sábado, 9 de abril de 2011

Um grande dia - Ana Kita

   Toda realização de um sonho deve ser assim: um sonho fortificado pela espera, amadurecido pelas decepções, a oportunidade de realizá-lo chegando discretamente, a ansiedade, e o êxito. Toda realização de um sonho romântico devia ser assim: no colo da família, com piadas e sorrisos, entre deliciosas comidas e poltronas de sofás. Todo amor devia chegar assim: silenciosamente, envergonhado e confiante, avassalador e sorridente.
   Hoje realizei um desses sonhos gigantes que nos acompanham nossa vida toda. Um sonho destes simples e bobinhos, mas que o tempo sem oportunidade faz do êxito um grande prêmio. Ao realizá-lo encontrei um motivo pra ter demorado tanto, não podia ser de outro jeito, em outro tempo, era hoje o dia certo, eram eles as pessoas ideais. E foi, como os sonhos devem ser, perfeito.
   Podia ter sido o nascimento de um filho meu, podia ser meu casamento, ou o batizado de um afilhado, podia ter sido minha formatura, ou o casamento de um dos meus irmãos. Contudo, grandes realizações podem ser coisas simples como conhecer a família daquele que se ama. Busquei a roupa perfeita e não a encontrei, uma vez acontecendo pouco importava o que eu vestia. Meu cabelo precisava estar em ordem, mesmo depois do uso do capacete, e chegando lá nem me lembrei de procurar um espelho. Tentei com a maquiagem cobrir as imperfeições com o mínimo possível, queria dar uma boa impressão sem parecer forçado, e nem a retoquei. Minha impressão era ótima e já bastava. Pensei em comer pouco, falar pouco, sentar direito, controlar gírias e correções, ser carinhosa, mas contida... E estando lá comi bem, falei o que quis, não reparei como sentei. Fui eu mesma, feliz, realizada. Teoricamente eu sabia que isso iria acontecer, teoricamente eu sabia que era isso o mais importante, mas minha mão trêmula e fria, meu estômago doendo enquanto eu me arrumava, e ele chegando antes do horário marcado, fizeram-me desesperada.
   Fico feliz que tenha sido assim, o deslumbramento do acontecido deu-se também graças a ansiedade. Os prazeres que repeti, sinceramente, a cada um que conheci e de que os nomes já vou me esquecendo, também foram efeito da - longa - espera. Quando finalmente o nervosismo passou, aproveitei. Ri, conversei, revelei-me, descobri as pessoas, admirei meu amor. Realizei-me, como nem em sonho eu imaginava.

Ana Kita

2 comentários:

  1. Adorei...
    Como pode uma coisa tão simples te deixar tão feliz, e com isso, me deixar feliz!!!
    Bjs

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  2. hehehe Que bom, tia! Acho que essa é a ideia da vida e muitas vezes nem percebemos, as maiores felicidades estão em coisas simples (como se alegrar com a felicidade da sobrinha). ;D

    Beijos, beijos!
    Ana

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