sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A arte de assistir a futebol - Ana Kita

   Escrevo humildemente, porque sei que muitos que me lerem podem pensar "ah, cala a boca, você é mulher, vascaína e nem se quer assistiu a um jogo profissional num estádio", ou pelo menos pensarão uma dessas coisas. Não nego! Nem por isso deixo de gostar de futebol ou de escrever este texto.
   As memórias mais antigas que tenho com futebol, pelo menos aquelas que lembro fortemente, são simultâneas e por volta de meus 8 anos. Na escola havia os meninos que jogavam diariamente, eu sempre os assistia, torcia pelos que estudavam comigo (especialmente aquele que despertava um aceleramento cardíaco), e analisava o jogo dos mais velhos. Em casa, ou mais precisamente na casa do meu pai, eu via meu irmão sempre a par de tudo quanto era campeonato, influenciado pelo avô, e admirava.
   Quem me via assistindo no colégio podia até imaginar que um dia eu fosse me interessar por trabalhar na área, comentarista ou árbitra quem sabe, pelo menos devia achar que eu tinha uma grande influência em casa para gostar de futebol. Contudo, jamais pensei em seguir alguma carreira esportiva, tampouco tinha em casa grande influência. Minha mãe desde que posso me lembrar se diz flamenguista (nem tudo é perfeito), no entanto nunca a vi assistindo mais que alguns minutos de qualquer jogo, menos ainda acompanhando campeonatos ou sabendo como vai  "seu time". Meu pai não era muito diferente, sempre se disse vascaíno (ah, explicado minha torcida? sem dúvida!) e sempre foi igualmente relapso quanto aos jogos, títulos ou campeonatos. Meu avô materno poderia ser uma influência para criar o hábito de assistir na televisão ou acompanhar pelo rádio. Creio que não, embora ele sempre assistisse (fosse ao time de um lugar super remoto num campeonato nada importante ou à Copa), não o acompanhava, e mais achava graça dele pegando no sono antes do fim de uma partida que admirável.
   Aos 10 anos, eu torcia pelo Vasco e pelo Palmeiras. O Vasco, claramente, para seguir meu pai, já o Palmeiras era influência (não proposital) de uma paixão de escola. Minha memória falha, mas eu os via como concorrentes diretos e me achava na obrigação de optar por apenas um. Essa escolha aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2002, num jogo da primeira fase (02/11/2002), confronto direto dos meus dois times "do coração", e o Vasco ganhou por um único gol do Léo Lima (quem futuramente seria contradado pelo Palmeiras, vida engraçada). Fora suficiente para mim. Nem sabia eu que o Palmeiras ainda seria rebaixado nesse campeonato. De lá até hoje a paixão vascaína sofreu altos e baixos, fases, mas jamais se extinguiu. Ainda que não aconteça muito (por falta de tempo, chance e até de transmissão), quando assisto a um jogo do Vasco o coração salta, as mãos suam, os músculos ficam tensos e esqueço o mundo (independente do resultado).
   A verdadeira paixão por assistir acontece mesmo nas quadras (ou, creio eu, nos estádios). É a proximidade e o som real quem cria a tensão. O tesão vem da agitação na quadra/campo e chega na arquibancada (ou mesmo um banquinho perto, rs). Muita gente vê aquelas pessoas sentadas como meros figurantes da partida, eu vejo além. Quando sento para assistir a um jogo, seja de amigos ou até desconhecidos, passo a torcer, a me emocionar a cada lance. Cada bola defendida é uma comemoração ou aflição, cada falta sofrida é um desespero, cada gol é uma frustração ou vitória... Ah, a torcida verdadeira, aquela que sente plenamente, faz parte do jogo! Dá força, esperança, torna-se um motivo para a dedicação dos jogadores. Além da energia que invade tudo, das linhas do campo/quadra aos últimos lances da arquibancada, aquela energia de competição e amizade, de fé e esforço, a união e democracia do esporte.

(Continua.)

Ana Kita

3 comentários:

  1. Nem tudo que se vê - é verdade... Bem como, nem tudo que nunca vimos - não existe!! O tempo não nos pertence, mas sem ele... quem somos?! Paixões não se explicam... sentem-se!!!

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  2. Hummm...totalmente influenciada pela família Tavares...
    Tio Alexandre precisa saber disso, vai adorar mais uma vascaína na família, aquele é roxo...
    Bjs
    Tia Nani

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  3. Obrigada, mami e tia! Eta, família coruja! haha :D
    Tia, não sei se ele já não sabe, o Xande sabia, até já se gabou da camisa comprada no Rio pelo pai.

    Beijos, beijos!
    Ana

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