sexta-feira, 12 de junho de 2015

Dia dos namorados - nova era de amor

        Pensei muito antes de escrever, não por receio, mas pra escolher as palavras "certas", aquelas que de fato pudessem valorizar o assunto como merece. Cheguei a conclusão de que possivelmente não consiga, mas não registrar esse momento seria ainda pior.
        2015! Este é o ano, acredito numa revolução, no amor enfim vencendo o preconceito, ainda que minimamente, um primeiro passo - muito criticado -, mas eu presenciei, mais que isso, eu admirei. Parabéns ao publicitário e ao O Boticário: foram geniais!  Sim, primeira propaganda  (ao menos no Brasil, não cheguei a pesquisar a fundo) de Dia dos Namorados que se abre ao respeito, à diversidade, às diversas formas de amor, à pluralidade de relacionamentos.
        É um começo, talvez existam até outros tipos de namoros, mas o que me alegra é a abertura, a iniciativa, ainda que possamos ver como apenas uma sacada (genial!) de marketing, ampliação do público alvo, vejo como uma nova era. A TV, evidentemente, cria moda, traz reflexões, incita comportamentos, e dessa vez acho extremamente positivo. A homossexualidade está aí, sempre esteve, e vivemos num tempo em que boa parte dos envolvidos encara de frente, por que os demais não podem respeitar? Além de cada um ter o direito de fazer o que bem entender, trata-se de amor, de pessoas próximas a todos nós, é seu amigo, seu irmão, sua vizinha... Aliás, mais do que isso, não somos nós e eles, somos todos humanos, cidadãos.
        Eu sou mulher, sempre fui atraída exclusivamente por homens, hoje sou apaixonada por meu marido e sou mãe de uma garotinha, eu me orgulho muito de saber respeitar etnias, gostos musicais, orientação sexual, religiões e é nesse mundo que quero criar minha família, abraçar todos meus amigos, ensinar meus alunos e sempre aprender. Vivi no tempo em que duas personagens mulheres de novela se beijaram (quem não lembra de Mulheres Apaixonadas? Só vale lembrar que desde 1988 já havia casais do mesmo sexo em novelas brasileiras) e só se falava nisso, assisti no cinema "Eu os declaro marido e... Larry" em que uma garotinha dá um banho nos adultos revelando uma lista de animais que se acasalam com o mesmo sexo e chorei, agora vejo uma propaganda dessas e confio num futuro maravilhoso. Só depende de nós!

Ana Kita

sábado, 18 de abril de 2015

Paixão antiga

   Hoje dei conta de perceber que você podia ser mais que discreto, reservado em seus relacionamentos, quem sabe galinha mesmo! E fiquei imensamente feliz; não só por já haver um gigante abismo tempo-espacial entre nós, mas por enfim eu estar superando aquela cega idolatria a você e tudo que o envolvia.
   Não quero parecer cruel, pois seria atestado de despeito, no entanto a verdade é que sim eram ótimos nossos jantares discretos, nossos amassos a meia luz, nossas mensagens dúbias, mas porque não se revelar!? Havia algo de proibido instigantemente delicioso que me intrigava, hoje considerei a hipótese de que mesmo naquela época poderia haver outras como eu. Provavelmente eu sempre serei sua fã mais fiel, que mais buscou contribuir, e nem por isso me iludo de ser única. Se sua obra deve ser difundida, porque seu amor não terá sido? Custa-me aceitar (e até acreditar na) sua decisão de monogamia, de declaração pública de união estável, parece tão avesso ao sedutor que conheci. Poetizar com o erotismo que você faz me parece impossível ao homem comum, que trabalha numa rotina estabelecida por outrem, ama apenas uma mulher, economiza e planeja a dois. Você sempre me soou do mundo, pronto pra partir, mudar a direção das velas, trabalhar de madrugada, compor num bar, estar enquanto houvesse amor, distrubuir carícias, viver o momento apenas. Toda essa concepção pode ainda ser vestígios da idolatria, criação com licença poética de fã, partes que pareciam melhor encaixar nessa complexidade que é você. Foi por isso que me apaixonei, seu quebra-cabeças repleto de metáforas, eclipses, ambiguidades, reticências.

Ana Kita

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"Quanto mais triste mais bonito soa"

 De repente, a tão almejada felicidade tornara-se antídoto à poesia!? Engraçado questionar-se, mas estava ali, impossível driblar tal pensamento antes de o sol voltar a nascer. E as questões típicas de outro tempo, se de fato felicidade era o caminho ou o destino, se podia plantá-la ou aguardá-la, hoje se esvaíram. Sentia-se, perante tamanho estado de plenitude, impotente: ser feliz já não era escolha, fazia parte de si. Temeu por um instante não mais escrever. Passou. Ficou admirando o luar, o breu, o acordar laranjado de um novo dia... Fez-se, em silêncio, a poesia.