sábado, 17 de março de 2012

Cópia de livros e livros...

      Você, leitor, como eu já ouviu/leu sobre a análise política de as cópias de obras integrais serem liberdas para uso não comercial (ou seja, apenas particular)? Se não, faça como eu e leia um pouquinho no Blog do Galeano (eu li este e esse artigos).
       Tendo lido/ouvido ou não, pode ler agora um pouco da minha reflexão a respeito... Eu não sou nenhum nome de destaque da política (nem gostaria) ou da literatura (quem sabe um dia), mas é certo que faço parte dessa sociedade leitora que nem sempre tem condições de comprar os livros que gostaria. Estudante universitária do curso de Letras de uma instituição particular, pibiqueira (PIBIC, pra quem não sabe, quer dizer Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, portanto sou bolsista através da elaboração de uma pesquisa científica), aspirante e amante da leitura sou a típica pessoa que poderia adquirir um livro por dia. Não que eu seja uma rata de livros ou que os leia em tempo recorde, mas há sempre indicações que eu gostaria de conferir, clássicos que desejo possuir, teóricos que preciso conhecer e livros para meu prazer que me autorizo ler (risos, mas adorei a coleção "O diário da Princesa" e as obras que li de Paulo Coelho também me facinaram).
        Acontece que, para dar um exemplo prático, numa única disciplina do meu curso este ano o professor sugeriu três livros que seria bom possuirmos para embasar os conteúdos de sala de aula, consultar para pesquisas e ter em nosso acervo profissional, simplesmente cada um deles custa cerca de R$100! Bom, daí, você pensa: "ah, ela reclama de mais, vai fazer direito ou medicina pra ver!". Pode até ser, acontece que indiferente do quanto poderia ser mais caro ou serem mais livros, isso é apenas uma das 9 disciplinas que tenho este ano, e desculpa, trezentos reais não têm caído do céu para mim, não! Outro argumento seria "ah, nem todo professor sugere livros", sim, é verdade, alguns só fazem uso de artigos ou pequenos capítulos, sendo assim facilmente acessível na biblioteca ou na própria internet. Mas, sejamos francos, que aluno interessado em realmente aprender e ser um profissional de ponta pode se prender apenas às indicações e sugestões dos professores? Além de todos os livros exigidos ou sugeridos, têm os literários que se precisa conhecer para entender as teorias, aqueles que se gostaria de ler e os livros que serão usados em pesquisas a parte do currículo obrigatório. Afinal, tem pesquisa, extensão, ESTÁGIO, TCC! E vida, não é mesmo? Poderia, ainda, citar todos os index de textos de nossos próprios professores que nem sempre se resumem a umas poucas páginas, as pastas e portifólios exigidas para organização desse material, todos os trabalhos impressos... Tudo isso é dinheiro usado em pról direto da educação, há ainda transporte, alimentação, moradia, vestuário e lazer, né? Enfim, não estou reclamando, é muito gasto e, sem dúvida, muita dedicação, contudo o retorno é diário e contínuo, aprendemos, descobrimos, produzimos e teremos frutos por toda nossa vida.
        Tudo isso foi só um panorama da minha vida universitária, como exemplo de muitas outras, o ponto não é esse, mas já vou chegar lá. Os livros, especialmente teóricos, necessários para o ensino superior são caros, sim, isso é uma verdade e ponto. Mas, esse não é o único problema, em cidades-não-capitais as livrarias não costumam ter em estoque (pelo menos na minha área essa é uma verdade quase que absoluta, dos livros mais caros aos mais em conta, simplesmente não se encontra, a não ser encomendando e aguardaaando), os mais antigos - geralmente os mais conceituados e elogiados pelos professores - muitas vezes estão em falta ou mesmo esgotados - ou seja, sem previsão de retorno às livrarias. Assim, nos resta recorrer aos sebos, bibliotecas e acervos particulares. Sebos! Na minha cidade (novamente aquela questão de não-capital, principalmente não capital-cultural) não há tanta oferta de sebos, tampouco encontra-se uma grande variedade de livros clássicos ou teóricos, menos ainda os raros e esgotados. Pode observar, incrivelmente os sebos estão cada vez mais lotados de best-sellers, auto-ajuda, revistas e gibis. Acho até interessante que os mais fáceis de achar e mais lidos sejam também os mais revendidos após serem "usados", é uma outra cultura (não me interprete mal, digo isso apenas porque eu sou o tipo de pessoa que se compra um livro de que gosta ou tem interesse jamais se desfará dele), por sinal uma outra questão que aqui não cabe. Bibliotecas! Ai, essa é uma antiga e complicada questão, sabe-se que grande parte da população brasileira se quer tem acesso a bibliotecas, havendo pessoas de classes socias menos favorecidas que nem sabem onde ficam a biblioteca pública de sua cidade, é uma questão cultural e politica, que novamente vou me abster de discutir. Enfim, as bibliotecas acessíveis aos universários, a própria da universidade e a pública muitas, mais muitas mesmo, vezes não possuem os livros raros e essenciais que só se conseguiria por acervo antigo. Quando essas têm os livros são poucos volumes e muito procurados; quando podem ser emprestados demoram a ser devolvidos (mesmo que para esse uso se pague multas altíssimas) e quando não, é complicado usar - que universitário tem tempo para ficar horas na biblioteca pesquisando e copiando à mão trechos importantes de grandes obras? Ah, xerox? Só de 10%, escolha bem! Há, então, os acervos particulares! Colegas sortudos ou professores bacanas que emprestam essas obras tão quistas. Novamente entra a questão de poucos livros para muitos necessitados, além do tempo reduzido para colher muita informação. Ah, quase me esqueci, nesses dois últimos casos há ainda a impossibilidade de sublinhar, anotar, marcar! Como retirar (tantas) informações essenciais de textos - geralmente difíceis - sem qualquer chance de anotação imediata nos trechos? Vale nesse caso o habitual "fichamento", mas este demanda ainda mais tempo e trabalho. 
        Tudo isso, outra vez, não foi o ponto que queria mesmo tocar, não que não sejam importantes, pelo contrário são critérios relevantes para se abrir questionamentos, sem dúvida. Acontece que o que realmente me intriga é o fato da análise ficar em torno do xerox e não dos livros! Quando há acesso limitado aos livros o xerox caseiro é feito, não há lei que controle o que acontece entre "quatro paredes", que nos digam as indústrias musical e cinematográfica. Ou seja, essa é a discussão mais inútil que já li! Posso estar sendo um pouco revoltada, normal, mas pense comigo: discutir a liberação "perante a lei" de algo que normalmente acontece e de que não se consegue ter o menor controle!? Cadê a lógica? A única vantagem desse assunto na mídia é abrir para uma parte maior da população as questões que aflingem os leitores, especialmente do mundo acadêmico. Agora sinto-me na obrigação de deixar minha "sugestão": Está mais do que na hora de haver discussão, olhar e reformulação sobre o universo editorial! Esse sim precisava de lei, incentivo e projetos para mudanças que beneficiassem não só os leitores, mas também os produtores (escritores, ilustradores, revisores, editores). Não há dúvida de que a redução de preços possibilitaria mais leitores, mais leituras (variadas, inclusive), mais escritores publicados (e outros profissinais da área), mais acesso à cultura... Enfim, uma evolução educacional, cultural, e, até, econômica.
        Passe essa ideia a diante!

