sábado, 22 de dezembro de 2012

Crônica de fim do mundo

        Dia 22 de dezembro de 2012 e todo mundo confiante que não era dessa vez que o mundo iria acabar. Assim é fácil, né? Na primeira manhã do século foi a mesma coisa. Mas a idade me fez dormir diferente. Na primeira vez, a pouca idade me fazia rir da situação, curtir a virada de ano - e mal compreender a do século -, divertindo-me com a possibilidade de acontecer alguma coisa. O que poderia? Dessa vez a adultez - e com ela o ceticismo - me fizeram ignorar durante todo o ano, até que vou dormir às 22h30 da véspera e por mais que meu marido tenha brincado que no Japão já precisaria ter acabado o mundo, a insônia me faz pensar por uns rápidos segundos: E se eu pegar no sono e não mais acordar? Se catástrofes naturais começarem a acontecer simultaneamente? E os filhos que quero ter? E minhas faculdades? A aplicação de tudo que tenho aprendido? Aquela blusa linda que ainda não usei? Pode não estar traçado nenhuma realização dos meus grandes sonhos? Sem gravidez, sem festa de casamento, sem quarto mobiliado, sem banheiro planejado, sem closet ou livro publicado? Antes que eu pudesse parar de imaginar tudo que ainda vou realizar e me conscientizar que definitivamente não seria no dia seguinte... Dormi.

Ana Kita

sábado, 15 de dezembro de 2012

Todo fim é um começo

        Eu sei, é clichê. Mas também os clichês são fases e costumam terminar e recomeçar. Nem por ser clichê deixa de ser verdade. Olhe ao seu redor! A semente deixa de existir pra vir a planta; a primavera termina pra ser verão; deixa-se de estar gestante para apaixonar-se pelo bebê; acaba o relacionamento para ter liberdade de solteiro novamente; morre o corpo e vem... Aí depende do que você acredita, mas mesmo as opiniões se modificam. E o que é se modificar? Senão o término de uma fase para o início de outra? Não é preciso anular tudo que foi construído e conquistado - o que é verdadeiro deixa raízes -, mas o novo surge, o velho é renovado. Até o que é perpetuado precisa de inovação, nem que seja a forma de ver, quem vê, quando.
        O tempo é o maior apostador deste clichê, confia tão cegamente que vai como uma bala perdida: certeiro; embora não saiba pra onde. Vou além, é preciso saber o destino? Gosto do caminho. No percurso estão todos que me acompanham, todas as pedras a superar, os pódios a subir, as armadilhas a desviar, e por fim, mas não menos importante, as fases a serem concluídas. A visão pessimista termina por aqui, não permite vislumbrar os lindos raios do sol das 5h, quando você prometeu chegar antes das 3h da madrugada. Eu procuro o além, digo que 2013 chegará e que guarda realizações maravilhosas se assim desejar, digo que a obra terminará, que crianças, flores e animais nascerão. Não são as finalizações determinantes da vida, mas os começos.

Ana Kita

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Carta ao pai 23: Saudade e realização

Joinville, 07 de dezembro de 2012.

        Pai, esta semana levei meu noivo/marido ao cabeleleiro (pra mim mais barbeiro) em que você ia. Ele me olhou com jeito de quem quer reconhecer, mas acho difícil, faz bastante tempo e longe de você seria complicado fazer essa associação, mas só de estar lá me deu uma saudade apertada. Meus olhos se encheram de lágrimas. Ai, pai, que falta você me faz.
        O penúltimo ano da faculdade acabou, vou para o quarto mês "casada" e pra tudo isso me falta você. Como eu queria comemorar contigo, compartilhar contigo, ver sua alegria e também preocupação. Queria fazer uma grande festa e dançar nossa segunda valsa juntos. Queria lhe dar netos, vê-lo bobo como quando eu era pequena. Queria a certeza de seu sorriso por perto. Não tenho tido mais tempo do que tinha quando você estava aqui, continuo falhando em visitar meus irmãos com frequência e já não ouso prometer nada. Mas, ainda desejo que eles saibam que podem contar comigo, ainda queria poder contar com teu abraço, teu olhar, uma palavra.
        Os domingos passam cada vez mais rápido e mesmo assim por um instante me pego saudosista. Ah, que domingos contigo, pai! Estou cada vez melhor na panqueca, mas não chegam aos pés das suas. Aprendi a fazer o bolo com gelatina de limão, mas sinto falta do seu. Até o gosto por filmes do meu noivo/marido é tão bom quanto o seu, mas só ser bom não substitui, queria contigo também. Por sorte estou numa fase que esses queres difíceis ou impossíveis não mais me magoam, estimulam-me, alegram-me interna e silenciosamente. Obrigada por tudo que você plantou em mim, pai!

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.