segunda-feira, 21 de junho de 2010

Textofonia 15: Tentei, tentei e não cabe apenas a mim

   Só amigos, qualquer um diria. Todos tinham razão, fomos amigos, bons amigos. Digo fomos porque o sentimento cresceu. Dominou-me. Pedi e ainda peço desculpas se tive culpa nesta transformação, mas só me dei conta quando a plantinha já era árvore e a sombra um prazer imenso a mim. Eu via em suas palavras, imaginava a mesma alegria em seu olhar.
   Estivemos juntos dividindo barras pesadas que não revelamos. Eu sofria longe e quando o tinha por perto tudo passava. Pra que falar da dor de ontem? Penso que fazia o mesmo. Chegava a compartilhar que estava sofrendo, mas o silêncio o dominava e logo confessava que ao meu lado se sentia bem. Ficávamos os dois, conversando horas a fio, naquela paz merecida dos que sabem amar. Minha mãe não entendia, tampouco poderia outrem crer. Era algo só nosso e só nós para viver. Ambos nos espantávamos, como qualquer um, mas a plenitude é sentida e não questionada.
   Duvidosos do que sentíamos acabamos por verbalizar sentimentos mais românticos do que a bela amizade que vivíamos. Assustamo-nos. Um ao outro, cada um a si próprio. Devíamos fugir? Desmentir? Calar-nos? Já não podíamos deixar de ouvir os batimentos rítmicos que nos envolviam. Éramos embalados na mesma melodia. Insaciáveis queríamos mais e mais um ao outro. Queríamos? Fiquei cega. Não é assim sempre no amor? Eu já não discernia o certo do errado. O sonho do real. Eu queria ser ética, continuar a mesma amiga, ser compreensiva e não exigir nada. Mas, não pude. Tentei usar de minhas armas, arrisquei, sofri. Por fim pareceu dar certo. Embalado de sofrimento, vi um amor intenso como desejei. Mas, não valia a pena. Não é só atrair, é preciso conquistar, ter certeza deste imenso amor recíproco.
   Despedimo-nos. Sem abraços, contudo havia lágrimas escondidas. Tentei ser forte, deixar que partisse como um pássaro que aprende a voar e esquece do ninho. Tentei ser amiga e sorrir por sua alegria, como a mãe que dá benção ao novo lar do filho. Sou ainda uma menina, uma menina que duvida, mas que sente algo intenso, bem guardado para não feri-lo. É da minha natureza chorar sozinha, escrever uma palavra bonita para que se sinta amado e compreendido. Eu é que não me entendo. Não sei se devia continuar como amiga, esquecer o que sinto e viver suas alegrias. Não consigo me ver lutando para que me ame, não sei como se conquista, talvez se eu soubesse não me deixaria conquistar. Na falta de decisão, opto por nada fazer, ficar invisível, escondida nas sombras das luzes que gerávamos. Tudo que penso, quase com firmeza, é que o destino sempre percorre lindos caminhos. As curvas costumam me assustar, parece que estamos sempre numa motocicleta e a qualquer momento ela pode virar. Hora ou outra descobrimos que ao fechar os olhos, sentir o vento, aprendemos a voar.

Ana Kita

-> Contribuições da canção "Sei não" de Engenheiros do Hawaii.

3 comentários:

  1. Esse mesmo mundo que nos une pelas palavras, ora nos limita pela percepção não inteira das coisas...

    O que dizer? Será motivo de consolo? De incentivo pra ir além? Como saber?

    Assim, melhor te deixar com os sentimentos de "lucidez" e "sensatez". Que os atos sejam reflexo da sensibilidade que você, de certo tem.

    Do que dizes não saber, acho que sabes muito:

    "não sei como se conquista, talvez se eu soubesse não me deixaria conquistar."

    É o nosso inevitável instinto de defesa, que nos conduz à necessidade de não sofrer, fechando as nossas portas. Mas elas não se lacram. O prazer do vôo acaba sendo muito maior - sempre - que o risco da queda.

    O que li aqui do ladinho me basta:
    "Desafios, diversos.
    Contudo, extrema força de vontade. Até mesmo para sorrir."

    Isso coloca (quase) tudo no seu devido lugar...

    Beijo, Aninha!

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  2. As curvas são assustadoras, essa é uma grande verdade. Mas é lá que mora a graça da vida tbém. vai entender!

    uma coisa, vc escreve hein? quando voltei aqui (li a resposta lá ^^) me assustei: será que to no blog certo? aí que fui ver que era o mesmo, e que os 3 últimos textos eram recentes, e já tinham coberto a tempos o último que eu lera. ultimamente, nos meus blogs, as postagens tem sido semanais...quinzenais....quase mensais. mt pouco tempo xP


    té :)

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  3. Respondendo em ordem inversa:
    Eduardo, obrigada pelos comentários frequentes. E tenho escrito muito muito mesmo. Não é sempre comum! haha Este blog mesmo esteve abandonado por muito tempo. Mas, realmente estou numa fase cheia de ideias e de vontade de verbalizá-las, melhor aproveitar.
    Até!

    Moni, lindo comentário! Penso assim mesmo quanto às palavras. Se escrevo tanto (como o Eduardo notou) é porque nelas me sinto livre para expressar ora o que sinto ora o que desconheço. E ninguém pode considerar confissão, tenho o poder do eu lírico em minhas mãos, todas figuras de linguagem e um grande tanto de subjetivismo.
    Quanto ao "instinto de defesa" é bem real mesmo, mas especialmente em mim jamais fecha-se por completo. E a vontade de sonhar onde ficaria?
    Pra concluir agradeço (não só o comentário, mas também) a observação da barra lateral, esta é mesmo minha fase atual. Colocando tudo, ou quase tudo, em seu devido lugar. Cheio de reticência, futuro. hehe
    Beijo!

    Ana

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