólogo, é menosprezar o livro por seu enredo e escolha linguística de aproximação ao jovem de hoje.
      Prefiro dizer que com raízes cristãs, ainda que criticadas e refletidas durante a narrativa, o livro traz uma nova perspectiva literária para jovens e adultos, algo que bebe da fonte do simplificar - trazendo tão próximo da realidade juvenil ("fodido", Ipod, SMS são partes constitutivas da obra) e do complexar - sendo poético, trazendo milhares de referências atuais e históricas, além de refletir sobre amor, paixão, morte, sistema escolar, educação, relação entre jovens e adultos -, isto é, se for possível ser contraditório e ser redondo. Talvez seja esta a fórmula mágica que faz deste livro uma super indicação, utilizar esta característica tão própria da juventude (as dúvidas, contradições) para narrar poetizando. Enfim, é um livro que envolve, pede pra refletir, emociona e, como minha pesquisa defende, traz o conceito de morte desmistificado.      

Ana Kita

Título: Branca como o leite, vermelha como o sangue
Autoria: Alessandro D'Avenia
Tradução: Joana Angélica d'Avila Melo
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2011

Relato de uma falta - Ana Kita

        Eu lia um ótimo livro e queria compartilhar, mas ao ler um trecho em voz alta e pedir seu comentário: o silêncio. Não foi o silêncio de quem pensa em outra coisa, mas de quem não presta atenção. Puro ignorar, do mais doído. Baixei os olhos para o livro, li um pouco e o olhei novamente. Continuava intacto, como se eu nada tivesse falado e nada tivesse me magoado. Mostrou um coração no croissant que comia, então não resisti: O meu está partido. E perguntou, como preocupado: Por quê? Eu falei e você nem me aí. Então fale de novo. Não quero mais. E silêncio! SILÊNCIO!? Não pude acreditar, disfarcei lendo, ou tentando. Mas, simplesmente ele aceitou. Pior que partir um coração é não sentir nada por isso. E a dor, que já era imensa, cresceu.
        Olhei-o ainda mais umas três vezes, como dando chance, ou implorando uma ação, reação. Ele estudava ou apenas me ignorava. Então me olhou e falou qualquer coisa sobre estudar. Eu não devo ter escondido minha mágoa, e uma perna passou na minha. Não que bastasse, mas me alegrou. Pareceu então que era possível um reconciliar.
        Quase uma hora depois a palavra: DESCULPA por ser... E uma interrupção, um beijo de quem ainda acredita que pode ficar tudo bem.

        "Os gregos diziam que originalmente o homem era esférico e que Zeus, para castigá-lo por seus malefícios, o dividiu ao meio. As duas metades vagam pelo mundo e se procuram. A saudade as impele a procurar cada vez mais, e, quando se encontram, aquela esfera se reconstitui. Esta história tem algo de verdade, mas não é suficiente. Quando se reencontram, as duas metades já viveram suas vidas até aquele momento. Não são as mesmas de quando se deixaram. Suas bordas não coincidem mais. Têm defeitos, fraquezas, feridas. Não basta que se reencontrem e se reconheçam. Agora, também precisam se escolher, porque já não combinam perfeitamente, e só o amor leva a aceitar as arestas que não se encaixam, só o abraço atenua essas arestas, mesmo que doa." (D'AVENIA, 2011, p. 348)

Ana Kita

Referência: D'AVENIA, Alessandro. Branca como o leite, vermelha como o sangue. Tradução de Joana Angélica d'Avila Melo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ah...


