domingo, 9 de maio de 2010

Quanto ao calor e às palavras numa madrugada - Ana Kita

Numa madrugada qualquer como esta ou aquela, um aspirante a poeta dispensa a bebida e a fumaça, não usa a banheira, nem se deixa corromper por uma canção bonita. Ignora que esteja só e recebe companhia. Não está sob a luz da vela e não perde a inspiração. Não conhece o toque da pena, embora escreva com a leveza romântica de outrora. Não se agasalha, contudo tem vivido um outono frio.
Em poucas palavras, algumas linhas que não rabisca, aquece toda a sala. Falta-lhe um abraço, não lhe falta amor. Não consulta um dicionário, cede aos mais belos termos de que se recorda. Olvida as formas, as rimas e todas as regras clássicas, liberta seu sentimento e permite a seus dedos unir letras num só emaranhado sublime.
Suspira.
Não há delírio, orgia, morbidez. Não exige significado, certeza, retribuição. Não possui reconhecimento, dinheiro ou beleza para ir a público. É puro amor que sente. Rende-se à poesia agora e sempre. Está só e só consegue escrever. Verbaliza o que suas veias ora sussurram, ora gritam. Não compartilha, cala-se.

-> Mais um projeto, talvez. "Quanto a".

2 comentários:

  1. eu me amarro nas imagens postadas aqui!

    :)

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  2. hahaha
    Obrigada, Ítalo!
    Esta preciso considerar a mais genial em termos de completar a ideia das palavras. :D

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