sábado, 8 de maio de 2010

Carta a ele 3: Se puder ver o que vejo

Joinville, 8 de maio de 2010.

A você (ou não),

Tenho tanto a lhe dizer, nada posso ou quero. Não tenho novidades, motivação comum às cartas. Não sei como definir os sentimentos que me faz sentir, importante as mesmas. Tampouco sei se me lerá.
Meus olhos brilham quando posso lhe ver, ou algo que lhe represente (como suas palavras constantemente firmes). Em dias como hoje, o fenômeno mais nebuloso não envolve o céu. A maior escuridão existe na falta de contato. Quando não tenho notícias suas, não posso sentir seu carinho ou sua revolta, tudo a que posso me agarrar são lembranças... E lembranças me doem. Dói não fazer novas histórias com apenas nós dois como personagens. Dói não saber se você recorda nossos bons momentos, se é que não os olvidou. Dói imaginar que deve estar fazendo história, que tenha outra personagem.
Passo meu sábado, em casa, lendo, ouvindo, assistindo, imaginando... Entre tantos pensamentos, só penso em você. Uma reportagem no jornal, uma expressão numa conversa, uma canção de nossa banda favorita... Tudo me faz lembrar você. Preciso estudar, mas sobre o livro já conversamos. É só tocá-lo para esquecer tudo que preciso aprender. Só preciso de você. Penso em comer alguma coisa, lembro-me de outra conversa que tivemos e acabo presa em frente ao computador. Tudo que desejo é estar com você. Canto assistindo a um DVD, mas já não ouço minha voz. Em minha mente continua a repetir uma frase sua que li. Um elogio, meu rosto enrubescido.
Não me conte de seu sábado se eu não for gostar. Aguardo ansiosa nosso próximo contato. Desejo que seja mais uma demonstração do quanto é bonito o que nos aproxima, mas, se for apenas mais uma discussão, aguardo a reconciliação. Sei que não é fácil lidar comigo, minhas palavras podem soar planejadas, mas não faço cena. Reconheço minha teimosia e minha interpretação detalhista (algumas vezes equivocada) do que me diz. Só queria que você também visse e soubesse que eu vejo isso que nos une. Sinto como algo tão vivo quanto meus dedos pressionando o teclado... Sei que não costuma acreditar no que não pode ser visto. Penso que isto você pode ver.
Escreva-me tão logo queira.

Com todo meu carinho, sua Ana.

"Quiero que sepas
una cosa.

Tú sabes cómo es esto:
si miro
la luna de cristal, la rama roja
del lento otoño en mi ventana,
si toco
junto al fuego
la impalpable ceniza
o el arrugado cuerpo de la leña,
todo me lleva a ti,
como si todo lo que existe,
aromas, luz, metales,
fueran pequeños barcos que navegan
hacia las islas tuyas que me aguardan."
[Pablo Neruda]


-> Continuação do projeto "Carta a ele". Dessa vez agraciado com um trecho do poema "Se tú me olvidas" de Pablo Neruda.

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