        Há quem diga sobre a eterna busca daquela primeira sensação. Do primeiro beijo, o primeiro amor, o primeiro olhar, o primeiro dia de aula, a primeira folha do caderno, o primeiro raio da manhã, o primeiro pôr-do-sol. Eu digo da frequente busca por satisfação. Nunca chegamos no primeiro, ele esteve lá, sem que nos déssemos conta, geralmente anos depois que o notamos e valorizamos. Mas, a satisfação, aquela alegria, o deixar do cansaço, da mágoa, da tristeza e da raiva, por um momento de prazer, ah, buscamos o tempo todo. Seja abrindo uma página de Rede Social no meio do trabalho, seja olhando a foto do namorado, pai, filho ou até mesmo do cachorro, seja almoçando rápido para um beijinho ainda mais rápido, seja fazendo uma viagem de dois dias, ou passando o domingo na cama. Comendo brigadeiro na panela, comprando aquele sapato lindo - mas, caro -, indo ao cinema no meio da semana, curtindo um show na sexta à noite.
        Você tem milhares de desculpas para não ceder à tentação de correr para uma satisfação. Seu chefe vai brigar, você está sem tempo, sem dinheiro, não faz bem, cheia de coisas pra fazer, precisa emagrecer, precisa economizar, o que é que vão pensar?, está muito cansada. E entre tanto blablablá, se consegue escapar se faz tão bem! E faz ao outro feliz também, e transborda. É como na época da escola, acordar cedo no sábado e ver como o dia valeu a pena, rendeu, perdurou, ficou pra memória. É como jogar bola na lama. Tomar banho de chuva. Comer sorvete no inverno. De certa forma, é fugir das regras, do sistema, da pressão, ou ao menos, ter prazer semelhante ao "fazer escondido", "comer o fruto proibido". É libertação!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Resenha por cá, resenha por lá...

        Queridos leitores, venho convidá-los a visitar o Blog do PROLIJ. Para quem ainda não sabe: PROLIJ é o Programa Institucional de Literatura Infantil Juvenil da UNIVILLE (Universidade da Região de Joinville), em que trabalho como estagiária. Sou a responsável pela atualização do blog e também agora, em reta final do meu projeto de pesquisa sobre a morte, contribuirei com algumas resenhas.
        Clique aqui para ler minha resenha do livro Apenas um curumim, de Werner Zotz. Indico!

Ana Kita

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dizeres a serem ditos

      Há coisas que simplesmente preciso dizer. Há quem não queira, há quem diga que não devia. E o que eles sabem? O que sabem de mim? Tampouco sabem quem ouvirá (lerá). Se é que haverá. Não quero ser redundante, nem ficar apenas brincando com as palavras, mas, é preciso dizer aquilo que se diz num olhar, no silêncio, no suspiro profundo. É preciso dizer o que ninguém diz, o que muitos sabem e calam. É preciso dizer o que se tem vontade, o que se sente necessidade. É preciso dizer o que o outro não pode adivinhar. É preciso deixar de supor e passar a dizer. É preciso dizer até aquilo que o outro sabe, mas que faz bem ouvir. É preciso se permitir ouvir. Ouvir a si mesmo, aos outros, ao que é dito e ao que se deixa de dizer. É preciso querer ouvir. Não bastar ter ouvidos, não basta estar perto, é preciso vontade e empenho.
        Há muitos dizeres por aí, parados nas esquinas, sentados nas sacadas e calçadas, escondidos nos armários e debaixo das camas, empurados para os cantos, soterrados de poeira, envelhecidos e recém formados. Há até dizeres por aqui, perto assim, tão perto que quase não podem ser vistos. Há dizeres esperando e alguns sendo esquecidos. Há dizeres que nem mesmo no pensamento do sujeito estão bem formados, talvez seja medo. Há dizeres que estão na ponta da língua, mas de tanto ficar ali acabam por se afogar numa dose de cachaça barata. Há dizeres que só saem molhados, são ditos agudos ou choramingados, vão doloridos, mas não deixam saudades. Há dizeres que pulam dos sonhos, estão tão amarradinhos durante o dia que só conseguem fugir quando o sujeito dorme, pena que ninguém que escuta. Há dizeres que são gritados nas discussões e saem todos cuspidos e tortos, são ditos tão de pressa que perdem partes ou ganham outras, fazendo um mal danado. Há dizeres que são doces e sussurados, repetidos ao pé do ouvido, valem a pena quando vêm acompanhados.
        Entre tantos dizeres, penso quais quero dizer e saio por aqui dizendo. E você, o que tem a me dizer?

Ana Kita
       

terça-feira, 5 de junho de 2012

Quanto à imensidão e ao seu abraço

"Eu gostaria de estar ao seu lado
Correr pelo campo e fazer um gol" (Chiquititas)




        Mesmo em meus sonhos mais coloridos de menina, não podia eu imaginar a imensidão deste sentimento. É como milhares de campos de futebol, um arrozal sem fim, é feito o céu azul, ou o castanho dos seus olhos. Mesmo buscando em todas as canções românticas, não encontraria eu as palavras certas, talvez a melodia, mas não creia eu ser melhor que sua respiração. De todas as definições, a melhor é um abraço. Um abraço apertado, daqueles que não tem hora para acabar. Os corpos tão unidos que parecem apenas um. Os corações acelerados se ritmam, a respiração é única e tudo ao redor desaparece. Ficamos só eu e ele, aliás, só sentimento. Já não há corpos - a física não poderia compreender -, já não há espaço, já não precisamos de nada, somos amor e nos bastamos. Assim ficamos dias e noites, meses. Transbordamos e damos fruto. Somos plenitude e perpetuação. Já não sabemos quem fomos, tampouco pensamos o que seremos. Seremos. Somos.

