quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quanto à ausência de cores e às palavras que tudo sentem

As palavras podem chorar por mim?
Pergunto-me. Respondo escrevendo minha dor. Olhos ardidos sem que o grafite na folha tenha causado. Talvez o cigarro que a pouco era queimado. Talvez não. Uma lembrança cruel, uma canção cortante, o frio... A ausência egoísta, o luar amarelo-cintilante, uma gripe invernal.
Se as estrelas me falassem qualquer poesia bonita que tirasse minha melancolia. Se a brisa noturna trouxesse qualquer abraço reconfortante. Se a canção acordasse a tal esperança de ser para sempre feliz.
Ah, maldito condicional, na vida é o que é. Sinto e vivo, ou não. E não mais o sinto em minha vida, em meus dias, quase foge dos meus sonhos. Sem amor sou uma folha em branco, um tronco apreendido pela polícia, uma semente sobre o asfalto. Uma gota de mar num pote vedado, uma fotografia do céu escuro, um aroma de flor morta.
"Volte a ser o meu ar..." peço-lhe com a música que toca num rádio de outro apartamento.

Ana Kita

2 comentários:

  1. "Sem amor sou uma folha em branco".

    isso me fez pensar no amor como um leitor. ou no leitor como um amor. o leitor é aquele que dá vida à folha em branco, se a pensarmos em branco mesmo quando escrita por um autor, uma vez que o texto só existe quando lido, não?

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  2. Lindo isso!
    É por estar e outras que publico textos que nem mesmo eu acho tão bons, sempre corro o risco de um poeta enchergar minha "nota em ló" na escrita. hehe

    Obrigada, Ítalo!

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