segunda-feira, 11 de junho de 2012

Dizeres a serem ditos

      Há coisas que simplesmente preciso dizer. Há quem não queira, há quem diga que não devia. E o que eles sabem? O que sabem de mim? Tampouco sabem quem ouvirá (lerá). Se é que haverá. Não quero ser redundante, nem ficar apenas brincando com as palavras, mas, é preciso dizer aquilo que se diz num olhar, no silêncio, no suspiro profundo. É preciso dizer o que ninguém diz, o que muitos sabem e calam. É preciso dizer o que se tem vontade, o que se sente necessidade. É preciso dizer o que o outro não pode adivinhar. É preciso deixar de supor e passar a dizer. É preciso dizer até aquilo que o outro sabe, mas que faz bem ouvir. É preciso se permitir ouvir. Ouvir a si mesmo, aos outros, ao que é dito e ao que se deixa de dizer. É preciso querer ouvir. Não bastar ter ouvidos, não basta estar perto, é preciso vontade e empenho.
        Há muitos dizeres por aí, parados nas esquinas, sentados nas sacadas e calçadas, escondidos nos armários e debaixo das camas, empurados para os cantos, soterrados de poeira, envelhecidos e recém formados. Há até dizeres por aqui, perto assim, tão perto que quase não podem ser vistos. Há dizeres esperando e alguns sendo esquecidos. Há dizeres que nem mesmo no pensamento do sujeito estão bem formados, talvez seja medo. Há dizeres que estão na ponta da língua, mas de tanto ficar ali acabam por se afogar numa dose de cachaça barata. Há dizeres que só saem molhados, são ditos agudos ou choramingados, vão doloridos, mas não deixam saudades. Há dizeres que pulam dos sonhos, estão tão amarradinhos durante o dia que só conseguem fugir quando o sujeito dorme, pena que ninguém que escuta. Há dizeres que são gritados nas discussões e saem todos cuspidos e tortos, são ditos tão de pressa que perdem partes ou ganham outras, fazendo um mal danado. Há dizeres que são doces e sussurados, repetidos ao pé do ouvido, valem a pena quando vêm acompanhados.
        Entre tantos dizeres, penso quais quero dizer e saio por aqui dizendo. E você, o que tem a me dizer?

Ana Kita
       

Nenhum comentário:

Postar um comentário