domingo, 16 de maio de 2010

Carta a ele 5: Por sua (in)decisão

Aqui, hoje.

A alguém (melhor se não for a ninguém),

Escreva-me tão logo queira. Escreva-me tão logo sinta o mesmo, ou possa entender meus sentimentos.
Hoje sinto como se minhas acelerações cardíacas fossem, exclusivamente, causadas pelas angústias torturadoras de minhas esperanças. Ora sorrisos, ora lágrimas. Perco a noção do tempo. Vejo o dia em que nossos passos nos levaram ao mesmo cruzamento e seguiram direções opostas. Parece ontem. Já passaram luas demais? Continuamos na mesma estrada, com um abismo entre nossos corpos. Mentes unidas? Talvez afeto, talvez atração, talvez admiração... Nada disso será suficiente se não houver um sentimento que decida militar contra a correnteza. Você pode optar por seguir o trajeto deste rio, mas prevejo no fim uma queda d'água.
Não queremos feridos. Permita que os demais também se salvem. Alcance minha mão e diga aos outros, para que não se machuquem demais. Se eu estiver errada, ignore. Rasgue minhas palavras, e avise-me, sem se preocupar com meus pedaços. Hão de se recuperar. Você gosta de estar no comando, e desejo que segure firme as rédeas desta situação. A brevidade do tempo é imprevisível, não protele sua decisão. Jamais deixaria você escapar, é só tocar minha mão.
Caminho pelas ruas. Vejo paisagens, pessoas. Ouço canções, discursos, ruídos. Folheio folhas de um livro, aperto teclas, seguro uma caneta. Tento pensar e fazer qualquer coisa que não o envolva. Relaciono tudo a você. Vou a um show, assisto a um teatro, desejo sua companhia. Canto uma música, ignoro um alarme telefônico, lembro-me de sua voz. Leio algumas páginas, digito algumas frases, faço um desenho bobo, reflito sobre o que nos envolve. Num instante quero mandar uma mensagem, fazer uma ligação, implorar para que me encontre. Reprimo.
Se ver esta carta como um manifesto tímido, entregue-se. Venha até mim, abrace-me. Cantemos juntos, troquemos palavras sinceras, vislumbremos o nascer do sol. Se encontrar apenas palavras soando bonitas ou imaturas, faça o que eu deveria fazer, esqueça. Apague de sua memória os caminhos que o levam a mim, não abra as páginas, não ouça as canções. Não retribua ao carinho, contenha sua vontade de falar comigo.
Não quero lhe pertubar com minhas ideias. O que você sente (ainda) não me pertence, posso estar completamente equivocada em minhas interpretações. Se me apego a elas é só porque gosto delas. Continue na leveza de sua (in)decisão.

Com todo meu amor, sua Ana.

2 comentários:

  1. "É impossível reprimir
    O que acontece toda vez"
    Engenheiros do Hawaii
    (;

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  2. Muito bem, linda canção! "A verdade a ver navios" faixa 7, do terceiro álbum, "Ouça o que eu digo, não ouça ninguém".
    Conheço alguém que tem esse álbum como o preferido. Mas, aposto que não é o autor desse comentário.
    Nunca vi, quase não recebo comentários, mesmo assim recebo anônimos, ai ai. haha
    Sejam sempre bem vindos! [ou não]

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