domingo, 31 de julho de 2011

O par perfeito? - Ana Kita

   Há algum tempo eu procurava um "adulto mais experiente" que pudesse me dizer como se sabe que aquele amor vai durar tempo suficiente para criar uma família, para um dia olhar para trás e se orgulhar das escolhas feitas a dois. Encontrei poucos que talvez tivessem a resposta, só alguns saberiam dizê-la e achei que nenhum deles iria me contar. Foi num domingo à tarde, sem pretensão de encontrar a tal resposta que já me perturbara, que finalmente descobri.
   Ninguém me contou, nem eu acreditaria. Encostei no peito dele e tudo ficou tão claro. Olhei em seus olhos e a verdade também o atingia. Não há fórmula mágica que nos diga que ficaremos juntos para sempre, tampouco uma receita para não brigarmos ou algumas vezes errarmos. Tudo que temos de resposta ou certeza é o gigante amor e tudo que dele vem, o respeito, a cumplicidade, a harmonia, o carinho, os sonhos... Restá-nos vivê-lo ao máximo enquanto for nossa verdade, e que ela seja eterna.

Ana Kita

terça-feira, 26 de julho de 2011

Quanto aos sonhos e à escrita

   Esta noite sonhei - na verdade, não foi sonho, eu ainda estava acordada, mas o verbo "pensei" tiraria boa parte da força do meu devaneio e principalmente o caráter mágico de poder se realizar, pensei eu - que um dia meus escritos, sejam neste blog ou num guardanapo, eram lidos por alguém influente que me levou a uma grande editora. Eis que começaria minha carreira. Os tempos verbais ficaram confusos, numa hibridez de imaginação e desejo.
   Talvez seja meu lado racional me alertando que minha carreira não cairá no céu, e embora não saiba como, preciso em breve agilizar esse processo de iniciação. Mas, ainda creio ter sido um desejo ingênuo, como quem vê na televisão modelos contando como começaram suas carreiras ao serem encontradas por agentes. Será que há editores agentes ou que pedem a subalternos para procurarem blogs de bons escritores? Acho pouco provável, a internet é arriscada, ainda que eu seja muito sincera. Deveria ser um trabalho muito interessante. Encontrar talentos, dar-lhes oportunidades. Queria eu uma oportunidade gigante, confiável e paciente. Sei que temeria. E sobre pressão é mais difícil escrever bons textos, não? É o que dizem. Não sei. Há texto feitos, isto é, orientados, de que muito me admiro, mesmo que poucos tenham gostado, e outros que jogaria fora se não fossem os elogios. Há textos que floresceram na minha mente sem quase regar que nunca foram elogiados, bem como alguns aplaudidos.
   Pelas aulas de literatura chego a conclusão que é normal ser assim, há quem sempre escreveu, há quem só na velhice, há quem teve fases excelentes e outras de péssima crítica. Adoro Iracema e a professora que me "indicou" ler, disse que era um livro difícil e chato. Gosto dos dois livros de Paulo Coelho que li e meus professores da faculdade adoram criticá-lo como lixo repetitivo. Trata-se de sentir. Tenho dois livros favoritos, um é mundialmente famoso, super elogiado, muito lido e extremamente traduzido. O outro foi alugado por alguém (da biblioteca pública da minha cidade), abandonado na rua e ainda não conheci ninguém, além da minha tia, que foi quem o achou, que o tenha lido. Já os li duas vezes, em fases diferentes da minha vida e continuo me encantando e considerando os melhores para mim. Gosto quando meus textos são assim também. Há alguns que meses ou anos depois fazem com que eu própria me admire. E por vezes tenho vontade de mudar, tirar do blog ou mesmo jogar fora textos antigos. Pra usar de um clichê maravilhoso: nem Cristo agradou a todos. Muitos nem acreditam que ele existiu.
   Mas, eu sou até tranquila com a crítica alheia ao que gosto. Sem dúvida, sou mais atingida pela minha própria auto-crítica. Sou do tipo que fica perplexa por esquecer o nome de um filme de que gostou tanto, e só sente as bochechas quentes quando tira uma nota mediana numa redação. Não vou dizer que não me atinge, claro que sim. Muitas vezes tenho o sonho de que meu leitor sinta tão forte quanto eu. Logo em seguida lembro que é assim mesmo, cada um tem sua vivência, sua verdade e sua fase. Poucas as chances de coincidirem pra muita gente. E continuo escrevendo. Porque é meu enquanto escrevo, e será de alguém quando tocar, caso ocorra. Ainda creio que acontecerá aos milhares.

