quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poeminha doce: De volta

Àquela que me ensinou abrir as asas.


O pássaro volta ao ninho
Chega como desconhecido
Traz consigo um pouco de tudo
Alegra-se com a volta ao seu mundo

Ana Kita

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O esconderijo - Ana Kita

Escrevo-lhe, não por amor, não por ciúmes. Não pense bem, nem mal de mim, espere ao fim da carta e tire suas conclusões. Preciso lhe dizer para que não volte ao nosso lugar. Não é mais nosso. Nem lembro mais como chamávamos, talvez de esconderijo, talvez de ninho, mal lembro quem éramos. Com o nome que for ou que tinha que já não lhe pertence, compartilhei com outra pessoa. Peço desculpas, caso você seja apegado às nossas lembranças, acho pouco provável, afinal foi você quem jogou o que restava de nós como um papel usado como rascunho em ambos os lados. Você sempre foi assim, eu sabia, eu até gostava, escrevia onde estava em branco, em qualquer pedaço, mas algum pedaço que pudesse chamar de seu, que ninguém tivesse usado. Eu também fui uma página em branco. Escreveu muito e não quis virar a página, preferiu procurar outra, como sempre fez. Eu aceito folhas escritas, por isso hoje reescrevo minha história. Nosso cenário passa ser cenário de outra história, esta de amor, e ainda que possa haver semelhança entre os antigos e atuais personagens, são novos, com novos propósitos e um novo final. Tenho mais autonomia nesta história, posso criar e até decidir bastante coisa, fique feliz por mim. Possivelmente aprendi com você tomar as rédeas, ainda que eu achasse que já as tinha. É só quando termina uma história que podemos analisa-la direito, aprendi isso também.
Não vou me alongar. Sabe que ninguém mais vai lá, mas se for, possivelmente me encontrará. Não faça isso. Esqueça, como tem me esquecido, como vou me esquecendo. Quem eu era lembra com carinho quem foi, mas é só.

Ana Kita

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Amizades que partem - Ana Kita

   É péssimo perder um amigo. Seja pra distância, pro inimigo, para o destino inevitável da morte, ou para o desentendimento. É péssimo depender tanto de alguém que na sua ausência fica o nada. O buraco profundo dos perdidos, a saudade imensa que chama e chora. É péssimo, mas recorrente. 
   Eu queria que meus melhores amigos, de todas as épocas, tivessem o mesmo nome, assim quando um partiria o outro o substituiria como se aquele primeiro nem tivesse existido ou sumido. Se no fim eu me cansasse, tudo bem, eu diria que é mal do nome, não me acerto mesmo com fulano, chorava um pouquinho, e procurava um melhor amigo com outro nome.
   O vício de uma companhia é terrível, faz o usuário perder a razão, agir por impulso, fazer despropósitos, necessitar. O pior, do vício de uma companhia, é que nenhuma companhia pode ser eterna. Enquanto se pode saciar o vício a alegria é imensa e a satisfação parece plena. Aí rompe, e dói. 
   Não é assim. Cada amigo em cada época com seu próprio nome, com suas próprias manias, e seus próprios defeitos. Cada amizade com seu próprio fim. E um pedaço de mim que ficou com cada um. O nome não esqueço, só conhecer alguém com o mesmo nome que uma lágrima caí do coração e embrulha o estômago, enche os olhos de lembranças e a cabeça dói, é a ausência. Maldita ausência que fere os sensíveis.
   A ruptura faz com que uma análise do vício surja. Descobre-se finalmente que o mal esteve no vício e não no fim. O fim é consequência, é  novo começo. É aprendizado e saudade.


