quinta-feira, 22 de abril de 2010

Entre pensamentos solitários - Ana Kita

"Estava eu sozinha mais uma vez. No meu mundo só havia uma garrafa de água, barras de chocolate e meu teclado. Tudo que eu sabia era escrever, comer e beber. A água me permitia continuar chorando, o chocolate tentava acariciar minha tristeza, e tudo que eu escrevia eram minhas dores entre lágrimas. Gostaria de entender o motivo que me mantinha sofrendo, descrevendo tão intensamente toda minha dor, sabendo que não me fazia melhor, mas permanecendo ali.
O telefone tocou. Fiquei olhando o visor, onde estava escrito: "Gabriel chamando". O que significava aquilo? Assim como o anjo ele me traria alguma notícia? Seria ele quem me tiraria daquela rotina lacrimosa? Atendi. Conversamos por alguns minutos. Eu não fui mais do que simpática, mas ele, ele foi sedutor. Achei que nunca mais ouviria sua voz, mas não só a ouvi, como fui cantada por ela. Convidada para sair e até presenciei um pedido de desculpa com uma declaração. O que ele queria? Realmente me livraria da dor ou estaria brincando comigo?
Dois dias depois da ligação, como havíamos marcado, saímos. Ele estava muito bonito, foi muito gentil, até nos divertimos. Até que num determinado momento, olhei em seus olhos e não vi nada. Eu o amava, o amava como no começo, admirava suas qualidades, conhecia seus defeitos, sentia-me realizada ao seu lado. E ele? Ele parecia apático a todo sentimento. Eu era apenas a mais próxima, talvez a mais fácil. Ficaríamos dias ou meses sem nos ver, então ele voltaria a me procurar, iríamos nos encontrar, e assim ciclicamente.
Por quê? Por que eu o amo? Por que ele não retribui? Por que eu sempre volto a sofrer? Por que eu não aprendo a lição dessa história? Por que eu não sigo em frente? Por quê? Adoraria ter respostas, mas se eu possuísse tanto conhecimento sobre ele e sobre mim, desejaria loucamente saber como conquistá-lo. Ainda sou imatura, ainda o amo, e talvez por essas mesmas razões eu ainda sofra."
Joinville, 10 de maio de 2009.


Eu estava querendo postar algum texto de minha autoria que eu achasse bonito, foi quando encontrei este no meu computador. Eu tenho o costume de junto ao título deixar uma marca quando - por mais fictício que o texto possa ser - vejo algum traço da minha história (o que no blog marco como "pessoal"), e este tinha. Não acho que estive completamente equivocada com meus sentimentos quando escrevi esse pequeno texto, no entanto, confesso que hoje não consigo afirmar com certeza quem me inspirou a escrevê-lo.
É engraçado como o tempo pode transformar o que sentimos, transformar nossas lembranças e especialmente quem somos. Julgo engraçado também que este texto hoje me remete a outras histórias, histórias que em maio de 2009 eu ainda não tinha vivido. Parece que é assim mesmo a vida, surpreendente e mutável.
Ainda bem.

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