sábado, 26 de fevereiro de 2011

Quanto à vida não esperar e às pessoas seguirem

"Seguir viagem, tirar os pés do chão
Outros ares, sete mares, voar, mergulhar
O que nos dá a coragem
Não é o mar nem o abismo
É a margem, o limite, e sua negação"
[Humberto Guessinger]

   Uma ideia fixa matou Brás Cubas, eu, que já li e assisti muito sobre a obra, devo ter me influenciado. Mesmo nos dois meses de maior reflexão não foquei numa só ideia. Pensei em várias, e talvez por isso mesmo, tenha perdido pequenos detalhes. Na complexidade das relações humanas se enganam aqueles que não acreditam na importância dos detalhes. Pequenas atitudes, ideias, até palavras, podem mudar completamente o destino de uma situação.
   Nos primeiros tempos analisei profundamente, tentei me proibir de comparar a antigas relações. Mais recentemente preferi as doces ilusões às profundas análises. Por algum tempo até foi divertido, mais saudável talvez. Mas, pra quem quer futuro, pra quem sonha com uma vida plena e real, ilusão não tem vez. É preciso muita realidade, ser realista mesmo, ainda que possam sair feridos. Não estamos preparados. Nunca. Todavia, as cicatrizações emocionais jamais falham. Podem demorar. Depende das lembranças, depende do quanto já se aprendeu, mas quando menos se espera ou depois de se ter realmente aprendido, as marcas ruins até desaparecem. Enquanto as feridas não curam, colos são precisos, músicas são ímas de lágrimas, e pedidos tolos acabam escapando. 
   Eu ainda tenho um corte. Talvez vários. Eu que os fiz, descobri mais tarde. Contudo, antes mesmo de descobrir a autoria, passei a cuidar dele(s). Todos os dias, nos últimos quarenta, com muito calor e insistentes chuvas ao anoitecer, fui aprendendo sobre um corte em específico, sobre mim, sobre o que ficaria - de bom. Hoje foi meu último dia. Meu último minuto observando o corte, tentando abri-lo ou curá-lo. Sei que não precisa de minha atenção. E todo o resto? Onde haveria espaço para ser quem sou? Quando teria tempo para ouvir minhas canções favoritas, flertar com aquele sorriso simpático da faculdade, ou admirar o nascer do sol? Não há mais tempo a perder. Não há nada a esquecer, é preciso lembrar. Da própria cicatriz vem a maior lembrança de que é preciso buscar a felicidade. 

Ana Kita

4 comentários:

  1. Refletir é sempre bom, mas precisamos cuidar para não ficar muito tempo nesse estado e esquecer do resto.
    Beijos!

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  2. Philipe pra variar resumindo meus textos em uma frase! hehehe Perfeito! Essa é a ideia! :D

    Beijos, beijos!
    Ana

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  3. humm!

    acho que ideias fixas são super necessárias. as pessoas precisam ser determinadas. A questão é não ultrapassar um certo limite invisível que há. Que Brás Cubas e que Bentinho, outro personagem do Machado, também cruzou. (talvez, pq aqui surge a polêmica "ele era louco ciumento ou não etc etc") Isso não vem ao caso. (de onde tirei isso? viajei nesse texto teu hein?)
    bonita reflexão, ana.
    ah, obrigado pelo comentário atencioso lá no Sujeito.


    bjo!

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  4. Adorei que viajou no (e com o) texto! *-*
    Concordo que certo foco é necessário, mas é preciso se controlar (o que o Philipe ressaltou, por sinal). Verdade que Dom Casmurro (quando já adulto, né?) também passou por isso, ambos exemplos que não encontraram o controle.

    Por nada! Tão sincero quanto sinto os seus comentários aqui! :D

    Beijos, beijos!
    Ana

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