Ana Kita

Confissão de ontem - Ana Kita

   queria ter recebido um parabéns, queria mesmo, unzinho que fosse. mas, não me surpreendi. tampouco esperava. tenho escrito pouco. tenho sido ainda menos lida. por sorte tenho um futuro. espero que lindo. e aguardo. não de braços cruzados, pelo contrário, sentindo e escrevendo. fazendo o que creio e esperando, quem sabe, dias melhores. é como perder "colegas" virtuais por ajudar um amigo numa promoção, o amigo nem me considera mais tão amiga, mas eu ainda creio. amizade é pra sempre, pra mim. e ele ganhou.
   dia do escritor, e não escrevi. dia seguinte, aqui estou escrevendo. não com presunção de escritora. mas com alma de quem quer fazer disso sua vida. de quem precisa verbalizar em tela e papel aquilo que sente, que emociona, que ouve, vê. não penso que faço melhor que outros, penso que faço com alma por muitos. quem sabe um dia para muitos. por hoje, especialmente por mim e meu amigo. escrevo, com saudade.

Ana Kita

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tirar paranhos - Ana Kita

   Eu pensava que seria pra sempre, todas as noites. Achava que fazia parte de mim. Acreditava ser tão necessário a mim quanto o ar. Mas, eu estava errada. Custei a perceber. Foram noites em claro e centenas de lágrimas. Hoje o anel descascando em meu dedo, a blusa que já doei, o perfume que há muito tempo deixei de usar e o xampu que acabou, mostram que o tempo foi longe demais para esperá-lo. Ele jamais mudaria, eu sempre encontraria falhas para não aceitá-lo de volta, e não seríamos felizes juntos.
   Tão fácil ver agora. Difícil é olhar pra trás e ver todo o caminho que sozinha precisei percorrer. Quantas vezes o carteiro e o entregador de pizza me viram de pijama e pantufa. Quantas vezes a caixa do supermercado se surpreendeu com a quantidade de sorvete e chocolate. Quantas caixas de lenço gastei chorando. Quantas cartas tentei escrever, quantas vezes disquei seu número, quantas fotos beijei depois rasguei. Fiz tanta coisa tentando me enganar ou lutar, e por muito tempo não fiz nada por mim. Esmaltes gastos, depilação por fazer, cabelo oleoso, janelas fechadas, casa suja. O mundo lá fora seguindo e eu me impedindo, trancando-me.
   A culpa não é dele. De jeito nenhum lhe daria tanta responsabilidade, nem merecimento. Fui eu que mais uma vez me dediquei demais. Acreditei demais, sofri demais, culpei-me de mais. É sim, como todo filme da sessão da tarde, é assim com todo mundo. Começa, perde-se, e fim. Prolonguei demais, adiei minha recuperação e algumas vezes desacreditei ser capaz. Hoje, saí para caminhar. Estava um dia lindo, tomei sorvete no parque, recebi uma cantada, olhei umas vitrines. Amanhã farei as unhas e um novo corte no cabelo, combinei com as meninas de sair às compras e sexta tenho uma festa. Não é que de repente eu tenha me tornado fútil e vazia, só me abri a ser completa. Ler, correr, trabalhar muito, mas também me produzir, dançar, rir. Voltar a viver.

