sábado, 21 de julho de 2012

Uma crônica de TPM

        Por que junto das orientações de comer verduras, levar casaco, combinar tais cores, como usar absorvente, não nos dizem sobre ser paciente com os homens? Remédio pra cólica, marca de barbeador e de shampoo, cabeleireira confiável, não nos preparam para passar o sábado esperando-o jogar, trabalhar ou dormir. Aviso das lojas com descontos, dicas para fazer unha, receitas de família, nada, nada disso pode nos fazer menos sensível e menos carente naqueles dias. Nem os farão deixar de virar pro outro lado da cama, comer o último pedaço do bolo - depois perguntar: "você queria?" -, passar 90 minutos sem piscar em frente a TV, olhar-nos como se fôssemos fúteis só por termos ficado umas horas comprando roupa, deixar a toalha molhada em cima da cama e a tampa do vaso aberta. Homens são assim, uns mais, outros menos, mas inevitavelmente seu "príncipe" encantado não notará sua produção, não gostará dos sapatos pefeitos que você comprou, a elogiará quando estiver desarrumada, usará meia furada e perguntará se pode ir com aquela blusa velha que você odeia. E, na verdade, a vida vem nos preparando pra isso desde que nascemos, tiram-nos a chupeta, dizem "não" pro nosso pedido daquela linda - e cara - boneca, dão-nos regras e horários, colocam presunto no nosso queijo-quente, nossa amiguinha de infância sai da escola, acabam os chocolates, as balas e o Nescau da dispensa, a professora nos tira de perto daquele gatinho, você pede bem passado e o garçom traz um bife sangrando, sua mãe finalmente permite que você vá
àquela festa com a condição de ir com sua amiga, aquela que o pai não deixou ir, o menino pelo qual você é apaixonada pede ajuda pra conquistar sua melhor amiga, sua melhor amiga fica com ele, seus pais decidem que você deve estudar no outro turno, você quebra o braço na semana daquela festa, vai à padaria toda desarrumada e encontra seu vizinho gato, vai para a praia no fim de semana com o maior índice pluviométrico do ano, chega no aniversário e dá de cara com uma menina com o vestido igual ao seu, seu salto quebra na porta da balada, enfim, há decepções de todos os tipos, grandes e pequenas, coisas que simplesmente precisamos aceitar. Os homens não são decepções, mas é preciso aceitar que volta e meia eles nos magoarão, chatearão, irritarão e até decepcionarão. Eles não mudam, nós não mudamos. Dias após dias, meses, e, mesmo após anos,  volta a acontecer uma coisinha a toa dessas, podemos chorar, eles ficarão surpresos, talvez haja brigas... No fim do dia os sentimentos se assentam e nos achamos bobas, até... que se repitam. Quase ninguém diz, ou não sabemos ouvir, mas o sol nasce de novo. 

Ana Kita

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