Ana Kita
   

Quanto às lembranças e aos guardados

   Peço perdão. Assim, quase publicamente. Ao amor que tenho, aos amores que terei. Sou uma pessoa fiel, especialmente aos meus princípios, entenda. Meu problema não é libertação, eu sei esquecer, sei não sentir, sei me entregar. Só me dói abandonar. As lembranças permanecem, em todos, por que tenho que jogar fora as cartas, as fotos, excluir as mensagens, os e-mails, as conversas? Toda vez que preciso tirar uma mensagem, é como se eu estivesse matando algo em mim. Eu sei que o passado é irremovível, mas a sensação de que estou apagando é terrível. Sou como uma velha senhora, que senta-se com os netos ao redor e precisa contar suas histórias, pode sempre que for preciso. Lembrar e remexer papéis e fotos é deixar vivas as lembranças, como se a moça e os rapazes vivessem em sua memória e fosse preciso visitá-los. Não quero apagar, não poderia apagar minha história, deixaria de ser quem sou. Então não me peça que apague os elos com o passado. São meninos e homens daquele tempo, quem são ou como são hoje já não me tocam, mas quem foram tocam quem fui. É assim, é natural. Todos têm suas próprias lembranças, eu só tenho essa necessidade de guardar material. Não é muito, não ocupa espaço, não preciso ficar revendo o tempo todo. Só preciso saber que estarão ali, que faço mais deles hoje e que se amanhã as coisas mudarem, posso rever tudo de belo que vivi.

Ana Kita

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Meu pequeno manifesto político

Querido leitor,
não vou me alongar, nem pretendo escrever mais que esta postagem sobre tal assunto. Mas, como "cidadã brasileira" me sinto na obrigação. 
Sou uma garota, você pode dizer, mas eu vejo tanta gente pensando como eu, que se eu tenho o "dom da escrita", e alguns leitores, vou utilizar. As eleições acontecerão em menos de uma semana. E somos nós quem decidimos. Os candidatos são vários, os cargos também, mais ainda somos nós, os eleitores, acima de todos os eleitos há quem governará o país. Não importa o resultado das pesquisas, na hora da eleição é só você e a urna. Eu nunca fui entrevistada, se você também não, já são dois votos. Não pense que seu voto é só um, e não pode mudar. Pode e fará a diferença, isso se for útil. 
Entendo aqueles que lutam por ideologia, que esperam mudanças gerais. Mas, gente, a eleição é agora. E o futuro do nosso país pelos próximos quatro anos pode estar na mão de uma pessoa despreparada, de uma pessoa manipulada, com ideias deturpadas, de caráter duvidoso. Conheço muita gente que não quer que isso aconteça, mas se anulará. No que isso vai ajudar? Não posso obrigar, nem influenciar ninguém, mas quero um país melhor. Para mim, para nós, para as futuras gerações. Não é hora de deixar que os outros decidam por você, os outros podem ser comprados, os outros podem não saber o fazem... Faço o certo, enquanto é tempo!

Deixo a reflexão, e peço desculpas por alguma chateação.
Abraços,
Ana.

domingo, 26 de setembro de 2010

Quanto à companhia e aos desejos

   Eu queria ficar só, e você apareceu. Quando se vai, até lembro o que é solidão. Mas, quando está, preenche tudo. E dura. Ah, como dura a sensação de tê-lo. Ainda lhe sinto, mesmo quando parte. Fico parte depois de um tempo, mas parte sua também fica. Fica na memória, nos móveis, na pele, na boca. Sinto seu cheiro, seu olhar. E quando me deito, fecho os olhos e posso sentir seu toque. Estaria mentindo se eu dissesse que não o desejo, isto é, que meu desejo não continua, não cresce do momento que está comigo, quando parte, até quando volta. Ele se multiplica, ele me consome. E você some. Eu não reclamo.
   É da saudade que sou feita, das lembranças e das ausências. Aprendi que descobrimos como valorizar as coisas em oposição, descubro o quanto sua presença me vale quando ela me falta. E que falta faz. Uma falta com cheiro de infância, com pipoca quentinha, uma falta que vira cobertor quando se esgota. Ah, como torço para que se esgote. Gosto de você sempre perto, olhando, falando, fazendo-me rir. Rio alegre, como um rio que só sabe seguir seu trajeto. Sinto-me leve ao seu lado, quero tocá-lo, olhá-lo, ah, como desejo beijá-lo. Despi-lo de seus preconceitos, de seus amores perdidos, de seus temores e traumas. Banhá-lo com meus carinhos e desejos. Entre tantos desejos, calo-me, o silêncio dos envolvidos, como quem não consente, mas sente. Ah, e como sente. Sinto que já não estou só e quero e gosto.

