segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Textofonia 19: Sem direção

   O jornal caiu na varanda e dentro de casa ninguém se moveu, haviam ficado acordados até muito tarde, não tinham vontade de lê-lo, menos ainda de recolhê-lo. Um belo dia de verão, mas ficariam enfurnados em casa, assistindo o relógio sem pilha marcar a perda de tempo.
   Ela levantou e tentou tomar o café adormecido na garrafa térmica, pensou que não era a melhor forma de passar o penúltimo dia da temporada na praia, embora não fosse fazer nada para mudar. Depois de desistir do café, tomou uma última cerveja do congelador, por sorte ainda em seu estado líquido. Sentou-se no braço do sofá e ouvindo o ressonar do corpo na cama ao lado, passou a refletir sobre os caminhos que a traziam ali, e a mantinham. Sem dúvida, ela que escolheu tudo daquele jeito, exceto, talvez, pelo ventilador queimado e o calor ainda pior que de costume.
   Naquele momento vê-lo dormir tão tranquilo, e tão ébrio, fazia com que ela pensasse que estivera andando sem direção, que seguiu um caminho com um baita muro no final, e que escolheu assim. Quem sabe apenas para dizer ao pai: Eu fiz, porque estava afim! Duvidou que valesse a pena, ficou com vontade de ir embora, nisso o corpo debilitado acordou. Seu sorriso era tão lindo, mesmo com os olhos inchados de sono. Beijo não dariam, bafo a relação fugaz não suportaria. A troca de olhares fora suficiente para consentir que aquele caminho podia não ser o melhor, mas era do tipo agradável. Ela não morreria, por hora até preferiria morrer a desistir dele, no entanto, sabia que logo poderia traçar outra direção.

Ana Kita



-> Auxílio sonoro da canção "Nunca se sabe", de Humberto Gessinger.

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