Ana Kita

6 comentários:

  1. acho ótimo isso de partir de si próprio para exemplificar e argumentar a respeito de algo. fizesses bem isto!

    eu considero conversa-pra-boi-dormir. quando há necessidade, fotocopio o livro todo, sim. por 'n' motivos. ao mesmo tempo que faço questão de ter o maior número possível de livros. depende do momento e do propósito. queres tornar lei algo assim a mim não tem cabimento.

    beijos!
    íta.

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    1. Ah, Ítalo! Eu me esforço tanto daí vem você e resume muitíssimo bem tudo! Se não fosse você eu até ficaria triste... hehehe

      Beijos, beijos! E obrigada!
      Ana*.

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  2. Ótima essa crônica (posso chamar assim? Eu não gosto de fotocopiar livros porque eu geralmente acabo jogando no lixo. Me fascinam muito essas obras acadêmicas, e a maioria das indicações dos professores estão na nossa biblioteca acadêmica, mesmo. Mas é como você disse, quem é avido por conhecer aquele "a mais" encontra dificuldade. Como o Ítalo, não me prendo a essa coisa de "lei", faço o que meu coração literário (ou acadêmico) manda.
    Beijo!

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    1. Acho que sim, uma crônica. Obrigada pela opinião, Philipe!

      Beijos, beijos!
      Ana*.

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  3. É sem dúvida dificuldades que acadêmicos, pelo menos os mais aplicados, sofrem; assim como "ávidos leitores" que buscam e desejam ter em seu acervo particular determinadas obras ou leituras espessíficas (também sou uma destas, é uma satisfação íntima ter em meu poder - ser a "dona e proprietária" - obras literárias e teóricas que sejam de meu interesse acadêmnico e profissional).

    Adorei a reflexão.

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    1. Obrigada pela visita e comentário. Pena que não se identificou.
      Seja sempre bem-vinda!

      Beijos, beijos,
      Ana*

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