quinta-feira, 8 de julho de 2010

Carta ao pai 7: Ausência e saudade

Joinville, 8 de julho de 2010.

Pai,
hoje faz um ano. Eu juro que eu não queria lhe escrever, não queria despertar lágrimas em ninguém, tampouco em mim. Mas, ontem eu ouvi o Humberto Gessinger falar e ele insistia na ideia de que todo artista deve expressar sua verdade, disse até que é uma forma de respeito com o seu público ignorá-lo, no sentido de não fazer sua arte pensando em como ou no que as pessoas querem. Acho que eu concordei, por exemplo adoro as canções, álbuns e o livro dele sobre a trajetora musical justamente por serem a verdade dele, não um jogo de marketing ou a resposta a pedido de fãs. Enfim, veio a vontade de lhe escrever e não a contive. Nem penso que deveria.
   Eu não achei que eu fosse esquecer, nem que o sol fosse brilhar mais forte hoje. Ainda por cima é quinta-feira, o dia que menos gosto na semana. Mas, está sendo mais duro do que eu imaginava. Recebi uma mensagem logo de manhã. Coincidência ser novamente de manhã? Dessa vez ao menos eu já sabia o que me diriam. Falava de uma missa, a qual não poderei ir: tenho aula. Se quando eu podia estar ao seu lado o máximo possível eu deixei tantas vezes de estar por querer estudar, agora não seria diferente, ainda mais se tratando apenas de costume de famílias católicas. Não posso dizer que estou tão ou mais triste do que ano passado e acho muito bom e normal. Eu queria até não chorar, mas meus olhos permanecem úmidos.
   Talvez algumas pessoas me julguem forte, pai. Algumas possivelmente me considerarão insensível por levar minha rotina acadêmica mesmo no dia de hoje. Lamento dizer que o que elas pensam ou falam só diz respeito a elas. A maior falta já tem mais de um ano e não há nada que se possa fazer. Eu me agarro às boas lembranças e crio forças. Se lamento não ir à tal missa é só pelo apoio que eu poderia proporcionar a família. E aí vem outro problema, é no meio de tanta gente, é ouvindo palavras de consolo que parecem mais palavras para marcar dor, que fico mais triste. Se eu me "recuperei" tão bem dessa perda, a olhos distantes, foi por acreditar no motivo (oculto) das coisas ruins acontecerem. Em acreditar na aprendizagem pela dor, em acreditar que as pessoas tem suas missões na vida e quando elas terminam está na hora de partir e até mesmo em acreditar que todo fim é um começo. Embora nada disso anule minha dor e o buraco que a ausência de suas mãos quentes, seus olhos castanhos e seu sorriso tímido me deixaram, fazem com que eu viva minha vida intensamente e busque motivos no passado, no presente e nos sonhos para muito sorrir.
   Desculpe-me por esta carta num tom tão triste, cheio de saudade e lamentos. Eu o amo muito e assim como sei que sempre quis e quer meu bem, também quero o seu, eternamente.

Escrevo-lhe mais, assim que os sorrisos voltarem.
De todo coração,
sua primogênita,
Ana.

2 comentários:

  1. Oi Amada,
    Eu concordo q certos rituais não são importantes, o q vale mais, são os sentimentos...Se tbm sou forte, não sei, mas tbm concordo com q tu disse sobre o fim de uma missão, etc...mas eu acho, q perder alguém assim tão amado, endurece...as vezes ficar longe ajuda, pelo menos eu posso sentir a minha dor sozinha, gostaria de poder continuar longe, mas não dá tem outras pessoas q eu preciso ver, mas dói e faz lembrar...
    Bjs
    Tia Nani

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  2. Obrigada pelo testemunho, tia!
    Cada um com sua forma de sentir e todos sentindo muito.

    Beijos!
    Ana

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