quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Carta ao pai 12: Descobrimentos

Joinville, 15 de setembro de 2010.

Pai,
comecei a trabalhar cuidando de crianças, coisa previsível considerando que sempre adorei estar entre elas, meu instinto maternal e o exemplo de minha mãe. É cansativo, mas extremamente prazeroso. Como escrever num blog (risos), sim, você vê o retorno imediato, entende? Você ensina e eles mostram que aprendem. Você dá carinho e eles demonstram carinho a você. Você os quer bem, cuida deles e eles lhe agradecem com sorrisos e abraços. E no fim do dia, junto com todo o cansaço, vem aquela sensação de prazer, de missão cumprida, de satisfação e esperança. Gosto também por conhecer as futuras gerações, por estar a par desse mundo que meu maninho já me dá uma prévia, mas que agora passo a desvendar.
Fico pensando tanto nesses descobrimentos, especialmente quanto às comparações com minha infância e quanto aos meninos. Falando neles, os grandes (isto é, os que comigo se relacionam, esquecendo os meus pequenos aluninhos) têm me surpreendido. Assim, de não entendê-los, de quase não acompanhá-los. E pensando tanto como é do meu feitio, chego a conclusão que nem a você eu desvendei por completo. Meu pai, que tanto me amou, a quem tanto amo, nem meu pai eu conheci por completo. Ousadia crer que em algumas poucas semanas poderia conhecer um homem, não? Talvez nem numa vida toda. E com esses pensamentos, embora venha aquela ideia de que mistério é bom e seduz, vem a ideia de que como é possível encontrar alguém para compartilhar suas alegrias e frustrações, um companheiro, um amigo e amante? Como é possível nunca conhecê-lo por completo e mesmo assim acreditar numa união eterna? Não digo que tais reflexões tenham tirado meu sono, pai, mas, com elas vem uma porção de dúvidas que só o tempo pode acalmar, eu sei.
Noite passada junto a essas reflexões, veio a - um tanto triste - ideia de que se você estivesse aqui comigo, mais efetivamente, digamos, pudesse ser mais fácil, mais acalentador. Mas, não fique triste, pai. Embora lágrimas tenham escorrido de meus olhos, tudo que me ensinou foi amenizando esse pensamento. Eu sei que as coisas têm razão de acontecer, sei o quanto eu aprendi e o quanto ainda aprendo. Acredito que esteja muito bem e olhando por todos nós. É só que às vezes a saudade aperta e os olhos ficam molhados, acontece, acho que com todo mundo.

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita,
Ana.

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