Ana Kita

domingo, 3 de junho de 2012

Carta a ti: que preciso acordar e dormir

Joinville, 03 de junho de 2012.       

        Ver-te dormir: É suficiente pra mim te olhar dormindo, gera algumas dores se estás sobre meu braço, pode produzir um certo descontentamento se tenho vontade de passear, mas me enche de um sentimento tão gostoso... Sensação de te ter, te proteger, de não haver nada entre nós, nada que possa nos separar. Pelo contrário, soa junto de teu ressoar uma certeza de que estamos juntos, realmente juntos, para sempre unidos. Posso admirar-te, acariciar-te e sorrir, e como sorrio. Satisfeita de ter chego até aqui, meu sorriso esbanja a alegria de todos os cantinhos do meu ser, enche-me de orgulho por ser merecedora de te ter. E acabo por também dormir tranquila sabendo que ao acordar ainda te terei ao meu lado. 
        Acordar ao teu lado: Quero despertar antes de ti, pra de tanto te olhar ver-te abrindo os olhos e as covinhas aparecerem. Sentirei teu beijo constrangido no primeiro instante da manhã, verei os olhos entreabertos emanando aquele brilho tão teu. Impossível não rir da tua preguiça ou tentar - sem sucesso - entender tuas repetidas frases desconexas. Voltar a dormir um minutinho mais é a melhor coisa que pode nos acontecer, mais um pouco abraçados, fingindo que o mundo não existe e não nos chama às obrigações. Vamos pedir que o fim de semana se repita e segunda não chegue tão rápido, a vida só você e eu é tão gostosa.
        Vem, dorme comigo!

Com todo meu amor,
sua pequena,
Ana.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Saudade - Ana Kita

      Queria uma palavra, e uma única - e tão pequena - me chama. Procurei, então, uma imagem e só seu rosto me veio a mente. O corpo pesou e tentei adormecer. Faltou-me, então, seu cheiro e seu calor para que o sono viesse e trouxesse com ele meus melhores sonhos. Que falta me faz você.
        Até as aulas de matemática me soam aos ouvidos: conjunto vazio. Bem assim me sinto. Já não sou só, já não termino em mim. Mas, de repente uma ausência que domina, paraliza. Espera.

Ana Kita

domingo, 13 de maio de 2012

Carta a mãe

Mãe, quando tudo fica negro, seco, frio ou difícil, tenho a você. Quando já não há ninguém que possa me socorrer, sei que ainda posso contar com você. Quando a melhor coisa que podia me acontecer ocorre, é com você que quero compartilhar. Você é sinônimo de companhia, de amizade, de cuidado, de carinho, de razão e de amor. Você é meu ideal de honestidade, beleza, confiança e sabedoria. Sempre me apoiou, admirou, falou a verdade - mesmo quando eu não queria ouvir -, acima de tudo me amou e esteve ao meu lado, inclusive para me levantar se preciso fosse. Hoje sou eu quem a admira, apoia, fala a verdade - mesmo quando rejeita ouvir -, acima de tudo a ama e está ao seu lado. Amo você, mãe, pelo que é, mas também pelo que sou. 
Agradeço cada sorriso, cada lágrima, cada colo, colher na boca, fralda trocada, gota de leite, cada história contada, minuto para ouvir e palavra para aconselhar/ensinar, cada vez que estendeu-me a mão, cada almoço/janta/café, noite mal dormida e/ou espaço em sua cama, cada telefonema perguntando como eu estava, presente e mensagem carinhosa, surpresa, cada bronca, cada elogio e cada incentivo. Agradeço por confiar em mim e fazer de tudo para que eu também confie. 

Com todo meu amor,
filhota, Ana*.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Carta a ti: que é preciso desejar

Joinville, 04 de maio de 2012.

