segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Correr só - Ana Kita

   Ela corre, não tem pra aonde ir, nem sabe em que direção seus passos a levam. Ela corre porque não pode mais ficar, porque perdeu o abrigo, o amigo. Ela corre porque não sabe o que fazer, corre porque parece ser a única coisa a se fazer. Ela corre. Corre pra perto, pra longe, em círculos. Corre fugindo, mas não pode fugir das lembranças. Foge do passado que sonhou, dos planos que fizeram juntos, da imagem do castelo que se desmontou. Foge inutilmente, porque leva consigo. Leva porque não se permitiria esquecer, seria se desfazer, como descosturar uma boneca de pano, sendo a próxima boneca. Tudo que viveram lhe causam lágrimas, uma dor que vem do peito e parece se instalar no estômago, já não quer comer, já não quer falar, chora e corre, até não mais aguentar. Tudo que viveram lhe serve como linha, faz cicatriz, mas também a decora, faz com que seja forte, inteira, capaz de suportar quantos mais invernos vierem. É quando cai a noite que ela precisa parar de correr, sente frio, sente sono. Ainda com frio, ainda com sono, não consegue dormir, sente-se sozinha, e, por agora, isso é o pior.

Ana Kita

2 comentários:

  1. Eu adoro essa temática do correr, quantas idéias já me surgiram que remetiam a esse pensamento. Não pude deixar de notar ali, que apesar do sofrimento da separação, acredita-se que ela a tornará mais forte para os tempos vindouros, uma crença nas possibilidades futuras. :)

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  2. Sempre há benefícios, ao menos precisamos acreditar! "Todo fim é um novo começo." ;)

    Obrigada, Kawen!
    Beijos!
    Ana

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