segunda-feira, 26 de julho de 2010

Carta ao pai 9: Dança e lembranças

Joinville, 26 de julho de 2010.

Pai,
comecei a fazer aula de dança de salão. Na verdade, ainda só tive uma aula, mas como meu amigo (é, assim mesmo, do jeito que as pessoas costumam pensar) e parceiro já fez um mês e pouco de aula anteriormente, passamos a treinar um pouco sozinhos. No começo a dificuldade foi imensa, sempre me sinto um tanto fora de ritmo e como bem sabe, pai, sou muito exigente comigo (pro meu azar ou sorte, ele é tanto ou mais consigo mesmo). Fizemos dois "ensaios" já, no primeiro tivemos muito trabalho e pouco resultado. Os dois estilos que tínhamos visto em aula até foram mais ou menos, forró e samba. Ele tentou me ensinar ainda soltinho e valsa, foi um tanto desastroso. Talvez eu exagere um pouco, na hora me diverti bastante, pra ser sincera.
Na valsa, pai, como sempre, pensei muito em você. Não posso dizer que me arrependo realmente de não ter tido valsa em meus quinze anos, mesmo sabendo o que aconteceria depois é bem possível que eu ficasse tentada a recusar novamente. Não seria da minha verdade querer valsa, nada ou pouco tinha haver com meu jeito. O que lamento é que você quisesse, é que tenha sentido falta. A valsa em seu casamento alenta meu coração, ter podido sanar um pouquinho dessa falta, embora na hora eu não quisesse (nem me sentisse apta). A verdade é que eu sempre imaginei aprender valsa, e só em meu casamento valsar com você. Hoje quando penso que isso não é mais possível algo se parte aqui dentro, por fora aprendi a ser forte. Para continuar achando o casamento a cerimônia de amor especial, que é, foco meus pensamentos na valsa dos noivos. Acho tão mágica a ideia de encontrar alguém a quem queira entrelaçar minha vida, um homem tão especial para mim quanto você, que eu escolha para valsar e para sempre amar. Não é isso, pois, o casamento?
Estranho falar isso com você, mesmo agora. Primeiro porque nem namorado eu tenho, quem dirá estou à procura de "pretendentes ao casamento". Precisei rir, coisa mais antiga de se dizer. É estranho em segundo lugar por você ter tido dois casamentos, méritos sentimentais prefiro não levantar. E em terceiro porque eu tive total vergonha quando minha mãe lhe contou que eu já tinha dado um selinho, eu tive vergonha e esconderia por tempo indeterminado que eu tinha um "relacionamentozinho" nos meus 13 anos, dessa vez por intermédio de meus tios você descobriu e ainda conversamos sobre. Enfim, eu sempre achava estranho compartilhar e preferia que não soubesse a ter conversa de "pai e filha" sobre "os meninos". Ainda hoje acho engraçado e estranho, sou tão aberta aos outros, mas pai parece ter aquele distanciamento um tanto idealizado, penso eu.
No último ensaio de dança de salão, fiquei bem satisfeita com o forró, pai. O samba ainda tem muito a ser arrumado, nada como o tempo, as aulas e bastante treino. Dançar é terapêutico e divertidíssimo para mim, mesmo quando me canso o sorriso não cansa de aparecer. Penso que seja isso o mais importante: fazer o que se gosta. Com quem se gosta? Aí entramos em outra temática, quem sabe mais pra frente lhe escrevo sobre. (Risos tímidos)

Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita,
Ana.

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