Ana Kita

Poeminha sentimental: Intenso

você tão mim
você e eu, só nós
explodimos por não mais caber
- num único corpo.

Ana Kita

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Poeminha sinestésico: Primavera

as flores, os frutos
as crianças, os bichos
sentiram a primavera chegando

e eu, tão presa em minha correria, esqueço-me de sentir
não ouço as cores
não cheiro os risos, nem as cantigas
não vejo os doces, nem os azedos
esqueço o gosto, o sol ou o vento

morro antes do verão chegar
(não vivi enquanto as flores brotavam)

Ana Kita

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Partir - Ana Kita

Escorreu uma gota, da testa. Ela que já tinha os olhos úmidos, e dor por toda parte, não se deu conta de que a gota na testa não tinha a pureza das lágrimas. Entre pensamentos doloridos, aquela gota pesada e vermelha escorria. Quando chegou nos olhos é que ela viu, a dor havia ultrapassado as barreiras. Sabia que tinha sido definitivo, que o fim era irremediável, mas a gota vermelha era um grito no silêncio. O amor sempre tão frágil, qualquer ciúmes, qualquer oposição, não. Ela sabia que não era assim, nunca tivera o amor dele e por isso terminara assim. Sem despedidas, sem chance de voltar. A briga começara sem razão, um motivo qualquer que já esquecera, mas a mão que a afagou hoje se ergueu, revoltou-se, e cheia de fúria a feriu. Ela chorava, não pela dor física, fosse um corte, um traumatismo pela queda, fosse desmaiar a seguir. Chorava pela despedida não amável, pelos sonhos que não realizaria, pelos bens que perdia. Tudo se dividia a sua frente, e ela já era tão parte. Ele que partiu, como partiu o vaso no chão, como quem pega as roupas para não mais voltar. Acertou a cara dela com a grosseria da palavra - galinha. Não comeu o jantar preparado com tanto carinho, não cedeu a ela de joelhos implorando que ficasse. Ergueu-a pelos braços, cuspiu sua raiva na cara, e a empurrou. Se ela caiu, problema dela, pensou ele. Partiu, imaginando que ela também poderia partir, umas vértebras com azar. Bendita hora que não tiveram filhos, foi seu último pensamento sob a gota vermelha.

Ana Kita

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Poeminha sentimental: Quando não se pode voltar

apelido, jeito, hábito
tudo tão lindo
fofo, como ela dizia

nome, postura, mania
quer se afastar
ela sente nojo.

Ana Kita

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Poeminha (música) sentimental: Carinho

gosto de lhe ver sorrindo
alisar seu braço
estar do seu lado
e lhe ver dormindo

devagarinho beijar seu rosto
tocar meus lábios em seu corpo
você ficando bobo
com o meu desejo

Ana Kita

domingo, 19 de setembro de 2010

Mini-conto: Covardia

  Soltei meu cabelo. Liberei as lágrimas. Foi pouco, eu sei. Pouco aos outros, mas a mim, foi muito. O máximo de minha coragem, a postura mais forte que já tive. Eu sei, sempre me acharam covarde. E não vou dizer que não fui. A vida, talvez, tenha me feito assim. Dois passos a frente, e um atrás, só pra garantir, só pra poder voltar, caso necessário. Deixei de viver muita coisa, perdi oportunidades, não peguei sol, não amei, não fui amada. A culpa foi minha, só minha. Muitos me alertaram, muitos tentaram me levar. E sempre o medo, o receio de que podia dar errado, de que comigo seria difícil, as preocupações com as consequências...Sempre fiquei paralisada. Estática, covarde. Inútil dissertar como teria sido se eu tivesse tipo coragem. Desnecessário pedir perdão àqueles com quem eu podia ter vivido. O certo é que agora estou de cabelos soltos, já não escondo o choro.

