quinta-feira, 15 de abril de 2010

Desembarcar é preciso - Ana Kita

Depois de alguns anos criando, sonhando, planejando, e até me relacionando descobri que estive errada. Eu acreditava plenamente que o pior num relacionamento era o término. Hoje vejo que não. Os relacionamentos que mais me magoaram não tiveram término, claro que não foram eternos, apenas os envolvidos foram se distanciando, perdendo contato e posteriormente entraram em novas relações. São esses finais - não declarados - os mais dolorosos.
Pode parecer muito duro ouvir aquelas palavras assustadoras como "podemos ser amigos" ou "quero que você seja feliz com alguém que lhe mereça", mas elas põem um ponto final. Você pode ter esperança por algum tempo, pode chorar alguns dias, comer muito chocolate ou sorvete, só querer dormir, até que um dia você acorda e percebe que não é tão ruim. Você aprendeu muita coisa, terá sempre boas lembranças a recordar, e já é hora de recomeçar.
Agora os finais abstratos, esses que só percebo pelos dias que passaram e não nos vimos, pela falta de telefonemas, por novos depoimentos no orkut que substituíram os meus. Estes sim, criam dores fortes e duradouras. Eu fico imaginando o dia em que nos falaremos, eu fico aguardando uma justificativa para sua ausência, eu faço de tudo para que a esperança não morra. Eu lhe procuro, eu volto ao lugares em que nos víamos, esporadicamente lhe envio uma mensagem. Eu tento me agarrar às lembranças, às promessas, eu pergunto aos amigos sobre você, eu visito seu orkut. Enquanto não encontro nenhuma afirmação inegável de que não há mais nada entre nós, eu lhe espero. Quando finalmente chego a conclusão de que acabou, noto que acabou a muito tempo, e dói.
Antes fosse esse sofrimento apenas por sua ausência, pelas promessas não cumpridas, pelos planos que não realizaremos. Eu sofro por perceber que estive muito tempo me enganando, que fui fraca, que fui ingênua. Poderia você ter culpa nisso, custava aparecer e dizer que havia acabado tudo entre nós? Não sou tão boba a ponto de não perceber que quem mais errou fui eu. Eu tinha todos os indícios de que precisava, meus amigos diriam que eu tinha provas contundentes. Pareceu por algum (muito) tempo mais fácil adiar a conclusão, havia tanto prazer em esperar, em imaginar que tudo não passaria de uma fase distante. Não foi fácil, e hoje é ainda mais difícil aceitar a dor que eu mesmo me proporcionei. Estive me enganando, perdi tempo. A vida ali fora continuou, passou ainda mais rápido, até você já encontrou alguém para compartilhar seus sonhos. Só eu continuei como se congelada no tempo. Esperando por algo que não voltaria.

Está na hora de perceber que sou eu quem decide minha vida. Sou eu quem me permite embarcar, seja num navio bonito e seguro, seja em canoas furadas. Sou eu quem opta por abandonar o navio junto aos tubarões, ou quem percebe que um colete salva-vidas pode não ser desnecessário. Sou eu quem diz aos tripulantes que eles podem partir, ou quem os amarra fazendo com que sejam tão inúteis quanto se não estivessem navegando. Sou eu quem decide a que ventos posicionar as velas, ou navegar à deriva. Sou eu quem escolhe naufragar na tempestade ou pedir ajuda.

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