domingo, 6 de fevereiro de 2011

Precisar beber - Ana Kita

   Nunca fui contra beber em festas. Não que eu o faça há muito tempo, mas jamais critiquei quem o fizesse com o mínimo de critério. Agora algo como aquele trecho de Raimundos "eu me afogo em solidão" eu detestava. Não conseguia entender e julgava imaturo, insensato. Chorar tudo bem, é digno, inevitável muitas vezes. Mas, beber? Pra quê? Ah, beber não seria a solução. Ou não.
   Só se entende "beber para esquecer" quando se precisa, e isso é muito diferente de sentir sede. Pode-se até beber água, mas você "enche a cara de água", porque precisa, e muito. Os sentimentos são diversos, a necessidade intensa. Sente raiva, ciúmes, desejo, amor, tristeza... Olha e sofre. Sente mais do que o peito aguenta e não pode externar chorando, então bebe. Vira uma garrafa como um único gole e a tontura nem vem, mesmo que seja álcool. Você se sente menos vulnerável, seus olhos parecem que não precisam chorar imediatamente, a música contagia cada músculo seu e você dança. Dança como se ninguém estivesse olhando, como se fosse a última música, ou sua favorita. Dança como nunca, porque nunca havia precisado. É como correr para pedir ajuda por alguém importante para você que está ferido, você corre como o atleta que nunca foi, como nunca imaginou, porque sabe que é preciso.
   Beber não resolve nada, é bem verdade. Não soluciona seus problemas, mal faz esquecê-los. A saudade sempre continua sóbria e lhe aperta. Ah, como aperta. "Por favor, minha música favorita..." "Por favor, mais uma dose!" "Desculpe, gatinho, eu não tô afim." Burra, você pensa, você estaria afim se não se declarasse na fossa. Burra, você pensa, ele nunca lhe deu valor. "Sai dessa", sua amiga lhe diz. O espelho do banheiro diz que a maquiagem está escorrendo e nem são as lágrimas. Cansa de pensar, cansa de ouvir. E pede: "Só mais uma, a saideira do recomeço."

Ana Kita

3 comentários:

  1. Enfim... "mais uma dose, é claro que eu tô afim. a noite nunca tem fim, porque a gente é assim"

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  2. Sabe, nunca usei a bebida pra tentar esquecer de alguma coisa. Também não creio que ela dê alguma fonte de coragem extra. É mais como forma de comemorar com os amigos, de se inserir. E nunca demais. Não por moralismo, mas sim pelo meu corpo que não aguenta muito!
    Abraços!

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  3. haha Lembrei dessa música também, "anônimo"! ;D

    Quem sabe um dia tenha essa experiência, torço que não (não é das melhores). Essa coisa de coragem também não creio muito, pelo menos comigo não funciona.

    Beijos, beijos!
    Ana

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