Ana Kita

sábado, 18 de setembro de 2010

Poeminha sentimental: Já é tarde

shiii....
fique quietinho, esta noite
deite ao meu lado
ouça os pássaros, lá fora
e voltemos aquele lugar,
do princípio.

Ana Kita

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

17/09 - Aniversário do Blog

Fora da tela do computador sou alguém que decora e comemora datas, provavelmente pelo blog não ser atualizado com tanta frequência em seus primeiros anos nunca teve postagem de comemoração. Eis a primeira. Hoje faz exatamente 3 anos da primeira postagem, fica cá o convite para a lerem, é um conto bonitinho, também para compararem e notarem como evoluí - amadureci - na escrita.
De lá pra cá muita coisa mudou, eu lembro que meu perfil era "uma garota do primeiro ano do ensino médio que sonha em ser escritora", ainda sonho, mas cada vez vivo mais, a faculdade é uma grande realização para isso. O blog também sofreu várias modificações no layout e não parece parar, recebeu os projetos, novos gadgets, e especialmente novos seguidores e leitores.
Como aniversário de criança, pelo menos até os quatro, cinco anos, a comemoração é mais minha (mãe) e dos olhares atentos, aqueles que acompanham o crescimento e que querem o bem do aniversariante. Façamos nossa festa!
Convido meus queridos leitores a comentarem, sugerirem, elogiarem, criticarem, lembrarem, anunciarem (seus blogs e/ou de seus amigos).

Viva o "Criações e admirações da Ana"! Em seu terceiro aninho e que venham muitos outros.

Abraços de agradecimento!
Ana Kita

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mini-conto: AmigAmante

cá, em seus devaneios. deitado. em meu colo, em meu abraço. sem ver. - em - meu amor. pedia ajuda. ganhava mais. sabia pouco. beijei-lhe a testa. senti a boca. e adormeceu. sonhou com outra, lembrou histórias. teve-me consigo, velando. protegendo-o das lembranças. dos monstros do passado. seu sono. acordou tranquilo e partiu. feliz. como eu. não o tinha, mas acreditei.

Ana Kita

Mini-conto: Um bom homem

  Ele era bonito, vestia-se bem, tinha sapatos caros e um bom gosto invejável. Era gentil, alegre, dançava bem, gostava de teatro, cinema e boa música. Sabia cozinhar como poucos, até mesmo pratos exóticos. Encontrou uma ótima mulher, bonita, simpática e inteligente. Namoraram, casaram-se e tiveram dois filhos. Oito anos de convivência desgastou a relação, separaram-se e continuaram amigos. Numa noite, no banheiro masculino do shopping ele conheceu o amor de sua vida.

Ana Kita

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carta ao pai 12: Descobrimentos

Joinville, 15 de setembro de 2010.

Pai,
comecei a trabalhar cuidando de crianças, coisa previsível considerando que sempre adorei estar entre elas, meu instinto maternal e o exemplo de minha mãe. É cansativo, mas extremamente prazeroso. Como escrever num blog (risos), sim, você vê o retorno imediato, entende? Você ensina e eles mostram que aprendem. Você dá carinho e eles demonstram carinho a você. Você os quer bem, cuida deles e eles lhe agradecem com sorrisos e abraços. E no fim do dia, junto com todo o cansaço, vem aquela sensação de prazer, de missão cumprida, de satisfação e esperança. Gosto também por conhecer as futuras gerações, por estar a par desse mundo que meu maninho já me dá uma prévia, mas que agora passo a desvendar.
Fico pensando tanto nesses descobrimentos, especialmente quanto às comparações com minha infância e quanto aos meninos. Falando neles, os grandes (isto é, os que comigo se relacionam, esquecendo os meus pequenos aluninhos) têm me surpreendido. Assim, de não entendê-los, de quase não acompanhá-los. E pensando tanto como é do meu feitio, chego a conclusão que nem a você eu desvendei por completo. Meu pai, que tanto me amou, a quem tanto amo, nem meu pai eu conheci por completo. Ousadia crer que em algumas poucas semanas poderia conhecer um homem, não? Talvez nem numa vida toda. E com esses pensamentos, embora venha aquela ideia de que mistério é bom e seduz, vem a ideia de que como é possível encontrar alguém para compartilhar suas alegrias e frustrações, um companheiro, um amigo e amante? Como é possível nunca conhecê-lo por completo e mesmo assim acreditar numa união eterna? Não digo que tais reflexões tenham tirado meu sono, pai, mas, com elas vem uma porção de dúvidas que só o tempo pode acalmar, eu sei.
Noite passada junto a essas reflexões, veio a - um tanto triste - ideia de que se você estivesse aqui comigo, mais efetivamente, digamos, pudesse ser mais fácil, mais acalentador. Mas, não fique triste, pai. Embora lágrimas tenham escorrido de meus olhos, tudo que me ensinou foi amenizando esse pensamento. Eu sei que as coisas têm razão de acontecer, sei o quanto eu aprendi e o quanto ainda aprendo. Acredito que esteja muito bem e olhando por todos nós. É só que às vezes a saudade aperta e os olhos ficam molhados, acontece, acho que com todo mundo.

