domingo, 28 de novembro de 2010

Uma ideia, um questionamento, numa conversa

   Ontem, eu assisti ao filme "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1", entre toda tensão, emoção, reflexão, veio-me uma ideia, é dela que quero dizer. Mas, antes, claro, eu não podia deixar de elogiar e indicar o filme. Na verdade, a série inteira - especialmente cinematográfica, sei que pode parecer estranho, mas eu não li todos os livros, embora me defina como uma apaixonada pela série, agora os filmes sim, vi e revi todos, admiro-os, tenho-os, recordo-os, e principalmente: indico-os -, por curiosidade, por paixão, assista por diversão, creio que se surpreenderá, é sim envolvente e admirável. Até hoje eu ficava em dúvida como chamar a sequência de livros e filmes sobre Harry Potther, pensei em "trilogia", mas não são apenas três, sugeriram-me "saga", mas eu não gostei, pensei e soube ser pensamento de outros "série", ficava na dúvida. Busquei o "Wikipédia" - apesar de todas as críticas, eu gosto e pesquiso nele - e encontrei "série", aderi.
   A ideia veio de uma cena que não vou contar, quem assistiu talvez a identifique, provavelmente quem assistirá depois de ler pensará a respeito. Também, confesso, não é de extrema importância, neste caso, o contexto que me trouxe a ideia. Enfim, a ideia, não tão fixa quanto o "Emplastro Brás Cubas", é sobre conhecer as pessoas, ou melhor, sobre o que é necessário saber para ter a certeza de que se conhece uma pessoa. A origem? A família? As ideias? Os sonhos? Os valores morais? Seus defeitos? Suas virtudes? Suas habilidades? A religião? Seu nível escolar? Sua idade? Seu jeito de falar? De andar? O que gosta? O que teme? A cor de seus olhos? De seus cabelos? O número de seu sapato? O manequim que veste? Seu nome? Sobrenome? A rua em que mora? As escolas por onde passou? As cidades que conhece? Os amigos que tem? Os amores que teve? Talvez muitas dessas, possivelmente muitas outras coisas. Para cada um será diferente, ou não. Eu me baseio ao dizer que conheço alguém pelas coisas que acho importante, depende de quem pergunta, depende de conhecer "para quê?". Parece tão relativo "conhecer". 
   Segundo o "Dicionário Priberam da Língua Portuguesa", o verbo conhecer vem do latim "cognosco", o que pra mim diz pouco ou nada. Os significados são doze, nove como verbo transitivo, dois como verbo intransitivo, e um como verbo pronominal, para mim já diz um pouco mais, mas eu sou amante da gramática normativa, meu leitor possivelmente não. Vamos então aos significados de fato: conhecer é "ter conhecimento de", "ter noção de, saber", "ter relações com", "saber quem (alguém) é", ah, esse sim é exatamente do que eu falava, mas acho que gostei mais dos outros. Continuemos: "Estar convencido de", "distinguir", "ver", "ter indícios certos", "ter relações sexuais"... Misericórdia, esse último foi forte. "Tomar conhecimento", "averiguar". E por fim, "ter perfeito conhecimento de si próprio, dos próprios méritos, do caracter próprio". Querendo não ser tão certinha, vou começar pelos últimos significados. Vou ignorar o último, muito filosófico, e estou falando em conhecer alguém, isto é, alguém que não seja eu, senão complica mais ainda. (risos) Os significados como verbo intransitivo também não se encaixam, é conhecer alguém, alguém é objeto direto. (mais risos) Bom, primeiro então a bomba, já pensou só conhecer depois de ter relações sexuais? Misericórdia, acho esse significado pesado ou equivocado, além do mais há sempre quem diga que foi casado por anos - entendo que houve muita relação sexual - e só conheceu o parceiro depois de separado. "Ter indícios certos" cai num jargão policial e ainda fica subjetivo, não gosto muito dos conceitos "certo e errado", parece tão presunçoso se sentir capaz de julgar. "Ver" exclui quem conhece por escrita ou pelo mundo virtual, por exemplo, mas acho que pode fazer parte do que julgo como "conhecer". "Distinguir" quase com certeza. Não posso dizer que conheço alguém se confundo com outra pessoa, certo? Bom, nesse caso caiem as famílias ou amigos que confundem irmãos gêmeos, eu tenho até sorte nisso, costumo identificar. "Estar convencido de"... hmm, não gostei. Não sei bem explicar, isso seria como dizer que você só conhece quem lhe convence? E se eu não gostar de ser convencida? (risos) Eta, ambiguidade. "Saber quem (alguém) é" faz todo sentido, mas continuo em dúvida do que isso realmente significa. "Ter relações com" pode até ser, entendendo relação como algo abrangente, uma amizade, um contato profissional, um romance... "Ter noção de, saber" é pouco explicativo, não? E por fim ou começo "ter conhecimento de", queria eu ter conhecimento do que seria ter conhecimento. Especialmente quando é sobre "alguém". 
   Quem são as pessoas que você conhece? O que sabe sobre elas? O que é preciso saber? Se você conhece duas pessoas você tem as mesmas informações sobre ambas? Acho pouco provável. Começa aqui a reflexão e vai até onde sustentar. Fique a vontade para questionar, refletir junto, comentar...

