domingo, 16 de janeiro de 2011

Duas letras - Ana Kita

   O rock invadia todos os pensamentos, espaços, corpos, libertava todas as almas, corações e dúvidas. Um sorriso passou por mim, em seguida um par de olhos escuros e brilhantes. Inebriante. Sorri retribuindo, meus olhos também devem ter se iluminado, pois não demorou muito para o sorriso voltar, e os olhos perseguirem os meus. Aqueles olhos não chegavam a ser doces, mas não eram ousados ou invasores, tinham uma energia positiva e encantadora, algo como a magia de conquistar e a sinceridade em se mostrar conquistado. A partir dessa troca de olhares não mais pensei em dúvidas, ou em quem as trazia, não fiquei esperando que alguém chegasse, nem lembrei que quando a música terminasse os problemas voltariam. Eram as luzes que me guiavam, e eu dançava sorrindo, como se adivinhasse que a noite só traria bençãos. 
   Foi uma garota que eu nem tinha visto quem me trouxe um guardanapo, ou por assim dizer, uma carta. Eu não tinha dúvida de quem a havia mandado, outros olhos não teriam sido tão certeiros. Surpresa e envergonhada ri com aquelas duas letras bem escritas no frágil papel. Um ponto de exclamação sem tratamentos ou vacilos me soou agradável, mas o porquê de tanto medo eu não entendia. Ele sorria e eu retribuía, custava se aproximar? Havia escrito, mas não entregou. Além do brilho atraente dos olhos recebeu uma força que desconhecia, o incentivo de quem ainda haveria de conhecer. Levantei. 
   Eu queria lhe falar ainda que achasse absurdo eu precisar me aproximar. Não tinha nada a ver com a hipocrisia de que o homem é quem precisa tomar iniciativa, tratava-se de que não podia me conformar com uma iniciativa tão sutil. Tomei coragem quando ele ficou sozinho, andei alguns passos olhando em seus olhos. Engraçado como a distância é relativa quando se está tremendo. Por fim não foi tão difícil, conseguimos desenvolver conversa com naturalidade. Coisas em comum choveram na conversa, o brilho dos olhos se intensificou e o sorriso, assim de perto, parecia não só uma lua crescente, mas a beleza completa da lua cheia. Evidente também ficou a vergonha, por sorte a sinceridade predominou. 




   O pedido de confiança de Paul McCartney à amada serviu de plano de fundo ao primeiro beijo. Os olhos se fecharam, mas a sensação de a luz continuar sendo emanada permaneceu. Era o começo do que ainda estava por vir. A confirmação de que aquele era  um encontro mais que adorável viria na tarde de seguinte, entre risos, elogios e afinidades. Não me foi possível imaginar o que viria, nem a poesia que havia naquela história. Contudo, eu que já escrevi textos em guardanapos me encantei com duas letras.


Ana Kita

2 comentários:

  1. Eu quase chorei...simplesmente me encantei!

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  2. Oin, obrigada, maninha! *-*
    Adorei seu olhar por aqui!

    Beijos, beijos!
    Ana

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