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita,
Ana.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Poeminha visual: Ver-te em mim

longe
distante
te vejo
num momento,
a toda hora
te sinto
próximo
perto
dentro


Ana Kita

Correr só - Ana Kita

   Ela corre, não tem pra aonde ir, nem sabe em que direção seus passos a levam. Ela corre porque não pode mais ficar, porque perdeu o abrigo, o amigo. Ela corre porque não sabe o que fazer, corre porque parece ser a única coisa a se fazer. Ela corre. Corre pra perto, pra longe, em círculos. Corre fugindo, mas não pode fugir das lembranças. Foge do passado que sonhou, dos planos que fizeram juntos, da imagem do castelo que se desmontou. Foge inutilmente, porque leva consigo. Leva porque não se permitiria esquecer, seria se desfazer, como descosturar uma boneca de pano, sendo a próxima boneca. Tudo que viveram lhe causam lágrimas, uma dor que vem do peito e parece se instalar no estômago, já não quer comer, já não quer falar, chora e corre, até não mais aguentar. Tudo que viveram lhe serve como linha, faz cicatriz, mas também a decora, faz com que seja forte, inteira, capaz de suportar quantos mais invernos vierem. É quando cai a noite que ela precisa parar de correr, sente frio, sente sono. Ainda com frio, ainda com sono, não consegue dormir, sente-se sozinha, e, por agora, isso é o pior.

Ana Kita

domingo, 12 de setembro de 2010

Poeminha olfativo: Prazer

(frio
tudo congestionado)
você
acima de tudo
e o cheiro do prazer que continua comigo
até eu dormir.

Ana Kita

sábado, 11 de setembro de 2010

Canção: Fotografia

Composição: Leoni e Léo Jaime

Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
De ser feliz

Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
Pra ser feliz

E o que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar

Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz

E quando o dia não passar de um retrato
Colorindo de saudade o meu quarto
Só aí vou ter certeza de fato
Que eu fui feliz


O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar

P.S.: Música linda, não sou dada a vídeos, mas quem não conhecer deve procurar, não deve ser difícil achar. É uma música gostosa de se ouvir, além de uma letra linda, e que expressa bem a ideia de saudade, plenitude e memória que tenho escrito nos últimos textos.

