domingo, 16 de janeiro de 2011

Telefonema - Ana Kita

   Será que eu atendo? - perguntei em voz alta, e na casa vazia, a pergunta ficou ecoando quase sinfônica aquele horroroso toque que tem o telefone.
   Será ele? Ele não pode mais me ligar. Ele não me ligaria a essa hora. Ele não pediu meu telefone. Ele não liga sem motivo. Que motivo teria? Se fosse ele alguma coisa me alertaria, não sei o que, mas sei que saberia. Queria que fosse ele, mas não é. Melhor nem atender é sempre frustrante ouvir aquela voz "mecanizada" perguntando por um nome que na maioria das vezes nem seria encontrado deste lado da linha telefônica e que sem dúvida não tem o menor interesse em abrir conta nesse banco, aproveitar essa vantagem, assinar essa revista e votar nesse candidato.
   Minha avó ficaria decepcionada de me ver rejeitar com tanta frequência o telefone, justamente eu que sempre fui a atendente oficial da família. Se as ligações não costumassem ser tão inúteis talvez tivesse mantido aquela alegria infantil de correr para atender. Telemarketing e enganos tiraram minha ingenuidade e euforia em atender telefones. Os toques chatos de telefones fixos também não ajudaram muito. Eu sempre tenho vontade de dizer às pessoas que se elas querem ser atendidas por mim devem ligar para meu celular, só não ouvindo para eu não atender. Sou curiosa para saber a intenção de amigos me ligando e sempre acho instigante chamadas de números privados ou desconhecidos. Contudo, não digo, por algo como respeito ou  medo de ser julgada louca, estranha.
   Cheguei a levantar, até me aproximei do telefone. Mas, cadê a vontade de atender? Não devia ser pra mim. Se for importante voltam a ligar.

Ana Kita

2 comentários:

  1. MARAVILHA... já sei por que não atendo o telefone lá de casa, além claro de uma dose de sentimentos não descritos no texto. Te amooo

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  2. hehehe Ninguém melhor que você para entender! Também te amo, mami!

    Beijos, beijos!
    Ana

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