terça-feira, 13 de abril de 2010

Ontem durante a aula de Teoria da Literatura veio a mim - tão forte quanto uma tempestade - a reflexão que me faz escrever nesse momento, e compartilhar aqui...


"Se escrevo o suicídio de alguém, talvez passe a se tratar de um homicídio. É a mão que cria quem mata. O ser que morre não passa de uma vítima da criatividade - por hora fúnebre.
Se escrevo um amor guardado por anos que por fim é vivido, influencio a mente leitora a sonhar com a possibilidade de aguardar e encontrar o pote de ouro ao final. E se for só o caso fictício? Escrever teria o poder de modificar as mentes leitoras a ponto de serem pacientes e ao fim se permitirem?
Se escrevo minha história com uma visão romantizada - em que a dor não é tão cruel, e o aprendizado é mais acessível - mudo um pouco também minha visão futuramente. Passo a ver meu passado como algo bonito e muito útil, as dores que tive se tornam pequenas, compreensíveis e aceitáveis, suaves lembranças educacionais. A escrita da história de outra pessoa com um novo final pode fazer a mente leitora (que nem se quer conhece o verdadeiro passado) também suavizar e compreender seu próprio passado?
Sou a mente criativa que comanda a mão. Sou a dominadora das palavras que podem tão facilmente influenciar as mentes abertas (ou cruelmente consideradas, fracas) que lerem. Começo a descobrir que sou tão vítima das palavras quanto quem apenas as lê. Não posso eu descrever tudo que sinto, não tenho esse poder por completo. Não posso eu determinar como será compreendido ao ser lido. Não posso eu fazer escolhas além do que vivo e sinto. Ainda quando não participo do texto, ainda quando só imagino ou pego a imaginação de outro, ainda assim sou eu o ser dominado. Sou eu quem se rende às palavras e minha mão torna-se apenas uma ponte em suas mãos.
Mente leitora, perdoe-me a repetição embora variação de significados.
Se for para escolher entre me julgar corajosa ou covarde. Opto por coragem. É coragem manter-me escritora, embora ao escrever me pareça covardia essa total rendição às palavras. Uma mente leitora afável poderia dizer-me: Talvez ao escrevermos não tenhamos opção. Poderia estar certa, no entanto, neste caso, permaneço na ignorância da causa. Apenas escrevo." Ana Kita

->Dedico esta postagem a vocalista de "Os Impublicáveis", Carol. Que ontem fez um afável comentário sobre minha capacidade de transcrever sentimentos em palavras.

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