sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quanto ao leitor e à longa vida


Um leitor, incontáveis.
Por que como Machado tantos se referem a ti, leitor, como amigo? Pode não te ver, e provavelmente não saberá quem es, quem fostes. Contudo, o ingênuo (por ser romântico) escritor - de qualquer tempo - delicía-se com a ideia de que será lido. Ainda que sejam os bilhetes, para sempre guardados, mesmo estes serão lidos. Sob pouca luz, quando todos estiverem dormindo, o próprio que escreveu lerá com os olhos úmidos e o coração a disparar.
Como não te ter como amigo? Tu, só tu e ninguém mais, acompanhas-me nas altas madrugadas e durante todo o dia. Quando as aves noturnas caçam e as matutinas dormem o último cochilo, escrevo para ti. Pra ti que ao acordar ou antes de dormir me lerá. Sentirá em teu corpo as emoções que trago no meu. Quando torpor for: volte a me ler, num outro dia, sob outra luz. E espero que a emoção de meu ser volte a te percorrer.  
Minhas páginas voltes a ler, meus olhos voltes a ver, meus sorrisos voltes a ter. Meu amor voltes a ser.
Es tu, leitor, o fazedor da arte. Não es parte, es o todo. Como disse um escritor amigo meu, todo escrito é uma página em branco se não houver alguém a ler. Sou uma menina a escrever até que chegas com teus olhos prestativos e faz de mim poesia. É em ti, e só em ti, que meus sentimentos criam a vida. Estas letras uma vez unidas só fazem sentido quando tenho a ti. É de ti que elas ganham a luz que precisam para serem sentidas. São agora por mim, serão sempre que quiseres por ti. As palavras já não são minhas, pertecem a nós, leitores. Sou tanto quanto tu. Portanto tua. Do momento que me lê (ou lê comigo) até o momento em que me esqueces, por isso te peço: volte.

Ana Kita

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