        Desejo. No fim - no meio e no início - não é apenas isso? O ser humano é movido por desejos, dos mais bobos e simples, aos mais utópicos e transformadores. Eu sou. Aliás, eu desejo. Está lá o substantivo e aqui o verbo, está o tempo todo, em todo lugar, torna-se um sujeito que vive entre nós, dentro de nós. O desejo atravessou a cidade e me chamou a viver contigo, conviver, querer-te. O descarado, desejo, sussurou no teu ouvido quanto tempo sem uma carta e confessaste. O desejo me visitou nesta manhã fria, tipo nublada com sol e chuva, e aqui estou, sanando desejos, pensando em mais. 
        Hoje em dia, meu desejo tem cara de 20, quase 20 anos desejando. Desejo 20 beijos por dia, 20 palavras amorosas, 20 minutos abraçados, 20 minutos em silêncio ao acordar. Desejo um exercício diário de no mínimo 20 minutos, umas 20 atividades físicas diferentes, um passeio de 20 km pelo menos, conhecer uns 20 lugares por ano. Desejo uns 20 mil sonhos para nosso futuro, uma família com uns 20 integrantes, ver nossos filhos chegarem ao menos aos 20.  Desejo 20 meses de espera, 20 dias juntos, mais de 20 anos casados e felizes. Desejo 20 renovações de amor, 20 novos motivos para nos amarmos todos os dias, 20 álbuns para contar nossa história. Preciso dizer que 20 vezes nem sempre é suficiente para dizer que eu te amo!
        Entre tantos desejos múltiplos, desejo apenas a ti. Estar contigo, casar contigo, ter filhos teus, fazer-te feliz, planejar contigo, realizar sonhos contigo, viajar contigo, comemorar contigo, dormir e acordar ao teu lado, zelar teu sono, cozinhar para ti, comprar-te presentes, surpreender-te, admirar-te, torcer por ti, cuidar de ti, ser pra sempre teu amor, amar-te por toda minha vida, desejar-te sempre mais.  E mais.

Com todo meu amor,
sua pequena,
Ana.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quanto ao que não saberei e ao que sei

      Nunca saberei se leu as cartas que não enderecei. Nunca saberei se consegui um sorriso ou uma lágrima sua. Nunca saberei se teve vontade de responder ou de apagar. 
      Nunca saberei se gostou de mim, por um dia apenas. Nunca saberei se teríamos dado certo, um mês que fosse. Nunca saberei se a esqueceu, ou se será para sempre feliz com a outra. Nunca saberei se foi erro meu ou acaso do destino. Nunca saberei o que podia ter feito diferente. Nunca saberei se mentiu para mim ou para você. Nunca mais me importarei em saber. 
      Houve quem dissesse "só sei que nada sei" e ficou para a história, não creio que eu tenha realmente marcado a sua, mas eu sei o quanto lhe quis bem. Hoje sei o quanto a vida nos põe à prova, depois consola. Sei que não era para ser. Descobri um amor maior, daqueles avassaladores e verdadeiros. Encontrei por fim o que todos procuramos: alguém que caiba em nossa luz, e a transborde. 

Ana Kita

sexta-feira, 30 de março de 2012

Infância, adolescência e adultez

       Hoje andando 15 minutos a algumas quadras da minha casa me senti como há muito tempo não me sentia: adolescente, isto é, não adulto! Sabe? Sem tanta responsabilidade, preocupação ou sempre com pressa. Foi só uma sensação, eu não tinha muito tempo e estava indo imprimir um trabalho da faculdade. Mas, foi tão bom. O vento do outono no fim da tarde me fez pensar naquele típico clichê "que saudade da minha infância, aquele sim que era um tempo bom". Não que eu acredite que seja a infância tão melhor assim, talvez nem seja a melhor fase das nossas vidas, é normalmente apenas no fim da adolescência que tomamos finalmente "as rédeas". Não é isso que desejamos afinal? Sermos livres, independentes, escolhermos a direção? Talvez não, dá saudade justamente por não ter que escolher tanto, pensar tanto, planejar tanto, criar prioridades, economizar, ser racional, fazer dieta, dormir pouco, trabalhar muito, organizar o tempo... Ah, realmente não é fácil chegar na tão sonhada "fase adulta"! Acontece que é preciso passar por tudo isso, viver na agilidade e ingenuidade da infância, na tensão e transformação da adolescência, na atividade e correria da adultez, e, não sei ao certo, mas me parece que também na sabedoria e tranquilidade da velhice. É sim, é preciso viver. Desenvolver-se, aprender e ensinar.

