quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A luz em seus olhos castanhos - Ana Kita

   Há tanto tempo não vejo o brilho castanho do seu olhar, e hoje, só de vê-lo, assim de longe, assim como a quem é proibido, meu coração volta a disparar como no princípio, como no primeiro dia que iríamos nos encontrar. Você já é tão outro, e eu também devo ter mudado um bom tanto, contudo o que sinto é tão parecido que parece o mesmo dia, o mesmo sol poente, o mesmo frio que me arrepia. Ou não. Ou sempre fui eu, fui eu que vi sol, pois era quase noite e era inverno, devia estar um céu nublado, escuro, sem estrelas. Devia estar frio, sem vento, aquela sensação de inverno inexplicável. Tanto faz, hoje é verão, o sol se esconde lindamente, e você logo ali, permitindo que eu lhe veja, sem procurar me ver. Talvez já tenha me visto aqui, escrevendo, lembrando, amando a distância. Naquele primeiro dia também fez assim, fez seu mistério, seu jogo de quem não quer se entregar. Hoje é diferente, não se revelará, não pode, não quer. E eu aceito, não como alguém que perdeu. Mas, como alguém que sonha. Que não acreditava, acreditando, naquela história de amor, ou no amor que a história podia trazer, e viveu uma curta e intensa paixão. Tanto faz se acabou ou se para você nunca significou nada mais que uma amizade. O que hoje me faz escrever e lhe admirar é o sentimento dentro de mim. A luz que sai do seu corpo – um varal de luz deste espetáculo que são nossas vidas – e vem até mim, mesmo que não me veja, mesmo que não queira.


Ana Kita

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