Quanto a uma noite e aos amigos

(Foto da banda Os Impublicáveis, em 10 de abril, no Bovary Snooker Pub)

  Noite durante a semana, numa outra semana: nada a se fazer. Ver TV e dormir, normal nacional. Por ironia - ou hipocrisia - do destino tinha feriado no outro dia, e naquele podia, devia, divertir-se. Fomos, não só eu, muitas pessoas, não só desconhecidos, amigos também. Dito e feito. Divertimo-nos, muito. Cada um no seu próprio mundo, com suas próprias expectativas, observações, diversões... Incrivelmente, ou não, harmônicos.
   Uma garota curtindo, pensando em danças, beijos, amigos. Um rapaz vendo uma onça, admirando um entusiasmo, um sorriso, fazendo poema, entrando na poesia das imagens. Um menino conhecendo, lembrando, reconhecendo, reencontrando amigos, encantando-se, envolvendo-se. Um garoto com saudade, querendo reviver, sabendo não poder, aproveitando o que podia e esquecendo o próximo dia. E eu. Sim, eu ali. No meio, no meio de uma multidão, de um cruzamento, uma bifurcação (ou tripla, talvez). Não digo que não estava feliz, estava sim, radiante, como quem mata uma saudade antiga, que na verdade mais parece aquela história indígena: "saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi". E o coração nem se preocupava com o depois, fosse feriado, chovesse ou acabasse o mundo. Era ali, aquele momento era essencial, era tudo de que eu gostava, tudo que eu precisava. Falava, falava com as mãos, com os toques, com os olhares. Calava-me, por discrição, educação, consciência que clama. E por fim dancei, só pra viver, só pra lembrar e esquecer.
   É mais fácil ver de fora, determinar, descrever ou até julgar o que eles sentiam, o que eu via eles sentirem. Agora olhar pra dentro, dizer de mim, do que eu sentia é perigoso, posso cair nas armadilhas da negação, da memória. Prefiro ser subjetiva ou enigmática, dizer que ansiei e nem acreditava ser possível tal noite. Dizer que os convites foram sinceros, mas a crença da presença era fraca. Que a surpresa foi imensa e a alegria plena. Que os sentimentos foram novos, foram bons, foram recíprocos. Que os abraços acalentaram e marcaram. Mais uma primeira grande noite.

Ana Kita

P.S.: O show? Ótimo, maravilhoso. A descrição não recaiu sobre ele por razões emocionais, mas foi digno de ser chamado de inesquecível.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Poeminha sentimental: 2 meses

2 meses


o tempo nem foi sentido
só o sentimento transbordou
fico em silêncio 
e não minto
passei a acreditar
no amanhã


só por hoje me deito
sorrindo
lembro nós

Ana Kita

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Poeminha doce: Leãozinho

leãozinho
gosta de carinho
mas se irrita rapidinho
relaxa com um cafunézinho
e volta a ser meu amado anjinho