Ana Kita

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Poeminha sentimental: Hoje

o dia de hoje

é melhor que ontem
tem mais de você
e de mim

é melhor que amanhã
tem mais realidade
e menos ilusão

começou há pouco
e logo terminará
ótimo dia

Ana Kita

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Anoitecer - Ana Kita

   Amanheceu. Eu devia ter julgado assim, como um simples novo dia. E não pude. Tinha medo. Era o primeiro dia do resto da minha vida. E ninguém me acordou com café da manhã. Não haveria beijo, nem precisaria esperar para usar o banheiro. Não arrumei a mesa. Comi apenas uma banana encostada no balcão da cozinha. Foi um esforço danado abrir as cortina e preferi manter as janelas fechadas - eu demoraria a voltar para casa.
   Tranquei a porta atrás de mim e veio um aperto daqueles de voltar correndo pra cama. Segui em frente, tinha sol e crianças brincando na rua. Por que tinha que ser um domingo? Nunca um domingo foi tão longo. Saí da garagem como quem está aprendendo a dirigir. Não era cautela, era falta de perspectiva. Não queria ver meus pais, nem meus irmãos. Não gostaria de visitar amigos, muito menos ir ao shopping. Fiz-me de turista e comecei a andar pelas ruas como a investigar o bairro. Nada do que via me agradava. Eram famílias indo à Igreja, casais caminhando, senhores aparando a grama, garotinhos andando de bicicleta. Não podia haver um clima melhor ou um céu mais azul. Era tudo de propósito, algo ou alguém queria que eu me dilacerasse. Mas, eu fui forte.
   Não tinha fome e só dei conta da hora às quatro da tarde. Já não havia tanto movimento na rua. Deviam descansar, ou assistir ao futebol. E eu continuava dirigindo. Faria até amanhecer se fosse preciso. O sol se pondo e achei que já não era necessário trancar-me no carro. Estacionei numa pracinha, sentei-me num banco de madeira e logo me arrependi. Um pai e um filho jogavam bola, o garotinho não devia ter mais de 3 anos e logo a mãe se juntou a eles. Deixou as coisas ao meu lado, pegou o filho no colo e beijou o marido. Antes que eu saísse dali com o rosto molhado, ainda pude ouvi-la dizer: Hoje é o dia mais feliz da minha vida, como é bom estar com meus amores.
   Andei um pouco apressada uns dois quarteirões. Queria tirar a voz dela da minha cabeça. Mas, a frase se repetia, e tantos beijos, e abraços, e muitos sorrisos. Deu vontade de gritar. Chorei. Olhei pro céu que começava a revelar as estrelas, e a lua não quis aparecer. Não sei se era por ser nova, ou por pura maldade. Nunca fui de entender esses motivos ocultos. Fui até o carro, sentei ao volante e me perguntei pra onde ir, o que fazer. Voltei pra casa, já era noite, eu podia apenas chegar e dormir.

Ana Kita

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O melhor do tempo - Ana Kita

   Uma hora, dois dias, três, quatro meses, um ano e meio, uma vida toda. Tempo é tão relativo e acaba sendo tão importante na nossa vida. Passa-se tanto tempo fazendo coisas bobas como dormir ou ver TV, tanto tempo estudando ou trabalhando. Pelo menos, passa-se muito tempo amando, e sendo amado. O sorriso no meu rosto e a prata no meu dedo demonstram tudo isso. O tempo, a realidade, o amor, e todas as coisas que vivemos. Viveremos.
   Já fui menina de 13 anos e contava os dias como um mérito diário de relacionamento "longo". Já desacreditei e esqueci datas. Já guardei pra mim com medo de ferir alguém. Hoje tenho compartilhado e alegro-me não por mais um mês que se completa, mas por 31 felizes dias. Ah, a simples felicidade de ter companhia, de ter amor, de sonhar junto. E sonho tanto, tanto que os dias que passaram são apenas suspiro dos dias que virão.

Ana Kita

terça-feira, 12 de julho de 2011

Carta ao pai 19: Saudade e sonhos

Joinville, 12 de julho de 2011.

