sexta-feira, 7 de maio de 2010

Textofonia 4: Correntes ao acaso

"Não peça perdão, a culpa não é sua. Estamos no mesmo barco, e ele ainda flutua." Humberto Gessinger
Queria dizer tanta coisa e não sei como, e nem sei a quem, e nem penso que adiantaria, e nem acredito que alguém ouviria. Deixo correntes ao acaso me levarem, temo.
Às vezes penso que as pessoas são como eu, e por isso podem me entender. Chego a pensar que sentem o mesmo. Sei que é um equívoco, ingenuidade.
Quando dou por mim já tenho um sentimento, uma nova ilusão, tanta motivação, tanta esperança. Demora, algumas vezes mais, outras nem tanto. Logo descubro que as pessoas costumam ser muito diferentes de mim. Percebo que não sabem o que sinto, não entendem o que digo... Duvido que sintam o mesmo que eu. Ainda assim, continuam juntas a mim. Talvez seja um teste do destino, um duro exercício de aprendizagem, ou - como é comum me passar na cabeça - elas também sintam e tenham tantas dúvidas quanto eu.
Se existe uma grande diferença entre os outros e eu é essa minha necessidade de procurar palavras para codificar o que sinto. Um dom, talvez. Um castigo, quem sabe. Há quem ache uma recompensa, ao acaso. A realidade é que "julgamos" os outros por nós. Querendo ou não procuramos os mesmos sentimentos e atitudes. E quando me vejo sozinha, sem ninguém que queira ou possa codificar o que sente e o diga a mim (quem dera sentisse por mim), começo a me perder. A falta de palavras são como correntes que me prendem... me levam... extinguem.
Quando leio uma palavra que reflita o que sinto apego-me a ela desta tal forma desastrosa. É provável que seja este meu maior defeito. Fico cega ao contexto, ao autor e suas características além da palavra. Que culpa eu tenho? Minha melhor chance de melhorar é conhecer minhas falhas. Neste momento, transformo meu conhecimento em algo palpável e resistente (esta é a razão de escrever tanto do que sinto) quem sabe assim - talvez só assim - esteja eu mais perto de consertá-las. No mínimo aprendo a lidar com elas.
Peço perdão. Peço perdão por todos os momentos em que falhei, pelos momentos que fiz alguém se sentir falho. Perdão pelos momentos em que não consegui ser luz, pelos caminhos cruéis que passei, por alguém que por ventura levei comigo. Peço perdão em especial por tentar ser sua amiga e nem sempre conseguir. Se continuamos no mesmo barco e se ele continuar a navegar: ajude-me. O sol não tem me banhado, mas a lua sempre aparece. Dê-me mais uma chance, ou quantas puder me dar.
Não prometo acertar sempre, nem poderia. Não prometo que não terei medo de falhar ou de seguir a tudo que me guiar. Tudo que posso garantir é que estou disposta a tentar. Estou pedindo (talvez um tanto calada) sua ajuda, ensine-me e verá meu esforço para aprender. Mostre-me seu caminho, sinto que posso segui-lo. - Talvez meu coração já esteja contigo.

Ana Kita

-> A partir da canção "Mapas ao acaso" - Engenheiros do Hawaii. Citação do início pertence a mesma.

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