quinta-feira, 24 de março de 2011

Espinho em minha carne - Ana Kita

   Senti de novo, quase como meses atrás. Embora dessa vez mais pautada, sem presenciar e parece que sem direito. Quis negar a princípio, como antes. Não contar a ninguém e nem me permitir pensar sobre. Nunca consigo me enganar. Tanto quanto é preciso confessar a si mesmo quando se está amando, é preciso reconhecer que sinto ciúmes. E muito. Vem na madrugada fria, traz insônia e na manhã nublada não se desfaz. Acompanha-me durante o dia, embrulha-me o estômago, tira minha concentração e me causa enxaqueca. Na segunda noite, ou madrugada, assumo e uma lágrima quer escorrer. Não deixo, tenho orgulho. As horas passam e o sono reaparece, com azar ainda sonho com ele, na manhã seguinte mal lembro. O ciúmes continua comigo, e assim ficará enquanto o elo existir. Por hoje decido não almoçar, o enjoou volta toda vez que penso quantas podem por seus braços passar.

Ana Kita

3 comentários:

  1. Só não posto nada ali no "Senti(mos)" porque falta uma opção para quando não se sente nada.

    *rs

    Mas calma, não é algo de ruim ou pejorativo.

    Simplesmente pois quanto mais eu vejo que comunicação e a sintonia são coisas tão raras, o ciúme parece banal e absurdo.

    É como se a "lógica do ciúme" fosse algo que não funcionasse. Minha visão: como sentir ciúme se aquilo que existe entre duas pessoas nunca poderá ser reproduzido? Ninguém poderá ameaçar algo que não tem rivalidade. Era uma idéia que já estava amadurecendo a muito tempo na minha cabeça, mas só agora lendo teu texto ela pode florescer.

    E no jardim do universo, existem muitas flores, e cada uma representa uma maneira diferente de sentir a realidade, nenhuma mais bela, ou mais feia, apenas cores acrescentadas a uma visão que se enxerga melhor de longe.

    ResponderExcluir
  2. Interessante, Kawen! Sabe que eu adoro ler outros olhares, ainda que não concorde.
    Primeiramente o meu entendimento de torpor (como já conversamos anteriormente) é justamente este "não sentir nada", o que na verdade nem acredito muito, mesmo você sentiu algo uma certa "antipatia" pelo tema.
    Posteriormente digo que sua lógica é interessante, no entanto eu penso que apesar do ciúmes ser algo imaturo (seja de irmãos, pais, namorados...), por ser um sentimento que costuma temer a perda ou mudança, ou ainda, prender quem sente a uma situação que já passou, vejo como um sentimento que existe e muito. Realmente o que une duas pessoas é único e por isso não pode ser copiado, mas frequentemente tememos (ou alguns temem, incluo-me neste grupo) que as coisas mudem, afastem, que outra união seja mais significativa, e por aí vai...

    Beijos, beijos!
    Ana

    ResponderExcluir
  3. Não, não foi antipatia...
    Seria outra definição, mas a palavra teima a fugir da minha linha de raciocínio *rs
    Ah, só pra me provocar, me deu uma pista.
    Acho que seria: indiferença.
    Pode ter sido uma reação exacerbada logo depois que li o texto.
    Em relação ao temor, sim, é uma constante presença... o que me faz ignorar ele é a certeza cada vez mais pesada da singularidade de cada relacionamento.
    Esse tema está brotando em minha mente... logo logo vou escrever algo sobre isso.

    ;)

    ResponderExcluir