quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quanto aos sentimentos antigos e a olhares nem tão distantes

Textos não servem para serem entendidos. Textos são sentimentos.
Quem escreve - quando sou eu - não escreve pelos outros, escreve por necessidade, por amor à sua verdade. Este fugindo à regra - regras existem para terem exceções e serem corrompidas -, é escrito para alguém. Não deixa de ser necessidade de quem escreve.

Ao redor, no meio, dentro... Em todo lugar alguma canção. Canções de que falamos, que sentíamos e nem podia lembrar. Eu sonhava com outros projetos, novos sonhos. É sempre ruptura, minha vida repleta delas. E eu esquecendo que fui pensando. Minha mente livre de qualquer presença, da sensação de aproximação. No fim, um só segundo desatenta e, o encontro.
Era o frio, era sim o frio que gelava minha mão. Era o frio que aproximava dois, quatro corpos, e afastava uns dos outros, seu do meu. Um olhar frio questionando, um sorriso de foto confirmando. Dois sorrisos amigáveis. Cheios de lembranças? Penso que querendo anulá-las. Como um ciclo do anular, que eu desconheço. Meus olhos percorrendo a multidão, observando sua mão, implorando aquecimento da minha. Tive vergonha. Vergonha de tentar esquecer, vergonha pra não me aproximar, vergonha de me manter calada. Quis fugir e não podia, não eram os corpos ao redor, eram as marcas dentro.
Voltei ao meu mundo de canção, de ilusão e, pensava eu, de amor. Quase esquecia, mas não queria esquecer. Um olhar, o primeiro. O único? O sorriso não era de foto, não podia ser registrado, é aquilo que se sente. Desconhece palavras para descrever. A canção se concretizara, mas meus olhos permaneceram secos, meus braços congelados, meus lábios (...). Depois de tanto tempo não podia acabar assim, passos que me guiaram sem que eu percebesse. Mais um olhar, mais um sorriso. Agora uma fala, uma piada minha qualquer, rouca. Outra piada qualquer, risadas. Meu olhar seguindo os outros, assistindo ao passado, questionando o presente e esquecendo que existe futuro. Eu diria: diferente, diferente do que eu imaginava. E caio na real, não imaginei, mas continuava diferente. Malditas impressões de fotos. Falei besteiras, eu sei. Foi necessidade também, como alguém que não fuma e deseja um cigarro.
Andei, andaram, andamos. Afastamo-nos ainda mais? Eu pensei que sim. Imaginei não podendo mais falar, precisando me calar e dessa vez, sim, dessa vez partindo pro fim. Mas, eu ri. E rio agora. Que corrente boba esta minha de ter pretensão, de supor e de me surpreender com os outros. Surpreendi-me com o sorriso de outra menina. Sim, uma menina. Uma menina que eu supunha mulher, de quem tive raiva e também inveja. Não são só palavras ao vento, uma menina que apreciei a companhia. Talvez eu quisesse estar ali, ser ela, estar no lugar dela. Mas, eu sorria. Alegrava-me por estar do lado de cá da vida e admirar o outro lado.
Eu estive errada, por bastante tempo. Disse o que não devia, julguei errado, fantasiei em hora imprópria. Eu assumo. E não sofro. Eu acredito no perdão, no movimento da renovação. Meu lado sonhadora pensava lá num fim e sentia um começo. Hoje vejo que o fim era outro (era o começo que eu sentia), e até penso que aquele fim possa ser um novo começo. Confusa, eu sei. É isso que dá permitir ao vento frio nos afastar. Queria não pensar nada, viver mais uma, duas vezes. Não fazer planos, não prever danos... Ver pra onde vamos. E digo que não. Querer também é um plano, e por hoje, por hoje deles me livro.
Penso que tal confusão possa ser reflexo de muitas outras. Temo que seja eu apenas reflexão. Mas, não era disso que falávamos? Bom, eu sou só a menina-mulher em frente ao espelho, que mal se vê por olhos úmidos. Não conheço o vidro, embora o tenha visto. Desconheço o sentimento reflexivo. É como se eu tivesse emitindo ao infinito, não sei se atinge alguém, mas emito. E se recebo alguma coisa, parece sempre tão difuso, tão confuso... Tão reflexo do que digo, que sinto medo. Medo de que a distância seja perda de tempo, do que o destino (já tão desacreditado por tantos do meu tempo) nos reserve e não possamos fugir. Medo que me faz sorrir, agora, aqui, a concluir um texto sobre algo que mal descrevi. Um dia lhe explico. Um dia me dedico a escrever sem tanto envolvimento. Depende sempre do que é refletido, ou como.

Ana Kita

-> Acho que estou pronta para ser publicada num jornal (risos calados), afinal consegui escrever "a pedido". Foi um prazer, incrivelmente. Peço desculpa por alguma, qualquer ou todas possíveis falhas de compreensão.

2 comentários:

  1. Ana, tô adorando conhecê-la. Eu me identifiquei com a forma escrita, com a sutileza da palavra, com as pausas até.

    Um abraço,
    Priscilalopes.com

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  2. Obrigada, Priscila!
    Volte sempre que quiser. ;)

    Ana

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