terça-feira, 4 de maio de 2010

Carta a ele 1: Palavras que unem nossas mãos

Joinville, 4 de maio de 2010.

Quem sabe esteja eu apenas num dia de nostalgia, aquela velha mania de sala de aula de escrever uma carta. Data completa, destinatário como vocativo - esta parte eu pulei, talvez não haja alguém -, um texto cheio de pessoalidade e algum objetivo!?, uma despedida, uma assinatura. Algo mais? Veremos, ou não.
Qualquer um que me conhece sabe o quanto sou inconstante, extremamente "caxias" e, a seguir, tudo em desordem. Esta carta é assim, mais orgânica que estruturada, mais emoção que objetivada na razão. Pare de ler se me achar incoerente, melhor que o faça. Neste instante faço uma pausa e entendo. Entendo a magia de que minha mãe me dizia quanto às cartas. Adoro a digitação e esse vasto mundo virtual, mas algo me falta. Talvez seja meu conhecimento débil que me engana, porém agora, senti falta de lhe mostrar o que sinto com a expressão da grafia... Quem sabe um ponto no "i" com mais tinta, um coração ao errar o lugar de um acento, a palavra "coração" escrita trêmula.
Queria que nossas mãos distantes pudessem se encontrar numa folha de papel. Meu toque afetuoso, meu perfume doce, poderiam em fim aproximar-se de suas mãos quentes, de seu quarto iluminado... Até o dia da frigidez de uma lixeira. Não julgue-me como cruel, embora eu concorde com Belchior, "sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém", não é exatamente esta a minha intenção. Eu só digo o que sinto ou prevejo. Nesses casos sabemos que o fim é inevitável, e só peço que os sentimentos ruins sejam apaziguados.
Estou feliz hoje, ainda que os raios de sol não me banhem. Ontem não foi um dia fácil, e incrivelmente foi um dia bom. A serenidade do meu coração não pertence às coisas difíceis, e sim, à capacidade de lidar com elas. Acredito que as maiores dádivas acontecem nas formas simples de felicidade sincera - o nascer do sol, um beijo, o desabrochar de uma flor, a gota do orvalho nos primeiros raios da manhã, o arrepio, a brisa noturna, o toque das mãos - e nem por isso, deixo de pensar que eu posso encontrar razões a sorrir mesmo em nossos desentendimentos.
Escreva-me tão logo queira!

Com todo meu carinho, sua Ana.


-> Este é mais um novo projeto para o blog. "Carta a ele" será mais uma forma de expressar o que sinto, ainda mais pessoal que outros textos, e quem sabe tão literário quanto os demais.

2 comentários:

  1. Oi, Aninha!
    Cheguei aqui por indicação do Ítalo e acho que esse projeto de vcs será bárbaro!
    Gostei muito da liberdade com a qual você escreve, a intimidade com as palavras e com os sentimentos que as compõem.
    Sim, as cartas têm o calor que o virtual jamais terá, por melhor que seja. Até a força do traço pode ser lida e isso encanta!

    Boa sorte e tô te seguindo pra ver como caminham as coisas por aqui!

    Beijos!

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  2. Olá, Moni!
    Seja muito bem vinda!
    Agradeço muitíssimo os elogios!

    Beijos,
    Ana.

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