Ana Kita

06/9 - Dia do Sexo

Esta é quase uma postagem informativa. Para quem não sabe (google ajuda, rapidinho) a Olla (creio que a maior marca de preservativos e lubrificantes do Brasil) desde o ano passado lançou essa ideia e pede ajuda das pessoas para oficializar o "Dia do Sexo". Bom, eu aprovo. Sim, qual o problema? Eu penso que há tantos tabus e problemas relacionados ao ato ou a conversa sobre, justamente por essa negação, como se não fosse natural, como se as pessoas não fizessem, como se fosse "pecado", ou "feio". Atualmente até há pessoas que nascem sem que seus pais tenham tido contato (inseminação), mas o normal e na minha época e nas antecedentes, é sexo ser essencial para as crianças nascerem, ou seja, para o desenvolvimento da espécie, para a alegria dos pais. E qual o problema? Eu volto a perguntar. O problema está na cabeça de quem se acha caramujo e se esconde do assunto, faz, isso sem dúvida, mas não pode conversar com o parceiro, morre de vergonha de conversar com os amigos, e compartilhar, um dia, com os filhos: nem pensar. Hipocrisia, né?
Parece como "fazer número 2" (desculpem a comparação esdrúxula), todo mundo faz, e todo mundo sabe, mas é preferível esconder. A diferença é que o "número 2" pode ser "explicado", "conversado" com as crianças, os pais falam, depois passam vergonha quando os pequenos falam em público, então enquanto eles crescem os pais passam a mostrar que é preciso esconder. Já com o sexo, é sempre escondido. Quando o filho está prestes a fazer (ou já fez, se o pai for desligado) surge uma conversa constrangedora e só alertas de segurança. Ou seja, o que mais o filho queria, pensando que na escola já é ensinado sobre doenças, gravidez, prevenção, ele não tem, isto é, não tem o apoio dos pais, não ouve qualquer conselho amigo, qualquer "testemunho" relevante, e algumas vezes (especialmente para os meninos) recebe uma cobrança.
Eu não sou mãe, e talvez esteja culpando demais, não digo que seja fácil, afinal nossa sociedade já tem essa hipocrisia trançada em nossas bases, mas se ninguém fizer nada a tendência é continuar como está. E vejamos bem, o quadro não é nada favorável. Parece que antigamente ninguém falava, mas as pessoas se casavam cedo e escondiam no casamento, aprendiam juntas, descobriam. Hoje não, é cedo e com qualquer ou vários parceiros, em lugares inapropriados, de forma violenta, às vezes por pressão de grupos "amigos". É esse o desejo dos pais? Que seus filhos entre vídeo-game e Barbie dêem uma rapidinha escondidos? Gente, aonde vamos parar? É preciso refletir, é preciso conversar. Não só pelos perigos dessas infancias corrompidas e da saúde dessas crianças, também pelos adultos que elas serão. Maltratados "pela vida", "usados", humilhados, traumatizados, pais "desleixados".
   Esta é a hora! Hora de conversar, hora de entender, hora de praticar com consciência. Todos temos a tal liberdade para fazermos com nosso corpo o que bem entendermos, mas há consequências, é preciso conhecê-las. Fica a dica: converse com seus filhos! Fica a dica: pratique por e com amor! Fica a dica: faça hoje se tiver um bom parceiro, um bom lugar, senão haverá outros dias. Todo dia é dia de viver e bem viver!

Ana Kita

domingo, 5 de setembro de 2010

Carta ao pai 11: Aconchego e interesse

Joinville, 5 de setembro de 2010.

Pai, estou há bastante tempo sem lhe escrever, lamento. No entanto, quando eu olho para trás, seja para nossa vida juntos ou mesmo para as dez cartas antecedentes a esta, vejo tanta coisa boa, que só me resta sorrir. Foram anos lindos ao seu lado, domingos de uma plenitude indescritível, viagens que eu achava bizarras, mas são tão boas lembranças, passeios simples, mas tão bons para ficar em família, filmes que eu não fazia questão de assistir, mas excelentes pela companhia. Ah, pai, tenho tão boas lembranças. Não vou dizer que não sofro por não mais poder reviver estes momentos, estaria mentindo. Contudo, sou tão cheia de alegria, e tenho conhecido tanta gente especial que me quer bem, que ainda sinto sua mão quente, seu olhar sereno, seu sorriso tímido, sua companhia afetuosa. 
Posso ainda ser aquela garotinha boba com o nascimento do irmão, a menina envergonhada confessando estar "ficando", a menininha com brilho nos olhos ao falar dos planos universitários ou confessar o sonho de ser escritora. Só seu interesse interrogativo já me era o melhor apoio, tão aconchegante, tão pai-e-filha. Hoje essa vontade de lhe escrever possivelmente é consequência do conforto de outrora. Estou apaixonada, pai. Pode parecer que digo por não estar mais aqui para eu apresentar, mas dessa vez eu penso que eu apresentaria. Estou dançando e muito, e cada vez melhor, passei até para o segundo nível de aula. A faculdade não está tão interessante como eu sonhava, mas sei que é o que quero e não penso em desistir. Tenho conhecido, até graças ao blog, pessoas muito interessantes, gente que me acrescenta, que me instiga e estimula... Eu fico pensando que futuramente como escritora vou conhecer muitas pessoas assim, vai ser ainda mais um desenvolvimento literário e uma evolução pessoal, gosto tanto dessa ideia. 

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita,
Ana.

Poeminha olfativo: Seu cheiro

mais adorável que maresia
mais atrativo que ímã
mais intenso que amor

chegou de levinho
tirou meus sentidos
ganhou-me, por inteira.