Ana Kita

sábado, 17 de março de 2012

Cópia de livros e livros...

      Você, leitor, como eu já ouviu/leu sobre a análise política de as cópias de obras integrais serem liberdas para uso não comercial (ou seja, apenas particular)? Se não, faça como eu e leia um pouquinho no Blog do Galeano (eu li este e esse artigos).
       Tendo lido/ouvido ou não, pode ler agora um pouco da minha reflexão a respeito... Eu não sou nenhum nome de destaque da política (nem gostaria) ou da literatura (quem sabe um dia), mas é certo que faço parte dessa sociedade leitora que nem sempre tem condições de comprar os livros que gostaria. Estudante universitária do curso de Letras de uma instituição particular, pibiqueira (PIBIC, pra quem não sabe, quer dizer Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, portanto sou bolsista através da elaboração de uma pesquisa científica), aspirante e amante da leitura sou a típica pessoa que poderia adquirir um livro por dia. Não que eu seja uma rata de livros ou que os leia em tempo recorde, mas há sempre indicações que eu gostaria de conferir, clássicos que desejo possuir, teóricos que preciso conhecer e livros para meu prazer que me autorizo ler (risos, mas adorei a coleção "O diário da Princesa" e as obras que li de Paulo Coelho também me facinaram).
        Acontece que, para dar um exemplo prático, numa única disciplina do meu curso este ano o professor sugeriu três livros que seria bom possuirmos para embasar os conteúdos de sala de aula, consultar para pesquisas e ter em nosso acervo profissional, simplesmente cada um deles custa cerca de R$100! Bom, daí, você pensa: "ah, ela reclama de mais, vai fazer direito ou medicina pra ver!". Pode até ser, acontece que indiferente do quanto poderia ser mais caro ou serem mais livros, isso é apenas uma das 9 disciplinas que tenho este ano, e desculpa, trezentos reais não têm caído do céu para mim, não! Outro argumento seria "ah, nem todo professor sugere livros", sim, é verdade, alguns só fazem uso de artigos ou pequenos capítulos, sendo assim facilmente acessível na biblioteca ou na própria internet. Mas, sejamos francos, que aluno interessado em realmente aprender e ser um profissional de ponta pode se prender apenas às indicações e sugestões dos professores? Além de todos os livros exigidos ou sugeridos, têm os literários que se precisa conhecer para entender as teorias, aqueles que se gostaria de ler e os livros que serão usados em pesquisas a parte do currículo obrigatório. Afinal, tem pesquisa, extensão, ESTÁGIO, TCC! E vida, não é mesmo? Poderia, ainda, citar todos os index de textos de nossos próprios professores que nem sempre se resumem a umas poucas páginas, as pastas e portifólios exigidas para organização desse material, todos os trabalhos impressos... Tudo isso é dinheiro usado em pról direto da educação, há ainda transporte, alimentação, moradia, vestuário e lazer, né? Enfim, não estou reclamando, é muito gasto e, sem dúvida, muita dedicação, contudo o retorno é diário e contínuo, aprendemos, descobrimos, produzimos e teremos frutos por toda nossa vida.
        Tudo isso foi só um panorama da minha vida universitária, como exemplo de muitas outras, o ponto não é esse, mas já vou chegar lá. Os livros, especialmente teóricos, necessários para o ensino superior são caros, sim, isso é uma verdade e ponto. Mas, esse não é o único problema, em cidades-não-capitais as livrarias não costumam ter em estoque (pelo menos na minha área essa é uma verdade quase que absoluta, dos livros mais caros aos mais em conta, simplesmente não se encontra, a não ser encomendando e aguardaaando), os mais antigos - geralmente os mais conceituados e elogiados pelos professores - muitas vezes estão em falta ou mesmo esgotados - ou seja, sem previsão de retorno às livrarias. Assim, nos resta recorrer aos sebos, bibliotecas e acervos particulares. Sebos! Na minha cidade (novamente aquela questão de não-capital, principalmente não capital-cultural) não há tanta oferta de sebos, tampouco encontra-se uma grande variedade de livros clássicos ou teóricos, menos ainda os raros e esgotados. Pode observar, incrivelmente os sebos estão cada vez mais lotados de best-sellers, auto-ajuda, revistas e gibis. Acho até interessante que os mais fáceis de achar e mais lidos sejam também os mais