sábado, 12 de junho de 2010

Quanto ao reflexo e às pinturas da vida

Quando outros olhos brilharem tanto quanto os meus saberei de fato que o reflexo existe. Sim, busco o reflexo. Tal reflexo não será tão certeiro quanto minha imagem no espelho, não será tão fantasiado quanto os olhos infantis frente a poça, tão pouco será tão subjetivo quanto o banheiro no vapor do vidro do box.
Tenho ouvido muitas canções que traduzem este reflexo, vejo muitas alianças atestando que dá frutos, admiro muitos casais nesses dias geladamente românticos para acreditar que um dia viverei. É provável que eu já o tenha vislumbrado, assim de longe, assim calada, assim sem certeza. Possivelmente já estive em sonhos como refletora. No fim, espero mais do que isso. Quero toda simetria. Enquanto não a tenho, sonho, aprendo, ensino. Compreendo que não seja fácil, digiro que o momento certo virá, e aguardo.
A reciprocidade de um sentimento é o mais belo quadro que a vida pode pintar. Enquanto não fico nele retratada, dou pinceladas de trocas de olhares e sorrisos. Não é isso, pois, a alegria de viver? Escreveu Cervantes: "Contento-me com pouco, mas desejo muito.". Devemos todos viver assim. Sonhar alto, desejar além, lutar, desbravar, imaginar... Sem lamentar com os insucessos, sem desmoronar com as desistências, sem se extinguir com as falhas. As cores da vida existem na sabedoria de comemorar o pouco que se tem, em agradecer as felicitações, admirar as vitórias alheias, aceitar a mão que nos reergue e prosseguir sorrindo.
A tristeza é finita, a felicidade plena e o tempo - relativo, mas - suficiente. Eu acredito! Eu vi em olhos escuros o mesmo brilho que sozinha previa pelo espelho, pela foto, pela tela. Eu sorri como refletora dos lábios que finalmente em minha frente estavam, embora nunca tivessem estado tão distantes. Eu deixei de notar as pessoas ao redor, porque todo movimento da vida passou a acontecer dentro de mim, nós.

Ana Kita

"Estou sentindo falta do reflexo do que sinto." (verão 2010)

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