Joinville, 06 de julho de 2010.
Pai,
tenho estado tanto no chão. Quase que o tempo todo. E por isso lhe escrevo, para tentar imaginar, pra tentar flutuar um tantinho que seja. Não sei se é mal do meu tempo, se são meus olhos, mas as pessoas deixaram de sorrir, pai. Andam sempre desconfiadas, chateadas ou irritadas. Penso que elas esqueceram a beleza da vida. Não sentem mais a energia da música ou a inocência das crianças, não apreciam a lua ou o orvalho, não confiam em seus sonhos nem experimentam o novo.
Confesso que tenho medo, pai. Mesmo que eu tente me preservar, elas estão ao meu redor, "nenhum homem é uma ilha". Como sobreviver? Como continuar com o sorriso no rosto, a pureza nos sonhos, a confiança no olhar? Como saltitar pelas ruas, distribuir "bom dia", brincar com as crianças ou ajudar os senis? Ah, pai, eu busco poesia na vida. Posso escrever e escrever, mas senão houver dentro do coração dos leitores tamanha literariedade não fará sentido algum. É difícil, pai. Estou numa fase de fraqueza, mas não desistirei. Não se preocupe! Vejo nos olhos do nosso pequeno, vejo na paixão do nosso já tão grande, e em meu próprio reflexo. Há sempre uma esperança, enquanto houver amor.
Escrevo-lhe mais, logo mais.
De todo coração,
sua primogênita, Ana.
Mas como ser forte, ser pedra sem perder coração? E como ser fraca o suficiente?
ResponderExcluirEis as questões desse "mundo marginal".
ResponderExcluirObrigada pela presença, Priscila!
Beijos!
Ana