quinta-feira, 6 de maio de 2010

Textofonia 3: Entender não é preciso

Ele não entende. E por mais que eu tente, eu não consigo entender a sua dificuldade. Tudo isso está me enlouquecendo.
Quando eu acordo, lavo meu rosto e de repente me pego falando sozinha: "Não está em meus olhos? Neste sorriso constante? No brilho da minha pele?" À noite, quase não durmo pensando. No banho estou cantando. Quando tenho a manhã livre admiro as crianças brincando no parquinho. Queria encontrar numa cena de filme, ou na ingenuidade infantil qualquer maneira de fazê-lo entender.
Estava ouvindo o rádio antes de ir encontrá-lo, tinha decidido usar uma música da sua banda preferida. Nos encontramos na praça, quase não tinha sol, e então eu percebi. Não tinha mais importância se ele entendia ou não.
Meu coração acelera toda vez que eu o vejo, minhas mãos não sabem o que fazer, minhas palavras saem bobas, meus olhos brilham, mordo meus lábios. Eu vejo seu rosto iluminado, desejo suas mãos, suas palavras, seu olhar, seus lábios, seu coração... Não importa mais nada quando estou com ele. Eu o amo. Se ele não puder sentir, entender, retribuir... Não fará diferença. Creio que ele entende, embora não saiba. Sinto que seu coração acelera harmônico ao meu. Suas mãos ficam quentes, e volta e meia tentam me tocar. Quando nossos olhares se encontram ele costuma sorrir, algumas vezes fica rubro. Já conseguimos nos entender mesmo sem palavras, só é preciso um olhar ou um gesto e sabemos o que outro deseja. Continuamos discutindo, e não acho ruim. Parece que ele também gosta. Opiniões que divergem junto a corações que se unem.
Sinto que ele começa a entender toda vez que entra em meus olhos. Mais que isso, percebo que confessa sentir.

Ana Kita

-> Auxílio sonoro da canção "Pra entender" - Engenheiros do Hawaii.

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