Ana Kita

3 comentários:

  1. achei ótima essa leitura que tu propões a partir do filme. porque a trajetória toda do harry, principalmente, leva-nos a pensar nisso. gostei mesmo! e me encantei mesmo pela série através da trama dos livros. não da narrativa deles, que é tosca. nem dos filmes, que pra mim são incompletos demais. mas os assisto direto, haha. beijos!

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  2. Sobre a frase:
    "mas eu sou amante da gramática normativa, meu leitor possivelmente não."
    Sim, acertou em cheio.

    Sobre o conhecimento:
    Melhor definição que encontrei, e faz tempo já (também sou fã do Wikipédia) é o dessa imagem http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/53/Conhecimento-Diagrama.png
    Estou mudando do assunto "conhecer pessoas" que foi o principal do texto para o 'simples' "conhecer".

    Eu poderia escrever um artigo com mais de 30 páginas sobre isso, mas não vou me aprofundar muito, porque assim como você disse "amante da gramática normativa, meu leitor possivelmente não" eu digo "amante da filosofia, meu leitor possivelmente não" HAHA
    Enfim, pulando o papo furado, o que eu tenho a dizer é que o "conhecimento" em última análise é subjetivo (isso que os cientístas mais odeiam, tentando definir uma lógica para a suposta "realidade objetiva", quando de fato, o conhecimento não passa de um resultado vindo de percepções que temos do mundo que acreditamos ser real). - Deu pra perceber que sou fã de matrix também ^^

    Mas a questão é muito mais complexa que minha "teoria" acima. (Que também é resultado das minhas percepções, por isso é complexo, podemos sempre olhar para a mesma coisa, mas vê-la de forma diferente).

    Enfim, já escrevi demais, quem estiver lendo deve estar quase dormindo...
    Só uma pergunta: que parte do filme te fez pensar nisso?
    Parabéns pelo blog, tenho que passar mais por aqui XD

    Beijos.

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  3. Muito obrigada, garotos! Adorei os "testemunhos" (eu e essa palavra que não me larga).

    O Ítalo puxou pelo lado da série e de sua experiência com os filmes e livros, e tem razão (algo que nem tinha levado em conta) que toda a trajetória tem um pouco disso de "conhecer" o outro. Muito legal!

    Já o Daniel, como confessou-se fã de filosofia, levou pra reflexão. Olha, surpreendeu-me, um comentário de quem mergulhou no texto e na ideia. Gostei muito da sua "teoria", não quase dormi, ao contrário, fez-me acordar para novas reflexões. Concordo com a parte fã de Matrix, também gosto dessa postura frente a "realidade".
    Sobre a pergunta lhe respondo por MSN, quero aqui deixar o mistério, quem sabe outros leitores que assistiram não identificarão.

    Beijos a ambos.
    Ana

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