Ana Kita

sábado, 4 de setembro de 2010

Poeminha sensual: Primeiro toque

um toque frio
quente, suave
arrastado
do pescoço
aos montes

um arrepio
imediato

Garoto favorito - Ana Kita

   Há muito tempo, nem sei quanto tempo faz, fiz um texto falando da garota que eu gostaria de ser para um garoto. Um desses garotos de quem vou me esquecendo. Ficou um texto ingênuo e romântico, coisa que ainda hoje sou, mas naquela de mim não havia segurança e havia muito mais a aprender. Fico feliz que tenha me conhecido agora, já mulher, assim pode aprender também comigo e não corro mais o risco de deixar de ser eu mesma. Nem por você, nem por ninguém. Voltei a pensar naquele texto por ontem desvendar um novo texto, ainda em mente, agora sendo escrito. Um texto sobre o garoto que eu gostaria que fosse para mim.
   Não me apaixonaria pelos olhos escuros, nem pelas mãos macias. Não me aproximaria por ter pomo-de-adão ou ombros largos. Não passaria a amá-lo pelos lábios carnudos ou o cheiro másculo. Ajudaria, e ajuda, mas não é o essencial. Dos seus olhos o que me importa é o olhar brilhante, é me notar, a sensação de ser admirada. De suas mãos e braços espero o carinho, o aconchego, a proteção. Ah, dos lábios, o sorriso, a fala, o beijo. Seu cheiro, seu calor, sua energia, quero fantasiar, aquecer-me, dançar, arrepiar-me. Não quero o controlar, quero o cuidar. Não quero mimá-lo nem prendê-lo, quero agradá-lo e amá-lo. Seja meu garoto preferido e nos faremos felizes. 

Ana Kita

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Poeminha doce: Tum-tum, vrum-vrum

no mesmo compasso
o batimento acelerado
ecoando no espaço
como casal apaixonado

é só a luz do telefone acender
mais um recomeço vibrante


Ana Kita

Quanto à tristeza e às fugacidades

   Tristeza é passageira. Passageira por ser o fim da alegria. Assim para assim, assim sem você. Como ausência ou perda. Feito ter fome, saciá-la e acabar a euforia. Feito esperar o aniversário, comemorar e ter acabado. Feito ganhar presentes, abri-los e a surpresa ser desfeita. Feito sentir saudade, receber carta e em breve matá-la. Feito aproveitar voltas da aula com os amigos e passar a voltar sozinho. Feito se mudar, fechar e abrir caixas, e elas acabarem. É, a tristeza para mim é o fim da alegria. Passa, claro que sim. Afinal as alegrias voltam, nascem, florescem, renascem. Contudo, estas malditas sensações nubladas também insistem em voltar. Talvez por sermos alegres é que nos permitimos ser também tristes.

Ana Kita

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pra quem sorrir? - Ana Kita

  Eu ando na rua, busco pessoas amáveis, sorrio e... E nada! Algo aconteceu comigo nestes quinze anos ou mais. E eu não percebi. Diariamente fui e voltei da escola com meu jeito simples e feliz de andar nas ruas, mas minha vida na escola teve fim e perdi o dom de obter sorrisos. Se a culpa foi minha peço perdão a quem for preciso. Se for pela maquiagem ou o salto alto posso voltar atrás. Se for a troca de uniforme ou os centímetros a mais não há nada que eu possa fazer.
  Eu só gostaria de ir e vir do trabalho com meu jeito simples e feliz de andar nas avenidas e receber sorrisos recíprocos. Custa tanto assim? São meus seios redondos? Minha roupa social? Meu cabelo displicente? Por que custa tanto a toda essa gente sorrir para mim? E se não sou eu? Se forem os quarentões e cinquentões que ao chegarem nos "enta" esqueceram o quanto é bom sorrir? Se o calor fez toda essa gente apressada desaprender a sorrir? Se for pura má vontade deles? Se todos eles estiverem tristes demais para eu influenciá-los alegremente?
   Oh, nem tudo está perdido! Uma garotinha, como um dia eu fui, acaba de me sorrir.

Ana Kita