terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Reflexão de Natal

        De repente você se dá conta que mais um ano passou, que algumas pessoas ficaram mais distantes e novas se aproximaram. Há sonhos que foram alterados e, especialmente este ano para mim, muitos se realizaram. É nos momentos de preparação das confraternizações que você se dá conta do que realmente importa. Lembra outros momentos felizes que já passou, costumes da infância, histórias engraçadas, e sente saudade, pensa como será quando tiver seus filhos, imagina arrumando a casa e favorecendo os hábitos familiares, e agradece. 
        Sim, você não esquece todos os transtornos, nem a correria do dia-a-dia ou as contas do início do ano. O que o magoou não será simplesmente apagado, tampouco conseguirá corrigir seus defeitos. Possivelmente muitas promessas não sairão do campo das ideias e algumas pessoas que também mereciam felicitações não receberão. Faz parte da vida, é sempre um novo ciclo que se recomeça e se nenhuma ponta ficar solta então teremos cumprido tudo e não precisaríamos viver. Prefiro começar ser dívidas, sem mágoas ou decisões por tomar; no entanto, se eu simplesmente puder estar com quem amo, tiver o que agradecer, puder desejar novas realizações e sorrir, saberei que estou no caminho certo.


Ana Kita

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Aprendiz ensinante*

Convidada a escrever sobre mim, fecho os olhos e com a mente fervilhante não me surge palavra alguma. Tão mais fácil olhar para fora e sentir-se com o poder de analisar tudo, ver as coisas como são e as pessoas com qualidades e defeitos. Não desisto fácil e um espelho procuro. Ainda não me reconheço com o novo corte de cabelo, tampouco me vejo uma mulher adulta. As espinhas no meu rosto e a falta de marcas me soam tão adolescentes, tão cheia de experiências a viver e universos a descobrir. Convoco a memória e nem meu casamento recente, a conclusão da faculdade prestes a acontecer e os sonhos a se realizarem me dizem algo a ser escrito sobre o herói que sou. Finalmente volto aos anos na escola e vejo um caminho digno de ser lido.
Ainda sou uma menina que ontem escrevia suas primeiras letras a giz. Ainda prefiro o lápis à caneta e preciso pensar com cuidado em algumas letras. Desejo ardentemente que me leiam, quero ensinar o que venho aprendendo e saber que ajudei. Vejo desenhos nas bordas dos cadernos e o capricho diminuindo com o passar das páginas. Há folhas em branco de dias que não estive ali, dias em que um garoto me tirou a atenção, uma gripe mal curada ou o braço enfaixado.
Houve sempre uma pessoa lá na frente, uma voz doce ou firme, geralmente feminina. Paciente a voz me ensinou os números e eu com facilidade os abandonei, mostrou-me mapas que nunca dominei, explicou-me sobre plantas, bichos e gente, mas muito pouco ficou, contou-me histórias passadas e apenas as mais criativas guardei com carinho, até movimentos pediu que eu fizesse, mas atrás do caderno me sinto melhor. Confesso que as vozes me inspiraram, mas enquanto as ouvia os outros ouvintes eram mais atrativos e divertidos. Ah, como eu falava. (Ops, falo.) Ainda aprendo sem total atenção, gosto mais da sensação de que estou ensinando. Sei que é sempre mentira, mais aprendo que ensino, e não sou boba, jamais irei negar.


Acontece que todos já sabiam, há um espírito de liderança, uma facilidade em compreender, uma estrela que iluminava mesmo quando me esforçava para me manter calada. Algumas vezes achei que se tratava de castigo, não devia ser assim, melhor passar despercebida a ser vista com maus olhos. Ainda assim não conseguia, estava em mim, era parte significativa e indestrutível. Trouxe-me até aqui.

Ana Kita 

*Texto para a disciplina de Intertextualidade e Estudos Literários do Curso de Letras, com o tema "Que herói sou eu?". 

P.S.: Convido a todos para conhecerem meu blog acadêmico: http://aprendizeducadora.blogspot.com.br/ Sejam bem-vindos numa viagem de exploração pelo mundo da Educação!

domingo, 8 de dezembro de 2013

Meu pintinho

Eu o vi sorrir só por avistá-la, presenciei – sem nada poder fazer – os dois partindo felizes, sabendo que voltariam após dois dias. Que difícil é se apegar a um aluno e não se ver como mãe. Meus filhos serão assim? Por favor, que não sejam como Bartolomeu, que visivelmente é mais apegado ao pai. Quero sim um chulé!
Já me vejo limpando suas lágrimas pela minha ausência; oh, pecado, vem cá, cheirinho da mamãe!
Há quem me critique, hipócritas! Como não se envolver? Como ignorar que aquele serzinho lindo fazia parte da gente? Todo aquele blá blá blá de criar para o mundo só serve até que o filho seja seu, depois disso cai por água toda pedagogia e nos tornamos apenas: manhêêê! Quero meu filho para o mundo depois dos vinte, antes – e, no fundo, até depois – buscando sempre minhas asas. Pode me chamar de galinha! (Eu já tive uma e não era boa mãe, prefiro ser protetora e demonstrar amor, a deixar meus pintinhos abandonados.)

Ana Kita