quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O esconderijo - Ana Kita

Escrevo-lhe, não por amor, não por ciúmes. Não pense bem, nem mal de mim, espere ao fim da carta e tire suas conclusões. Preciso lhe dizer para que não volte ao nosso lugar. Não é mais nosso. Nem lembro mais como chamávamos, talvez de esconderijo, talvez de ninho, mal lembro quem éramos. Com o nome que for ou que tinha que já não lhe pertence, compartilhei com outra pessoa. Peço desculpas, caso você seja apegado às nossas lembranças, acho pouco provável, afinal foi você quem jogou o que restava de nós como um papel usado como rascunho em ambos os lados. Você sempre foi assim, eu sabia, eu até gostava, escrevia onde estava em branco, em qualquer pedaço, mas algum pedaço que pudesse chamar de seu, que ninguém tivesse usado. Eu também fui uma página em branco. Escreveu muito e não quis virar a página, preferiu procurar outra, como sempre fez. Eu aceito folhas escritas, por isso hoje reescrevo minha história. Nosso cenário passa ser cenário de outra história, esta de amor, e ainda que possa haver semelhança entre os antigos e atuais personagens, são novos, com novos propósitos e um novo final. Tenho mais autonomia nesta história, posso criar e até decidir bastante coisa, fique feliz por mim. Possivelmente aprendi com você tomar as rédeas, ainda que eu achasse que já as tinha. É só quando termina uma história que podemos analisa-la direito, aprendi isso também.
Não vou me alongar. Sabe que ninguém mais vai lá, mas se for, possivelmente me encontrará. Não faça isso. Esqueça, como tem me esquecido, como vou me esquecendo. Quem eu era lembra com carinho quem foi, mas é só.

Ana Kita

2 comentários:

  1. A vida é cheia delas, Kawen! Mas, depois delas vêm novos cumprimentos, novos relacionamentos... ;D

    Beijos!
    Ana

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