revendidos após serem "usados", é uma outra cultura (não me interprete mal, digo isso apenas porque eu sou o tipo de pessoa que se compra um livro de que gosta ou tem interesse jamais se desfará dele), por sinal uma outra questão que aqui não cabe. Bibliotecas! Ai, essa é uma antiga e complicada questão, sabe-se que grande parte da população brasileira se quer tem acesso a bibliotecas, havendo pessoas de classes socias menos favorecidas que nem sabem onde ficam a biblioteca pública de sua cidade, é uma questão cultural e politica, que novamente vou me abster de discutir. Enfim, as bibliotecas acessíveis aos universários, a própria da universidade e a pública muitas, mais muitas mesmo, vezes não possuem os livros raros e essenciais que só se conseguiria por acervo antigo. Quando essas têm os livros são poucos volumes e muito procurados; quando podem ser emprestados demoram a ser devolvidos (mesmo que para esse uso se pague multas altíssimas) e quando não, é complicado usar - que universitário tem tempo para ficar horas na biblioteca pesquisando e copiando à mão trechos importantes de grandes obras? Ah, xerox? Só de 10%, escolha bem! Há, então, os acervos particulares! Colegas sortudos ou professores bacanas que emprestam essas obras tão quistas. Novamente entra a questão de poucos livros para muitos necessitados, além do tempo reduzido para colher muita informação. Ah, quase me esqueci, nesses dois últimos casos há ainda a impossibilidade de sublinhar, anotar, marcar! Como retirar (tantas) informações essenciais de textos - geralmente difíceis - sem qualquer chance de anotação imediata nos trechos? Vale nesse caso o habitual "fichamento", mas este demanda ainda mais tempo e trabalho. 
        Tudo isso, outra vez, não foi o ponto que queria mesmo tocar, não que não sejam importantes, pelo contrário são critérios relevantes para se abrir questionamentos, sem dúvida. Acontece que o que realmente me intriga é o fato da análise ficar em torno do xerox e não dos livros! Quando há acesso limitado aos livros o xerox caseiro é feito, não há lei que controle o que acontece entre "quatro paredes", que nos digam as indústrias musical e cinematográfica. Ou seja, essa é a discussão mais inútil que já li! Posso estar sendo um pouco revoltada, normal, mas pense comigo: discutir a liberação "perante a lei" de algo que normalmente acontece e de que não se consegue ter o menor controle!? Cadê a lógica? A única vantagem desse assunto na mídia é abrir para uma parte maior da população as questões que aflingem os leitores, especialmente do mundo acadêmico. Agora sinto-me na obrigação de deixar minha "sugestão": Está mais do que na hora de haver discussão, olhar e reformulação sobre o universo editorial! Esse sim precisava de lei, incentivo e projetos para mudanças que beneficiassem não só os leitores, mas também os produtores (escritores, ilustradores, revisores, editores). Não há dúvida de que a redução de preços possibilitaria mais leitores, mais leituras (variadas, inclusive), mais escritores publicados (e outros profissinais da área), mais acesso à cultura... Enfim, uma evolução educacional, cultural, e, até, econômica.
        Passe essa ideia a diante!

Ana Kita

sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma sábia herança

Resenha do livro infanto-juvenil: “Vovô virou árvore”




        Não são poucas as pessoas que em conversas informais dizem algo como “pai e mãe não deviam morrer” ou “certas pessoas deviam ser eternas”, não se trata de falta de entendimento de finitude ou senso de realidade, apenas aquele medo da ausência e a certeza de que sentirá muita saudade. Mesmo quando se trata de idosos, se são bastante próximos a nós, não queremos “perder”, não é? Imagine, então, uma caçula de uma família de tartarugas que todos os dias passeia com o avô e ouve suas adoráveis histórias. A saudade seria imensa se não fosse um legado... Como repete o livro “E, devagar, devagarinho, lá foram as tartarugas pelo seu caminho.” Ficou curioso? Renda-se ao livro de Regina Chamlian e Helena Alexandrino, “Vovô virou árvore”, uma excelente história para crianças e adultos lerem, relerem e contarem. Pois há coisas que precisam se perpetuar.


Ana Kita


Título: Vovô virou árvore
Autoria: Regina Chamlian 
Ilustração: Helena Alexandrino
Editora: SM
Ano: 2009