   Pai, esta carta vem sendo escrita na minha mente desde sábado, já é noite de terça-feira. Finalmente me ponho a escrevê-la. Queria dizer que socialmente devia ter pensando muito em você na sexta-feira, mas foi no sábado que sua falta me bateu mais forte. Fui ao mais novo shopping da cidade com meu namorado e na mesa ao lado uma garotinha quis sentar-se ao lado do pai, ele a abraçou, e quem mais sentiu fui eu. Saudade, tanta saudade. Depois, olhando ao redor, lembrei o tempo em que você morava em Curitiba e eu me surpreendia com a grandiosidades dos shoppings. Acho que neste novo poderíamos dar aqueles nossos adoráveis passeios tão pai-e-filho modernos. Algo como cinema, McDonald's e compras.
   Ah, pai, quando você partiu, e já faz dois anos, eu achei que sentiria mais sua falta, assim de apertar, quando eu estivesse triste e nas datas especiais. Hoje percebo que não é preciso ter razão, a saudade vem forte a qualquer momento. Às vezes ainda mais quando estou feliz, como tenho sentido vontade de compartilhar toda minha alegria com você, pai.
   Ainda no sábado, passamos em frente a uma lanchonete, de um caminho não tão comum pra mim, onde você, eu e o maninho vimos meu avô, acho que numa das últimas vezes. É uma das coisas que mais admirava em você, e confesso que hoje não sigo isso, espero que um dia. Promover a aproximação da família. Fazer com que eu e meus irmãos tivéssemos contato com o biso, enquanto ele ainda estava conosco, com meus avós, meus tios e primos. Eu sei que sempre fui distante, acabei sempre vindo mais pra família da minha mãe. Hoje até com eles peco. De qualquer jeito, queria que soubesse que me marcou, que foi algo que aprendi, que sempre valorizei e admirei. Espero conseguir passar para meus filhos, sei que falarei muito de você. Alegra-me e até me alivia um pouco saber que a família do meu namorado tem esse costume de união.
   Por sinal, não estava planejado na carta mental, e agora deu vontade de falar... Tenho pensando em casar, pai. Sei que é cedo, sei que para casar é necessário reflexão e também dinheiro. Por sorte meu namorado é bastante sensato, acho que pra compensar minha cabeça nas nuvens. Mas, apesar de tudo isso, sinto-me tão plena ao lado dele que temos divido sonhos. Sim, só depois da faculdade, sem pressa, planejando bem. Até conto com o apoio da minha mãe, da mãe e da família dele. Parece um sonho, e é tão real... Tanto que aparece essa sua ausência. Ah, pai... Não me entenda mal, não quero que fique triste, prometo não ficar também. Vejo na imensidão do sol ou na magia da lua que há muito a viver, que é preciso aprender, e é por isso que hoje compartilho. Eu o amo muito, pai. Jamais vou esquecê-lo, inclusive é um dos motivos para buscar tanto a minha felicidade, quero que tenha muito orgulho de mim.

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um medo entre nós - Ana Kita

   Quando acordei, o medo estava lá. Meu marido ainda dormia, o sol já nascia... E o medo entre nós, talvez dentro de mim, acho que por todos os lados. Fui ao banheiro, lavei o rosto, queria julgar meu medo apenas pesadelo. Mas, o medo não sumiu. Tomamos café-da-manhã, os três. Meu marido não se deu conta, e eu preferi me calar, foi trabalhar e o medo ficou comigo. Acompanhou-me durante o dia todo, não sei de onde veio, mas não queria partir. Jantamos juntos, e fomos dormir. Queria que o medo ficasse ao menos na sala, tentei seduzindo meu marido. Não consegui. Acabei falando. Meu marido não entendia e eu fui bastante confusa. Sem entender a origem do medo, ele parecia, até para mim, bastante infundado. Foi então que meu marido me abraçou e o medo passou.

Ana Kita