
Não pude contar as horas, embora tenham passado, voado. Voava eu. Minhas pernas arrepiadas já não sentiam o apoio que tinham, tudo parecia nuvens. Pura liberdade. Tantas coisas a se pensar, tanta coisa eu sentia, tantas sensações que me pediam descrição - também discrição?. Fechava meus olhos, queria ver tudo. Sorria, mal conseguia parar de cantar. Não me sinto capaz de contar tudo que aconteceu, são coisas que só se sente, transformaram-me e já não posso lembra-las exatamente.

Sabia onde queria chegar, não me interessava como. O melhor esteve comigo em cada momento. Como as letras que lhe contam uma bonita história, como se preocupar com o ponto final? Precisava sentir e senti tudo que podia a cada instante. Ainda agora, se observo raios de sol, lembro-me daquele que se punha. Divino. Havia uma nuca logo ali, perto demais. Meus instintos eram incontroláveis, e eu nem sabia. Mãos geladas que apertavam tudo que se permitiam tocar. Cabelos com os quais já não me preocupava. Um desconforto nas costas que esquecia. Um cheiro que me chamava e eu comparecia. Tudo tão intenso, tudo tão marcante.
O fim chegaria, sempre chega. Mas, eu não o buscava. Minha mente flutuava, deixava meus pensamentos fluírem na corrente que quisessem, e eu me tornava apenas um corpo. Um corpo dominado ao sabor do movimento. A dor reaparecendo, novas sendo criadas. A velocidade diminuindo, corpos cansados. Minha mente que rodava, começava a escolher algumas ideias para ecoar. A mais forte delas talvez me dissesse algo como: Isso é bom demais! Dizia-me no ritmo de meus batimentos o quanto fora prazeroso, o quanto a sensação era única, e que eu devia repeti-la. Tentei repetir em breves tentativas, pouco sucesso.

Ana Kita
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