domingo, 27 de março de 2011

Seguir - Ana Kita

   Por muito tempo lamentei sua ausência, nas noites quentes do verão sentia-me fria, como alguém que deixou sua essência pela luz de uma paixão. Vivi na escuridão, tateando encontrá-lo. E me perdi. Tão completamente e tão parte. Fui aos poucos abandonando o que me trouxera pra perto dele, nem notei o caminho vazio que percorri. Só seguia, tentando alcançar lentamente quem corria bem a frente. Era difícil, porém prazeroso. Só quando percebi que seu olhar não pararia em mim mais que alguns instantes, senti tudo. Aquele sufocamento que me alertava sobre morrer sozinha, sobre ter me matado todos os dias e já nem lembrar como eu era. Minha mente guardava todos seus espaços com ele, sabia seus horários, esperava-o, sabia seus gostos, controlava-me, sabia seus defeitos, aceitava. Tive pena de mim, sei que me desmancharia ainda mais se com isso conseguisse alguma recíproca dele. Parei. Quase que só para tomar fôlego, mas ganhei colos. Um aviso aqui, uma indireta ali, e fui me redescobrindo.
   Ressuscitei. Precisava me libertar. Ainda cai, de joelhos, na sua frente, levei a mão no rosto e algumas lágrimas escorreram. Quando dei meu primeiro passo noutra direção já encontrei companhia. Ainda olhei seu caminho, e surpresa lamentei já haver acompanhantes. A dor me ardia que corresse, dilacerasse-me toda, não ficasse sentindo-me na lanterna outra vez. Contudo, um braço me prendia, dizia-me que há luz aqui e haveria lá na frente, em meu novo caminho, iria comigo. 

Ana Kita

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