quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A praia - Ana Kita

   Andei. Andei por horas, como o mar que não desiste da areia, eu queria encontrar uma resposta. Ainda agora, com a respiração ofegante e a testa molhada, não sei que pergunta quero desvendar. Fecho os olhos e com os cabelos ao vento procuro tirar esse peso de meus ombros. Poder voltar para casa leve, sem o estômago se corroendo de dúvida. Queria ter a mente suave como o sorriso da garotinha que acaba de ganhar colo do pai. A paisagem é tão encantadora, também minhas memórias são assim, infinitamente prazerosas. Contudo, como um ecologista que curte a praia pensando que seus netos talvez não desfrutem de tanta pureza, fico agonizando ao pensar como se dará meu futuro.
   Tenho guardado tantos dias ensolarados, tantas noites enluaradas, e tempos juntos que congelaram as horas... Em vão se amanhã não existir!? O pior é que cada hora que o relógio marca sinto nosso tempo acabando, como o sol que vai se pondo e nada pode impedir. Em nossos encontros ganhamos bônus de esperança e de tempo. Já no meio da outra noite, ou na manhã seguinte, quando me vejo novamente só, não tenho a que(m) recorrer. E chove.
   Chego em casa cansada, vontade de dormir e esquecer. Mas, há uma família, o almoço na mesa e todas aquelas cerimônias de casa cheia. É no fim da tarde, com o sol se pondo que volto a pensar. Na tranquilidade do anoitecer volto à praia e o murmúrio das ondas me pede calma. A vida é agora, eu sei, a imensidão do mar também. Mas, as memórias servem não só para nos cobrar a vida, mas para nos ensinar a prosseguir, a acreditar, a sonhar. A brisa noturna me confessa que ainda tenho muito a viver e a sorrir.


Ana Kita
(Itajuba, janeiro de 2011)

2 comentários:

  1. É. Por maior que seja nossa vontade de ficar num mundinho só pra gente, temos que conviver com os outros, haha.
    Abraço!

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  2. hehe Ainda bem, não!? Acho que é graças a parte dessas pessoas que temos ânimo de continuar, muitas vezes. Embora nem sempre entendamos, eles têm papeis importantes.
    Obrigada, Philipe.

    Abraço!
    Ana

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